Eis a minha sugestão para gastar 40€ e ficar feliz. Arranje motivos para festejar, ligue a três amigos e marque mesa na Sala de Corte. Uma vez sentado, peça um t-bone ou um chuletón com cerca de 900 gramas para dividir, mais cinco acompanhamentos – e uma garrafa de um tinto, que pode ser o Cabernet Sauvignon da Adega Mãe.
Enquanto espera, tem algumas gulodices com que se entreter, sejam os croquetes fritos na hora para molhar em mostarda Dijon, seja o foie gras com ameixa de Elvas e uma maravilhosa compota de cebola roxa. No fim, há sobremesas clássicas ou modernas, da teatral Pavlova à avelã em várias formas e texturas, não esquecendo a tarte de merengue com lemon curd, clássico residente.
Depois de explicar isto ao telefone, se algum dos seus amigos responder que 40€ é demasiado, explique-lhe o seguinte.
1. A Sala de Corte é um dos restaurantes mais bonitos de Lisboa. Sendo uma steakhouse, tem um ambiente tranquilo de madeiras escuras e iluminação baixa. A cozinha aberta é ela própria um quadro magnífico onde cada elemento se movimenta com elegância ao longo do balcão comprido. À entrada está a câmara de maturação das carnes, uma natureza morta e bem morta (mínimo de maturação de 15 dias). Também a amesentação foi cuidada ao pormenor, da louça inglesa às facas da Laguiole, passando por um serviço de copos acima da média.
2. Por falar nisso, aqui há quem saiba de vinho – mais importante: há quem saiba servir vinho. Se pedir um tinto da casta Baga, simples, para acompanhar um T-Bone com 30 dias de maturação, o escanção vai-lhe propor uma alternativa com mais complexidade, mais estrutura. Mas fá-lo-á com o cuidado de sugerir algo na mesma gama, sem a matreirice recorrente de inflacionar o preço.
3. O serviço de sala é, aliás, todo ele competente, dando abada a casas de Lisboa com ambição – e factura – Michelin. O chefe de sala sabe ler os clientes, e os empregados são vários e atentos: não precisará de esbracejar para que se aproximem. Tempos de serviço perfeitos, ritmo perfeito – mesmo estando o restaurante praticamente cheio, como aconteceu num almoço recente.
4. Ah, claro, e a comida é muito boa. Diga ao seu amigo – porventura capaz de queimar 25 euros sem se engasgar por um bife do lombo farinhento com batatas fritas congeladas na cervejaria da esquina lá do bairro – o seguinte. Não é só a carne que é boa e cozinhada no ponto. Cada um dos outros pratinhos, sejam as entradas ou as sobremesas, mas sobretudo os acompanhamentos, são dignos de figurar em fine dinings europeus. Dos bons.
5. Exemplos. O Brás de cogumelos e espargos verdes não tem rival entre os Brás que não são de bacalhau. O puré de trufa nem parece um clichê de 2010 com óleo enjoativo da dita: cai aqui muito bem. Batatas fritas? De dupla fritura, palitos grossos, estaladiços por fora, fofos por dentro – podem ir a Paris ou a Nova Iorque que não encontram melhor. Quanto ao esparregado é verde e sabe a verde – como se quer. Acresce que tudo chega à mesa quentinho, no ponto perfeito e ao mesmo tempo da carne.
A única coisa que me chateia é a ausência de carne de raças autóctones portuguesas, algumas tão especiais. Mas, lá está, nesse caso a conta deveria chegar bem acima dos 40€ – e a conversa talvez fosse outra. A minha e a dos meus amigos.
Em síntese. A Sala de Corte é desde a nascença um dos grandes restaurantes de Lisboa – contando com um chef competentíssimo, Luís Gaspar, capaz de muitas e sofisticadas maravilhas culinárias. Impressiona que, numa altura em que muita gente começou a baixar a fasquia, esta mesa carnívora do portefólio do grupo Plateform pareça não ter comprometido em nada a exigência e a qualidade.
Um grande restaurante. Antes e durante a pandemia. Em qualquer parte do mundo.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.