Se quiser ir ao Japão ver as cerejeiras em flor, mas não tiver 2000 euros para os bilhetes de avião, a minha sugestão é que vá ao número 43 da Rua de São José. Não há árvores lá dentro, nem é Primavera, mas há quadros alusivos, um bom ramen e há Asuka Watanabe, que é das pessoas mais japonesas que se pode encontrar em Lisboa.
A sensação de lá entrar é próxima de uma dessas lojas de comidas em Tóquio que vemos nos filmes. A porta está fechada, mas assim que alguém irrompe, a anfitriã atravessa as cortinas “noren” que separam a cozinha da sala e vem ao seu encontro. Os habitués têm direito a extra-carinho e extra-sorrisos, mas é toda a gente tratada como amigos de longa data.
Toda a gente são seis pessoas. É essa a lotação máxima do espaço, sendo que, quando esgotado, fica tudo juntinho como no metro de Shinjuku. Estamos a falar de um sítio que não terá dez metros quadrados, mas onde tudo foi arrumado segundo o manual de Marie Kondo.
É obra e é bom. Asuka Watanabe faz ali tudo de raiz, dos caldos aos noodles. São quatro caldos diferentes, um à base de ossos de porco (para o tonkotsu ramen), denso e leitoso, outro translúcido de frango (para o shio ramen), outro cremoso de frango (para o tori paitan e para o miso ramen), e um vegetariano, com miso e cogumelos shitake.
A receita das sopas, por enquanto, não implica camadas, como é dos livros (não leva o chamado tare, por exemplo) – o que simplifica as coisas, incluindo a sopa.
De resto, os noodles são finíssimos e podiam estar só ligeiramente mais elásticos e al dente. Nas provas, a carne de barriga de porco (chashu) mostrou-se no estilo do Ichiran, das mais célebres lojas de ramen de Tóquio, sem a gordura do rebordo. Aconselho que se opte pela variante kuro, com óleo de alho negro, se adicione uma colher do molho picante caseiro ao caldo marcadamente porcino, e se peça o ovo ajitama à parte (extra). Os toppings são sementes de sésamo, pickles de gengibre e ceboleto.
Nos ramens com caldo à base de frango, o ovo ajitama (cozinhado no ponto) pode vir de série, sempre com chashu. Em alternativa, pode escolher-se alga nori ou milho ou até só dose extra de chashu.
Uma nota ainda para as entradas. Provaram-se umas magníficas gyozas de porco e vegetais, bem caramelizadas; e o clássico feijão de soja edamame, temperado de sal na perfeição.
Quanto a sobremesas, Asuka Watanabe garante que haverá uns mochi em breve, mas por enquanto temos de nos contentar com um café expresso de bom nível.
Contas feitas, vale muito a pena este bocadinho de Japão, mesmo ao lado da Avenida da Liberdade.
Poupança: 1980€.