O anúncio do regresso do Guia Repsol a Portugal foi feito em Espanha no ano passado e desde então que a marca se tem vindo a mostrar por cá, com as inspecções aos restaurantes a acontecer desde o Verão.
O que é o Guia Repsol?
É um mapa e guia gastronómico que nasceu em Espanha em 1979, quando a Internet não era ainda uma realidade, com o intuito de apontar os melhores restaurantes no país. Começou por se chamar La Guía del Viajero, também conhecido como Guía Campsa. Numa realidade bem distante da actual, sem redes sociais, trends e influencers, não tardou a que o Guia se destacasse, especialmente por desbravar caminhos até então desconhecidos num país tão diverso, premiando os restaurantes que mais se destacavam. Entre 2000 e 2007, a marca chegou a apostar em Portugal com uma edição própria, embora sem o mediatismo de Espanha. Depois disso, o Guia Repsol para Espanha ainda passou a incluir Portugal, mas só até 2015. Dez anos depois, a Repsol volta a apostar em Portugal, desta vez da mesma forma que faz em Espanha, com uma gala e um guia digital exclusivos.
Quando é que acontece a gala e que prémios são atribuídos?
A primeira gala do Guia Repsol dedicada a Portugal está marcada já para o dia 7, segunda-feira, no Convento de São Francisco, em Santarém. Ao contrário do que costuma acontecer com grande parte das cerimónias de entrega de prémios, no dia da festa, os chefs e os restaurantes distinguidos saberão exactamente o que vão receber. É assim que acontece há anos em Espanha. O objectivo é não só aliviar a tensão e a pressão que estes momentos acarretam, como também criar um momento de partilha no meio. “Nós criamos comunidade. Queremos valorizar. Não queremos que as pessoas venham aqui e não recebam nada. Não queremos essa competição brutal. Quando a comunidade está unida, é muito mais potente e vai fazer muito mais diferença a nível internacional”, justificou María Ritter, directora do Guia Repsol, aquando do anúncio da entrada em Portugal. Por agora, sabe-se que serão 70 os restaurantes premiados com um, dois e três sóis (as distinções máximas). Haverá ainda quatro restaurantes a receber o sol sustentável, pelo seu compromisso com o meio ambiente. E mais 180 serão recomendados. Ou seja, no total, o Guia Repsol Portugal terá 250 restaurantes listados.
O que são os sóis?
Se a Michelin tem as estrelas, a Repsol tem os sóis. Comparações à parte, até porque os prémios entre os dois guias seguem parâmetros diferentes, os sóis são as distinções entregues pelo guia Repsol. Um sol é atribuído a um “restaurante que se recomenda aos amigos e ao qual se quer voltar um sem número de vezes”. Aqui, contam ainda os “produtos de qualidade e a cozinha honesta e coerente, que se mantém sempre em crescimento”. Além disso, “o serviço é atento e profissional e a garrafeira apresenta algumas surpresas”. No fundo, “justifica, e muito, que se faça um desvio a meio de uma viagem”. Já os dois sóis apontam uma “cozinha com maturidade, potencial e ambição para evoluir para um novo patamar”. “Os pratos revelam o domínio da técnica e a procura dos melhores ingredientes. O serviço deverá ser impecável, fluir com naturalidade e dedicação; enquanto a garrafeira deverá primar por uma boa selecção”, defende o guia. “É o restaurante que merece que se faça uma viagem longa para lá chegar.” Quanto aos três sóis, não se espera nada menos que exímio, “através de uma experiência única, sólida, com uma perfeita conjugação de sabores, ingredientes e ideias”. “Uma cozinha de proximidade, tanto dos produtores locais como das matérias-primas. Um serviço de sala exemplar e uma garrafeira invejável. É um 10 em 10 de onde saímos prontos para regressar.”
Se um restaurante tem uma estrela Michelin significa que vai receber um sol?
Não necessariamente. Em Espanha, não faltam exemplos contrários. Há restaurantes que não têm estrelas, mas que têm sóis. Este ano, por exemplo, Pedro Sánchez, do Bagá, em Jaén, e Susi Díaz, do La Finca, em Alacant, foram os premiados com três sóis e no Guia Michelin ambos têm uma estrela. Mas vejamos os números: actualmente, o Guia Repsol em Espanha conta com 44 restaurantes com três sóis, 176 com dois sóis e 569 com um sol, quando existem apenas 15 restaurantes com três estrelas, 32 com duas e 224 com uma. Em Portugal, não existe até hoje um restaurante com três estrelas, mas já se sabe que mais do que um receberá três sóis.
Quem é que decide quem recebe os sóis?
Os prémios são resultado de visitas anónimas aos restaurantes por uma equipa de 20 inspectores de diferentes zonas do país. A confiar no que foi comunicado pela Repsol, os inspectores são portugueses, acompanham o meio gastronómico, mas não trabalham nele. Podem ser advogados, designers, jornalistas, professores, engenheiros, músicos, economistas, psicólogos, médicos... Em comum partilham o gosto por comer e, agora também, os critérios de avaliação definidos.
Que critérios são esses?
Para que o sistema de avaliação fosse rigoroso, a Repsol trabalhou com o Basque Culinary Center, a universidade de ciências gastronómicas em San Sebastián, uma das mais importantes no mundo. Desse encontro, saíram regras claras que permitem a cada inspector avaliar a experiência, desde o momento em que faz a reserva até à saída do restaurante. Além da comida e do serviço, são tidos em conta factores como a música ambiente (ou o ruído), a iluminação, a decoração e até o perfil nas redes sociais. Ou seja, a ideia é que seja avaliado tudo aquilo que um cliente normal costume valorizar.
A chegada do Guia Repsol tem impacto na gastronomia portuguesa?
O facto de a Repsol decidir apostar no nosso país, já depois de a Michelin o ter feito também, com o apoio do Turismo de Portugal, é a prova de que Portugal vive um momento de expansão na gastronomia – e nunca é demais reconhecê-lo. Nunca tivemos tantos e tão bons restaurantes. Estando o Guia Repsol super estabelecido em Espanha, é expectável que traga novos clientes.
É possível acompanhar a gala?
A cerimónia de entrega dos prémios é restrita a convidados, mas é possível acompanhar a transmissão em directo no YouTube do Guia Repsol (https://www.youtube.com/user/guiarepsol).
Há alguma actividade aberta ao público?
Sim. Na verdade, Santarém entra em festa logo na sexta-feira, dia 4 de Abril. A partir das 18.00, o arraial está montado no Largo de Marvila onde será possível provar três pratos conhecidos da região: nacos de toiro avinhados com magusto, do restaurante O Quinzena; torricado de bacalhau, da Casa dos Torricados; e cabidela de galo, preparada em colaboração com o projecto In_Cooking da Associação Re.INNSERIR, sediada no Hospital de Santarém, e a Vivid Farms. Às 21.00, há um concerto gratuito dos Lucky Duckies e logo depois sobe ao palco o DJ Vassalo. Já no dia seguinte, a partir das 15.00, estão planeadas para a Praça Sá da Bandeira actividades gratuitas, entre as quais jogos tradicionais e uma roleta com prémios. Às 19.00, o chef Rodrigo Castelo (Ó Balcão) servirá “Javali na Pombinha” – não nos enganámos a escrever, pombinha é um pão doce de Santarém que tem a forma de pomba. Neste dia, o concerto é de Buba Espinho (21.30) e dança-se até tarde com o DJ Fábio Machado.