1. Ramen Joe
    Francisco Romão Pereira
  2. Ramen Joe
    Francisco Romão Pereira
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Crítica

Ramen Joe

4/5 estrelas

Um dos ramens mais bem classificados da cidade gerou desconfianças a Alfredo Lacerda, coisa não rara. Mas a prova desmentiu-o.

Alfredo Lacerda
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A Time Out diz

Ia sem grandes expectativas. Apesar das boas reviews, espreitara a conta de Instagram e percebera que o entusiasmo podia ser mais por causa do folclore e da hospitalidade do que do ramen. 

Não me compreendam mal. Consigo gostar de folclore, desde que não seja feito de plastificados “étnicos”. E adoro hospitalidade, desde que ela não venha em forma de “arigato” com sotaque. 

Foi isso que, de início, senti nas redes sociais com o Ramen Joe, rapaziada efusiva e proactiva na Internet, a piscar o olho à estética nipónica "manga", como é de moda.  

Senti mal, na verdade.

A família de Joe, o cozinheiro-pai, pareceu-me encantadora. Filhos, mulher, tudo gente bem disposta também ao vivo (e não apenas nas stories).

No final da refeição, um dos filhos, apesar da sala estar cheia, teve presença de espírito para me contar que são de origem nepalesa-japonesa. Joe é o lado japonês e a mãe o lado nepalês, sendo que a técnica foi trazida de Tóquio, mais concretamente do restaurante Taishouken. 

Fui confirmar e o Taishouken existe e é especializado em ramen. Shotaro, o homem por trás do Ramen Guide Japan, grande conhecedor do que acontece dentro de uma tigela fumegante de caldos de ossos, considera-o um clássico e um dos seus preferidos, desde criança. 

Boa escola existia no Ramen Joe, restava saber se a prática correspondia ao currículo. 

A verdade é que são bem bons os ramens do Ramen Joe. São ramens a sério, feitos com caldos a sério, todos distintos – e só isso já é um privilégio que devemos agradecer. 

Como sabeis, fazer caldo a sério de ramen é uma odisseia que costuma sugar a vida às pessoas. São horas a cozer ossos, ora de porco, ora de frango, a cortar legumes, a espremer colagénio, a filtrar panelões pesados como paletes de tijolos. 

De resto, o Ramen Joe ainda faz a sua própria massa, os noodles – o que é outra aventura à parte: são precisas duas ou três horas diárias só para estender e cortar a massa, em média. E ainda faltam os toppings, tudo picadinho – ceboleto, algas, ovos Ajitama –, e a carne, sobretudo o chasu, barriga de porco enrolada e cozinhada durante mais umas quatro horas, no forno. 

Palmas para quem faz ramen, assim. E fá-lo bem. 

Pediram-se quatro ramens distintos, todos clássicos: miso, shio, tonkotsu e o especial da casa. 

Nos ramen de caldo translúcido (chintan), esteve impecável o shoyu, elegante mas cheio de sabor, com notas evidentes a canja de frango (GTI Turbo) e gengibre. Nos ramens de caldo espesso (paitan), intenso o tonkotsu (caldo de ossos de porco), como seria de esperar, bem como o especial da casa (caldo de porco e frango), maior em tudo, inclusive no chasu. Já o miso ramen, ali a meio da tabela de intensidade, sabia ao que dizem os livros, pasta de miso e caldo de frango, tudo certo. 

Nota menos só para o bambu, de conserva aditivada, e para a qualidade da alga nori, detalhes que nada puderam contra aquilo que nos faz mais feliz no ramen: o caldo e os noodles. 

Dos caldos, já falei mas os noodles estavam também excelentes, perfeitos na sua elasticidade e cozedura, firmes mas flexíveis, saborosíssimos. 

Quanto a sobremesas, foi-se pela única que nos pareceu ultrapassar os mochi de semblante industrial: o cheesecake de matcha. Era de facto de cheese e tinha matcha, mas a quantidade exígua da dita e a bola de gelado de coloração amorangada que a acolitava ficaram aquém do preço (sete euros). 

Ora, nada de relevante, porque na verdade ninguém vai a uma casa de ramen comer cheesecake. 

Em síntese. O Ramen Joe é uma excelente opção para quem quer um ramen a sério, por menos de 15€. Tem umami a rodos, tem massa boa, e, não menos importante, chega à mesa a fumegar, quentíssimo, como só os melhores.

Sorvam muito, por favor, mas com estilo. 

PS: já depois da visita, soube que o Ramen Joe abriu também no Campo Pequeno. Esta crítica refere-se apenas à casa-mãe, no Rato.

Detalhes

Endereço
Rua do Sol ao Rato 3
Lisboa
Preço
15-20€
Horário
Seg-Dom 12.00-23.00
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