Uma das frases preferidas das pessoas viajadas é “adoro cozinha tailandesa”, declaração que frequentemente vem com a adenda “Infelizmente, não há um grande restaurante tailandês em Lisboa”.
Estão certos os nossos gonçalos-cadilhes, mas pode ser que lhes tenha escapado uma novidade. Encafuado nas traseiras do Centro Comercial Roma, abriu há um ano este Sala Thai. Foi lá que tive a melhor experiência de comida do velho Sião sem antes ter feito check in no aeroporto da Portela.
O restaurante é de facto uma sala e tem de facto o habitual folclore dos étnicos finórios. Estão lá os retratos dos reis, a bandeirinha, estatuária, máscaras. Mas o que marca o espaço e a pessoa são as colunas em madeira no meio das mesas e os tectos abobadados, cenário estranho e encantatório, contrastante com a arquitectura rectilínea e uniforme do bairro de Alvalade.
O jantar começou com uns pastéis de peixe (thod man pla, 6€), pequenos bolinhos achatados, fofos, levemente picantes e alimonados. Seguiu-se uma sopa tom yam goong (6€), o prato tailandês mais conhecido no estrangeiro – e por boas razões. Se tivesse de fazer um top das melhores sopas do mundo, esta estaria certamente entre as cinco primeiras. O caldo é um exercício de equilíbrio entre picante e acidez. Cada colherada lembra um pomar de citrinos (contribui para isso sobretudo a erva príncipe e a folha de lima kafir), e as gambas (três, grandes, descascadas e rijinhas) e os cogumelos dão elegância e densidade.
Grande abertura, tudo certo, excelente aquecimento para o prato principal. E que prato.
A sugestão do dia era o caril vermelho de garoupa (15€). O caril tailandês destaca-se das cariladas enatadas indiano-nepalesas que se servem por aí por usar menos especiarias e mais ervas aromáticas, bem como pela base de pasta de camarão. Há, contudo, tantas versões quantas os 68 milhões de habitantes do país, sendo certo que os do Norte carregam na malagueta.
É de lá que vem a chef Lamphee Gomes, que podemos ver à frente do fogão (a cozinha é aberta), mas ninguém pega fogo com a sua comida. No caso, talvez por não ter tanta pasta de malagueta, ou por causa do açafrão fresco, o resultado do caril é mais laranja do que vermelho e mais líquido do que pastoso. Nada que desmereça o conjunto, cheio de nuances doces, salgadas, frutadas, com as lâminas de coco e o manjericão tailandês a perfumarem tudo. Uma nota para o peixe: muito fresco, imerso no caril caldoso em tranches altas e suculentas.
Provaram-se ainda o pato com caril vermelho e um óptimo arroz de cogumelos. E o caril paneng de frango com amendoim (12,5€), que me pareceu cozinhado em leite de coco – ambos bem bons, com a ressalva de não se conseguir evitar o drama alimentar universal de o frango ser como são os frangos contemporâneos, mesmo se “do campo”: bocados enfarinhados e sensaborões de seres vivos que nunca viveram.
Final em grande para as duas sobremesas mais populares da casa. O sagu (5€), tapioca em leite de coco e manga fatiada ao lado (de boa qualidade), uma maravilha tão simples. E o arroz glutinoso com coco e manga, este aquecido com açúcar amarelo (muito) e servido quente (6,5€).
Esta Sala Thai é um bom tailandês e tem esta vantagem: embora fique na zona de Roma, são dois minutos da estação de metro até lá e não obriga a carregar a Samsonite nem a vestir o colete Coronel Tapioca. Se levar uns 25/30 euros faz a festa.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.