1. Tantura
    Fotografia: Arlindo Camacho
  2. Tantura
    ©Arlindo Camacho
  3. Tantura
    Fotografia: Arlindo Camacho
  4. Tantura
    Fotografia: Arlindo Camacho
  5. Tantura
    Fotografia: Arlindo Camacho

Crítica

Tantura

4/5 estrelas
  • Restaurantes | Mediterrâneo
  • preço 2 de 4
  • Bairro Alto
  • Recomendado
Alfredo Lacerda
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A Time Out diz

É o nome de uma pequena aldeia a norte de Telavive e de um restaurante israelita no Bairro Alto. Elad e Itamar são os responsáveis por uma cozinha que junta influências do Norte de África, Médio Oriente e Sul da Europa, mas que não se esgota no hummus. Têm, por exemplo, uma secção da carta dedicada à shakshuka (o típico prato comido pelos israelitas de manhã), têm uma série de pitas, com pão caseiro feito em forno de lenha e vários petiscos. Marque mesa que a casa aberta no Verão de 2017 tornou-se popular.

Crítica  

Não punha os pés no bairro alto há quatro anos, depois de um barrete num restaurante típico e posterior passeio pela Rua da Atalaia que me deixou o calçado salpicado de esparguete à bolonhesa vomitado por uma miúda de 15 anos como se fosse água a jorrar de um leão de fontanário.

Desta vez fui ao almoço, feriado, altura em que a maltosa costuma estar a ressacar, e mesmo assim não consegui evitar os habituais despojos da boémia adolescente. No ar ainda cheirava a fermentado de álcool e urina e íamos numa gincana pela calçada a contornar latas e copos de plástico de meio litro.

Felizmente, o Tantura não é ao ar livre e lá dentro só havia aromas bons e coisas bonitas. Era com estes lugares que se podia ter feito o Bairro moderno, pensei, enquanto apreciava o mobiliário desconcertado de feira da ladra e a cozinha aberta, pequena e mimosa, forno a lenha a um canto, cebolas entrançadas pendendo do tecto e tachos de ferro pendurados na parede.

Tudo muito agradável, e nisso se incluiu o couvert, que logo aterrou na mesa e logo desapareceu da mesa. Na cesta de pão, um pita assado no forno a lenha e pão de cerveja, ambos de produção caseira e artesanal. Para barrar, três pastas muito boas: coentros e malagueta, cenoura e alho, e o clássico tahini, feito à base de pasta de sésamo torrado, com amargos carregados (0,45€).

No intróito coube também uma tacinha de azeitonas galegas (1,50€) temperadas de azeite, alho e sementes de coentros.

O que se seguiu manteve a tradição mediterrânica e árabe típica da zona ocidental de Israel. Embora haja ascendência asquenaze (judeus imigrados da Europa Central e Oriental) num dos donos, a carta tem mais influências do Levante e prova que a cozinha une os povos, mesmo os desavindos.

A makluba (11,90€) é servida um pouco por todo o Médio Oriente, sobretudo na Jordânia. Prato do dia, era um guisado de beringela, couve-flor e arroz, ligado por especiarias. Costuma ser enformada como um bolo de fatia, tudo ligado, mas aqui surgiu desmanchada. Seguiu-se o hummus (7,25€), porventura o mais popular dos cozinhados da região. Os israeliltas sofisticaram-no com adornos e aqui aparecem seis variedades (pena faltar a de pinhões). Escolhemos a que trazia às costas beringela e ovo Benedict: o puré com uma textura suave e leve, outra vez os amargos do tahini presentes, sem limão a mais ou a menos, e bocados de grão inteiros; no topo, pimentão, um fio de azeite e rodelas da beringela ao lado do ovo: a ideia é furar a gema e deixá-la espalhar-se e molhar tudo à volta.

Eis então que chegou o pequeno-almoço.

Exactamente, o pequeno-almoço. Em Israel, a shakshuka costuma ser comida ao acordar e tem na base um refogado
 com pimentos adocicados 
e tomate fresco. No topo são colocados ovos estrelados (que aqui pareciam escalfados) e a pessoa fica dividida sobre onde molhar o pão: se no abundante molho agridoce do guisado, se na gema cremosa. A versão que escolhemos (9,25€) trazia carne picada mas há também com almôndegas, vegetais grelhados e de espinafres.

A terminar, seguimos as recomendações para os doces. O malabi (4€), servido numa flute, era um pudim de leite com xarope de framboesa, no topo amendoim e coco, a perfumar tudo água de rosas: fresco, elegante, cheio de contrastes bons, sem excesso de açúcar.
 O mesmo não se podia dizer da halva (4,25€), torrões moles de açúcar temperado, com pasta de sésamo e pistáchios.

Em síntese. Estamos em território mediterrâneo, cozinha de azeite, legumes e saladas, tudo fresco e delicado. Gostava de um pouco menos de contenção nas especiarias; e de mais produtos autóctones israelitas, como vinhos e queijos brancos. Dito isto, pagar 15 euros por uma visita a Telavive, com passagem pelo pitoresco (e ligeiramente nauseabundo) Bairro Alto, vale muito a pena. Faça-se à sétima colina. Dificilmente vai encontrar melhor comida do Médio Oriente em Lisboa.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Detalhes

Endereço
Rua do Trombeta, 1 D
Lisboa
1200-471
Preço
Até 20€
Horário
Ter-Dom 18.30-00.00
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