Tinham-me vendido um beergarden e eu fui. Levava o entusiasmo de quem vai beber canecas de cerveja de trigo e salsichas wurst de frasco (nada contra).
Mas apareceu outra coisa.
A carta de comidas era dessas de uma só página e parecia um poema: “pão com manteiga”, “anchovas cantábricas”, “azeitonas em picles”, “queijos com marmelada caseira” – só na abertura de coisas Simples.
Depois, a secção Petiscos e do Carvão. Mais literatura da boa, cada vez mais pós-moderna, cada vez mais arriscada: “sopa de carne goulash”, “dadinhos de tapioca”, “frango crocante”, “almôndegas de carne”, “funcho frito”, “cenouras e abóbora com labneh de maracujá”, “kafta”, “bife do acém”, “sardinhas”, “schnitzel com salada”.
Por esta altura, comecei a duvidar. Tínhamos País Basco, Brasil, Leste da Europa, Médio Oriente – como um best off de comidas deliciosas do mundo. Um sonho ou um pesadelo? Uma maravilha ou um desastre?
Faltava falar das bebidas. Sentámo-nos ao balcão, mesmo em frente às 24 torneiras de cervejas e sidras. Do outro lado, o empregado fez questão de nos dar a provar algumas opções. A selecção era mesmo uma selecção e não resultado de promoções de cervejeira.
Havia IPAs da Dois Corvos, pilsners alemãs, stouts belgas – várias belgas. Na carta, mais opções. Em garrafa, experimentou-se uma sidra basca, belíssima, seca, com ligeiras notas a couve no nariz, na boca fresca, com a acidez harmoniosa.
Em que é que isto iria resultar?
Vamos às notas da prova.
Era almoço e o pão surgiu como se tivesse sido cozido há duas horas. Pensei que fosse da casa, mas era da Pão do Beco, uma maravilha de untuosidade e sabor.
A manteiga, essa sim, era batida, a partir de natas, com a acidez característica. Clap, clap, clap.
Estava dado o mote e a partir daqui já sabíamos que estávamos perante um caso sério.
De repente, tínhamos o balcão cheio de coisas boas. Umas mais frescas, como a salada de batatas com cebolinho; outras mais pesadas, como o schnitzel, o panado de lombo de porco, fino, com manteiga de mostarda (talvez não faça sentido) e picles de rabanete; mas também o pretzel; mas também as anchovas em azeite; e, ainda, as bratwurst, salsichas caseiras, feitas de carne de cachaço de porco e de vaca, grelhadas no ponto, suculentas, sobre um molho demi-glacé guloso; a terminar, tarte basca, das melhores que tenho comido – e têm sido muitas, como sabem.
Por um almoço opíparo e especial, pagaram-se menos de 30 euros por pessoa, o que vai sendo raro por estes dias – e não fomos aos vinhos, onde há poucas coisas, mas selecionadas por alguém conhecedor e com o bom gosto de juntar nos espumantes o Vadio Solera com o pet nat italiano Montesecondo Ghazi.
Em síntese. O Pils, projecto de um russo, ex-bartender, fugido de São Petersburgo aquando do início da guerra, é um achado. O menu é uma mescla difícil de categorizar, mas a verdade é que faz sentido na categoria beergarden ou, senão, numa categoria que agora vou inventar: cervejaria internacional. Espaços bonitos, luminosos, floridos. Serviço simpático e atento.
De resto, há ainda tanto por explorar e conhecer, dos vinhos às cervejas, das almôndegas à costela de vaca grelhada.
Vão lá. Vão com respeito. Mostrem o vosso amor.