Não sou frequentadora assídua do site TripAdvisor em Lisboa. Muito menos comento ou vou lá procurar recomendações. Já o fiz noutras localidades, já correu bem, já correu mal. Mas para ser franca, não conheço a rapidez com que os restaurantes sobem ou descem de posição. Aqui há dias li uma notícia do Dinheiro Vivo que dava conta de o Pesqueiro 25, nova marisqueira de São Martinho do Porto, ter chegado ao primeiro lugar do ranking de 3700 restaurantes do TripAdvisor. E este tipo de distinções (como as dos melhores restaurantes do mundo, dos prémios disto e daquilo), já se sabe, dão sempre um falatório que acredito que traga muita gente ao restaurante.
Já andava com vontade de lá ir, e era a desculpa perfeita para perceber se entrava, tal como na tal plataforma, na categoria de “Excelente”. Ora antes de o fazer, voltei a ler a notícia, divulgada a 26 de Julho, e fui consultar o site, para ver que elogios eram esses – um crítico também faz os seus TPCs. E só posso dizer que nos primeiros dias de Agosto, uma semana depois da notícia, o Pesqueiro 25 já estava na 33ª posição do tal ranking de 3700 restaurantes avaliados em Lisboa. Ou seja, a distinção já não lhe assiste – cabe agora a um tal de Estaminé Art Food Drink.
Isto leva-me à conclusão 1: esta crítica era para ser feita ao melhor restaurante do Tripadvisor, mas para isso teria de ir à Graça e não ao Cais do Sodré.
O Pesqueiro 25, aberto desde Abril, é a segunda casa de uma marisqueira homónima que nasceu em São Martinho do Porto em Junho de 2016, em frente à Baía. Aqui a vista é a rua cor-de-rosa e, no meu TPC, descobri também que o dono se prepara para encerrar o restaurante-mãe. Informação que confirmei quando lá cheguei.
Conclusão 2: os acontecimentos passam a abrir quando se trata da história de vida (e morte?) do Pesqueiro 25.
Primeira pergunta assim que me sento para almoçar:
– Tem percebes?
– Não sei. O nosso fornecedor de marisco ainda não veio fazer as entregas. Mas sou capaz de ter.
– Mas se não forem frescos, não quero.
– São, são. O nosso marisco é todo fresco
Dois minutos depois:
– Tenho percebes.
Faço o pedido – que inclui percebes, claro –, sugerem-me uma tábua de marisco supernova (64,25€ para duas pessoas), digo que prefiro comer à dose, anotam tudo e, dois minutos depois, voltam à mesa.
– Olhe, afinal não temos percebes. Vou trazer-lhe uma tábua supernova com várias coisas e fica à minha responsabilidade.
Conclusão 3: é melhor não acreditar em tudo o que se diz à primeira no Pesqueiro 25.
A emenda, porém, acabou por ser melhor que o soneto. Em vez da tábua de marisco supernova com camarão de Moçambique, gambas al ajillo, sapateira e búzios que estavam a comer os vizinhos do lado – pode-me ter escapado qualquer coisa –, a minha tábua era um festim de marisco muito completo. Amêijoas à Bulhão Pato, das mais pequenas, excelentes, muito saborosas, num óptimo molho bem equilibrado de alho; camarão tigre grelhado no ponto, sem chegar a secar, bem carnudo e fresco; búzios agradáveis; idem os lagostins, bem fresquinhos; camarão de Moçambique também do bom, grande, fresco, para molhar numa boa maionese caseira; caranguejo real do Alasca saboroso; recheio de sapateira muito, muito bom, com carne e ovas do bicho, patas também frescas.
Conclusão 4: O marisco do Pesqueiro 25 é bom. Até me parece que saí privilegiada, porque não paguei nem mais um cêntimo por tal festival. Um ponto a favor do restaurante.
Quanto ao serviço, e apesar da simpatia de todos os empregados e do próprio dono que passou na mesa, foi algo irregular (“trago já, já a tábua de sobremesas para escolher” e só veio 15 minutos depois).
Conclusão 5: o serviço precisa de acertos – ou mais coordenação entre a equipa.
Quanto ao preço, o Pesqueiro 25 não nasceu para ser das marisqueiras baratas de Lisboa. Oitenta e seis euros por duas pessoas, com mariscada valente, uma sobremesa pequeníssima (3,25€), dois copos de vinho e dois cestos de pão torrado.
Conclusão 6: o Pesqueiro 25 é um sítio que chega às quatro estrelas pela qualidade da comida, pela oferta e pela simpatia de quem atende.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.