É ambíguo o sentimento. Há um claro cuidado luxuoso mas, aqui e ali, uma vibe de pré- -fabricado, talvez naquele menu estilizado na parede.
Snobeiras à parte, achei o esquema de atendimento – pré-pedido ao balcão – anacrónico para o espaço. A carta é curta: meia dúzia de variedades, salgados incluídos. Três doces havia, três doces provei. Subi ao belo meeting room e aguardei o desfile.
O adjectivo que utilizaria para resumir estes doces seria curioso: sim, são bons, mas não chegaram a arrebatar-me o coração (com uma excepção, já lá vamos). Vale prová-los pelas sensações inusitadas. Vejamos a bola de Berlim (2,90€), uma explosão que rebenta à trinca. Impressionada, comecei a dissecar: de onde me chega este ácido? Do creme? Não, era um creme até bastante redondo, gorduroso, absolutamente exímio na textura. Seria a massa banhada num agudo xarope? Continuei a trincar, pedi uma segunda, obstinada. O meu palpite mais forte é que seria o açúcar polvilhado. Sujeitos a um qualquer bruxedo pasteleiro, explodiam os cristais em frescor atómico. Resignada à surpresa, passei ao jesuíta (2,90€), que apesar do nome, estava ali para subverter. Dois triângulos de compacta e tostada massa folhada, provavelmente constrangida no cozimento por um peso, para não crescer leve e livremente em altura e ganhar aquela densidade de sabor e textura. No meio, um creme guloso, nada a ver com o tradicional de ovo. Mas esqueçamos o creme, este jesuíta é sobre a massa. Veio-me logo um denso sabor a praliné, investiguei e lá estava, uma leve camada a dourar. O rei do banquete foi o pastel de nata (1,10€). Eu sei que muito se discute o melhor pastel de nata, mas não ignoramos este sublime: uma massa tostada sem medo, de uma crocância geológica, e depois o creme, uma lava doce – nem um ponto a mais de cozimento e, ainda assim, meticulosamente queimado à superfície, trazendo uma linda variação de sabores.
Estes doces estão dominados pela técnica, o que torna a prova muito excitante. Mas isto, na ausência de um trabalho de sabores que me tenha falado ao coração, não chegou para os tornar derradeiramente memoráveis e preferidos, com excepção do pastel de nata, merecedor de honras absolutas.