Não estava viva para o poder dizer com toda a propriedade, mas pelos relatos que me chegam e pelas fotografias que vi, acredito que entrar no Sancho, numa transversal à Avenida da Liberdade, em 2017, é igual e entrar num restaurante tradicional de Lisboa nos anos 60. Madeiras escuras, grandes cadeirões de pele, mesas com toalha e saiote, um bar completo à entrada, duas salas (uma delas para fumadores, claro), empregados fardados com colete, sempre muitos, muito rápidos no serviço e simpáticos e engraçados no trato. O sítio tresanda a influências galegas, que são confirmadas por um dos empregados, e de certa forma ir lá é ter aquela experiência de comer pratos à antiga (nem todos, mas muitos), do bom serviço – “não escolha o bacalhau à lagareiro, menina, vá antes para o do forno, mais molhadinho” – e que já é tão raro nos dias que correm. Depois de duas refeições, fiquei com uma mesa cativa e quando chego sou recebida como se fosse a melhor cliente do estabelecimento.
Ora o Sancho não é barato, os pratos principais andam ali entre os 14 e os 19€, valores que não fogem assim tanto aos dos pratos do dia, quase sempre a recomendação dos empregados e às vezes em exposição num réchaud à entrada. Foi assim que me perdi de amores por uma garoupa no forno (17,50€), com ar de comida de casa dos avós, uma dose generosa do peixe, saboroso, coberto por um molho de azeite, alho e cebola, com batatinhas assadas. Também já lá comi uns joaquinzinhos a sério, estaladiços, polme firme, com arroz de tomate bem molhado (13,50€); e umas óptimas iscas de porco (12,50€), muito finas, num molho ligeiramente espesso, com fatias de presunto de qualidade em cima, acompanhadas por batatas fritas às rodelas, daquelas com alguma espessura, boas para o prato em questão.
No início vem sempre bom pão, ora um papo-seco à moda antiga (em bom), ora as fatias de pão de centeio da Panificação de São Roque, e podem vir uns salgadinhos – os pastéis de bacalhau, leves, bem fritos, são uma das opções – e as sopas, caseiras; no final, como manda a tradição, vem o carrinho de sobremesas. E que carrinho! Óptima a encharcada, divinal a tarte de limão merengada. Hei-de lá voltar para ver o carrinho rolar e escolher outro doce. E não só, e não só.
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