O Sr. Lisboa é uma petisqueira moderna, nas traseiras da Avenida da Liberdade, Rua de São José, a esforçar-se por fazer diferente. Digo isto porque quem está à frente é gente nova, quem serve é gente nova e quem está na cozinha, do que se avista lá para dentro, é gente nova – mas bem-disposta, note-se.
O esforço começa logo com a decoração, que traz a cozinha para a sala, com frigideiras penduradas no tecto, mesas feitas com tampos de vidro em cima de grelhas de fogão, e segue pela ementa de petiscos. Logo no couvert vem um molho de Bulhão Pato só para molhar o pão, com dentes de alho, azeite de qualidade média, coentros e até limão para espremer. Bem bom. Depois, uns croquetes de Bacalhau à Brás, a lembrar um spring roll gigante, sem serem panados, mas fritos no seu todo, como se realmente se tivesse pegado num bacalhau à Brás, feito um charuto e fritado. E nem as azeitonas faltaram, numa maionese ao lado e numa terra em cima. Bons. Boa também a sopa de tomate com ovos desfeitos lá dentro; bom o polvo à lagareiro, dois tentáculos bem tenros, cozinhados no ponto, mas, novamente, a merecer um azeite de melhor qualidade; muito bons os lombos de novilho com queijo da Serra derretido em cima, dois nacos grandes, mal passados, com bom sabor, o queijo a ser cortado por bagos de pimenta rosa, em cima de folhagem verde (em excesso); boa ainda a Maria Bolacha, uma mousse com sabor a bolo de bolacha – parece que pegaram nas bolachas, natas, açúcar e café, bateram tudo até ficar cremoso e serviram. O único assim-assim foi um escondidinho de legumes à Brás, com ovo cru a misturar- -se na batata palha e legumes em juliana, a criar um conjunto sensaborão.
Nota-se, por tudo – como uma terra de azeitonas pretas com os croquetes de bacalhau, pelo Bulhão Pato do couvert, os microgreens em muitos dos pratos, o empratamento dos petiscos – que há aqui olho de escola de cozinha. Os preços estão ajustados à realidade actual, 20 e poucos euros por pessoa para sair cheio, e o Sr. Lisboa sabe receber. Chega às quatro estrelas? Chega sim, senhor (Lisboa).
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.