Não sei bem o que é comida de conforto, mas almôndegas é o tipo de coisa em que penso depois de andar uma semana em restaurantes da moda (Deus me poupe). Penso e só penso. É que encontrar das boas é difícil. Um prato popular até aos anos 80, acabaram liquidadas pela modernidade saudável e apressada e pelas cantinas de uma loja de mobiliário nórdico. Mas almôndegas é fixe. Bolinhas de carne com gordura e alho e ervas e muito molho por cima é fixe. Foi por isso com entusiasmo que um destes dias almocei numa casa da especialidade, aberta recentemente, ali no Regueirão dos Anjos. E quando digo da especialidade estou a falar de um menu monotemático. Só há almôndegas.
As hipóteses na carta são cinco: de novilho, frango, porco, veggie e a especial (esgotada no dia da visita). Há ainda quatro molhos possíveis à escolha (tomate, cogumelos, iogurte, pesto) e seis acompanhamentos (puré, polenta, pasta fresca, legumes assados, cuscuz, salada).
Gostei da veggie, recheada com grão, ervilha, caril e coentros. Casou bem com o molho fresco de iogurte. As de novilho seguiram-se no ranking das preferências, estas imersas numa tomatada com dose extra de mozarela por cima. Por fim as de porco, com pimento assado e cebola.
O menu de almoço custa 8,50€ e é um bom negócio. Vem com café, bebida (inclui limonada e chá) e sobremesa, que pode ser um brownie de chocolate ou um cheesecake de caramelo salgado (no dia em que lá fui foram substituídas por uma espécie de bavaroise de limão e outra de baba de camelo).
O que é que falta? Pormenores. Pormenores cruciais. Quando se tem uma casa monotemática, tem de ser tudo especial. E as almôndegas são razoáveis, mas falta-lhes gordura e tempero e algo... especial. Os acompanhamentos, por sua vez, são fraquinhos. Umas almôndegas têm de ter pelo menos um grande puré. Não foi o caso. Pior ainda a polenta e os legumes assados (na verdade, pareciam estufados). Falta também louça e serviço condizente com o espírito da almôndega: eu optaria por servi-las em tachinhos e não em pratos rasos indistintos e de megastore.
Na Lisboa de hoje, já não basta ter um bom conceito, decoração Ikea e quinquilharia vintage. Este Polpetta pode tornar-se numa coisa muito boa, mas precisa trabalhar o receituário e, como dizem os empresários (perdão, empreendedores) do sector, melhorar a experiência.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.