Esta rubrica segue a regra de só fazer a crítica de um restaurante três meses depois de ele inaugurar. A ideia é preservar o soft opening, dar tempo à casa para afinar as coisas – uma regra discutível que, em todo o caso, beneficiou este Soi.
Calhou lá ir na primeira semana em que o restaurante abriu, almoço rápido e frugal, e fiquei com a ideia de que estávamos perante a receita habitual para o asiático pós-moderno: soja daqui, erva-príncipe dali, molhos de supermercado chinês, pitada de molho vietnamita industrial, pad thais, agridoces, caldos apressados, decoração modernaça, néons, bambus e woks flamejantes.
Voltei uns meses depois, novamente ao almoço, desta vez com tempo e estômago – e a comida pareceu-me mais consistente e original. A carta mantinha tiques de cozinha de fusão, com abundância de chilis e pastéis açucarados, mas aconteceu que tudo o que veio para a mesa estava uns furos acima da concorrência. Mais criatividade, melhor produto, melhor técnica.
As asinhas de frango coreanas abriram a refeição e bem. Pequeníssimas, a pele simultaneamente pastosa e estaladiça, desapareceram como milho na capoeira. O mesmo destino tiveram os feijões edamame, berlindes ovalados ligeiramente cozidos, temperados com sal e flocos de chili.
Ainda nas entradas, um óptimo indício no que respeita à gestão da malagueta, com o ceviche de camarão e papaia verde. Aqui, não há picantinho. Normalmente, quando a carta anuncia nível 1 de picante, sabemos que podemos servir o prato a uma criança de três anos com o rabinho assado. Mas no Soi não. O nível 1 é uma coisa capaz de aquecer um adulto; e o nível 2 pode até curar uma gripe.
É o caso da sopa tailandesa tom yum goong, o caldo rico em aromas frescos e cítricos, a folha de lima kafir muito presente, equilibrada com malaguetas tailandesas, e diversos tesourinhos que pescávamos do caldo de leite de coco, como cogumelos e camarões grandes semidespidos.
Menos interessante o pad thai de camarão, muito doce e com aquela coisa irritante de os ingredientes (camarão, ovo, rebentos de soja...) estarem todos juntos no fundo do prato. A terminar, carne de vaca grelhada, servida com os molhos da casa à parte. O corte tenro, eventualmente vazia de Angus, mas curto para os 15 euros pedidos. Perguntou-se se os molhos eram industriais e o empregado respondeu sem pestanejar que não e eu desmenti-o sem pestanejar que sim: ninguém faz molho hoisin caseiro assim.
Para sobremesa, houve uma “panna cotta cheesecake” que era mais panna cotta que cheesecake (e ainda bem) e brownie de chocolate e matcha, igualmente interessante.
O Soi é uma boa opção para quem procura frescura e picante, notas de Tailândia e Vietname. E a prova de que os foodies que querem ser sempre os primeiros a experimentar um novo restaurante raramente ganham com isso.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.