Crítica
A expectativa era grande. Luís Barradas, autor da nova carta do Tago’s, é dos portugueses que mais sabem sobre cozinha japonesa. Andou pelo saudoso Assuka, trabalhou numa empresa de importação de produtos japoneses de topo, foi director de investigação e desenvolvimento dos restaurantes do grupo Sea Me. À parte o currículo, é reconhecido por valorizar o produto e por ser uma pessoa que leva a sua profissão a sério.
Depois há o sítio. Passando a Faculdade de Ciências e Tecnologias, no Monte da Caparica, seguimos a tabuleta que diz Costas de Cão e metemos por um caminho campestre. Quando a estrada termina estamos rodeados de bosque, o Tejo lá em baixo, a urbe em frente, do lado direito a Ponte 25 de Abril, à esquerda Belém, ao fundo a Serra de Sintra. Para quem gosta de surpresas românticas, o sítio é perfeito, não faltando inclusive camas para se fazer a digestão ou mais.
O restaurante fica na Quinta Tagus, um pequeno hotel mesmo sobre o rio Tejo. A estadia vende-se como um luxo de milionário (por estes dias a diária anda pelos 200 euros), onde não faltam heliporto e cavalos. Lá dentro, ligando directamente ao restaurante, há um salão com mesa de bilhar e literatura nas estantes.
Sobre a comida. A carta e os empregados sugerem dois menus de degustação, um de cozinha japonesa, outro de cozinha portuguesa, cada um por 60 euros. Os pratos dos menus podem, todavia, ser pedidos individualmente e foi isso que fizemos. Vieram primeiro manteigas trabalhadas, uma com especiarias, outra com satay e outra com sésamo, tudo já visto e comido, sempre sem grande entusiasmo, tanto mais que no caso estavam geladas.
A primeira entrada apareceu meia hora depois de nos termos sentado e não fosse Lisboa a anoitecer e teria sido demasiado. Sabendo-se que tudo ia ser partilhado, a ordem dos pratos também não fez sentido. Quando o sashimi chegou já tínhamos todos comido croquetes de morcela (muitos e grandes) e camarões ao alhinho – duas coisas que não deslumbraram e deixaram as papilas a gritar.
Uma pena, porque o sashimi era de topo e merecia o palato limpo: salmonete braseado com flor de sal, fataça de mar, robalo, atum fresquíssimo, vieiras, wasabi de qualidade, o molho de soja muito suave (demasiado?), aqui numa mistura caseira com dashi e mirin.
Na sala esteve quase sempre um empregado muito simpático e disponível, mas ainda assim distraído. Houve louça usada na mesa até ao fim da refeição, só sendo apanhada pelo chef de sala, mais experiente e à altura da ambição do restaurante. Compensou o serviço a seguir, sugerindo e pondo em prática a divisão dos pratos principais em pequenas doses servidas individualmente.
Bem bom o pregado, a pele estaladiça, com legumes caramelizados e crocantes, cheios de sabor. Uma desilusão a costeleta maturada: já fatiada, veio seca e sem as notas típicas da maturação, com batata frita em gomos largos e compridos, pena serem farinhentos, e um óptimo chutney de tomate que não chegou para salvar a honra.
Nas sobremesas, destaque para o foundant de chá verde com gelado de baunilha e para uma magnífica panacota.
Carta de vinhos curta mas bem seleccionada.
Tudo dado e baralhado, há coisas boas e outras muito boas neste Tago’s, mas o chef residente, o posicionamento e os preços do restaurante (facilmente se chega aos 50€ por cabeça) exigiriam menos erros na cozinha e outros cuidados na sala. A começar pela iluminação (junto às janelas está muito escuro, mal se vê a comida), a acabar na decoração, passando por afinações no serviço e na comida.
Apesar do heliporto, nunca subimos ao céu.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.