1. Tasca Pete
    Francisco Romão Pereira
  2. Tasca Pete
    Francisco Romão Pereira Lasanha com romanesco, cogumelos e queijo cabra
  3. Tasca Pete
    Francisco Romão Pereira Pargo curado com rabanete
  4. Tasca Pete
    Francisco Romão Pereira Terrina de batata
  5. Tasca Pete
    Francisco Romão Pereira
  6. Tasca Pete
    Francisco Romão Pereira

Crítica

Tasca Pete

4/5 estrelas
O novo coolbistrô da cidade é o mais pequeno e mais concorrido do momento. Alfredo Lacerda conseguiu reserva e conta como foi.
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Alfredo Lacerda
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A Time Out diz

Se procurarem a página no Instagram, vão encontrar uma estatística curiosa. Com um ano de actividade, o restaurante tem quatro posts e 4.400 seguidores. Isto dá uma média impressionante de cerca de 1100 seguidores por post. Para se ter uma ideia, a actriz de telenovelas e influencer Rita Pereira tem uma média de 29 seguidores por post, com os seus 1,5 milhões de followers. 

Isto significa que a Tasca Pete consegue muito, com pouco. E não apenas nas redes sociais. 

Levei lá a jantar o meu irmão, que é um homem grande, habituado a espaços amplos. Mal puxou a cadeirinha de pau, atirou: “Mas é só isto?” Era só aquilo, um corredor em cima da porta da rua (movimentada e barulhenta), duas mesas de dois, uma mesa de quatro ao fundo e um balcão com os azulejos artisticamente quebrados, onde se sentava meia dúzia de jovens adultos entretidos com o charme decadente de um antigo snack bar reconvertido em neo-bistrô.  

De resto, tudo acontecia ali, incluindo a micro-cozinha. Do outro lado do balcão, apertada contra a montra, em quatro metros quadrados, tínhamos a cozinha, como nessas tascas da Baixa onde as bifanas borbulham à janela.

Na frigideira do Pete, em vez de carne ensopada em óleo, caramelizava uma terrina de batata com mel, prato bandeira da casa, mas os meios eram humildes. “Aquilo é um fogão doméstico”, admirou-se, novamente, o mano, apontando para os quatro bicos de gás, antes de voltar a sentar-se, sem demoras, não fosse alguém roubar o lugar. 

A nossa mesa tinha sido capturada com mais de duas semanas de antecedência, tal não é a procura pelo Pete. Nos últimos meses, a casa tem estado sempre cheia, rodando dois turnos de 15 pessoas, o primeiro a começar às 19.00, o segundo às 21.00. Mesmo sem divulgação no Instagram, o passa-palavra espalhou-se por toda a cidade e não há gourmet com predilecção por pratos criativos e vinhos selvagens que não ambicione lá ir. 

Sim, estamos em terreno natureba, ou seja, em território de vinhos ditos “naturais” ou “autênticos” ou “todos marados”, conforme seja o posicionamento do caro leitor nesta contenda, já longa, entre pseudo-convencionais e pseudo-progressistas. 

Não saindo do tema, deram-se a provar dois vinhos para servir a copo, um Loureiro da região dos Vinhos Verdes de que não fixei a marca, com um pouco de verniz de unhas no nariz (nada de grave) e um palhete do Vale da Capucha, bem arrefecido, rústico e agradável. 

Copos mínimos, pouco cheios, a 6,50€ cada, preço que não é de tasca nem de espírito naturalista. Estamos a falar de uma garrafa a custar 13€ na distribuição que, servida assim, renderá bem mais de 55€. O vinho natural não é para todos. Naturalmente. 

Nas comidas, uma quinzena de pratos e pratinhos para escolher do cartaz escrito à mão na parede, todo em inglês e só em inglês. “Rodam todas as semanas, segundo os produtos da época”, garantiu o único falante da língua de Camões do staff. Duas excepções: o frango frito e a terrina de batata estão de pedra e sal (ahahah) desde o início.

O frango frito era de carne do peito panada, bom mas sem entusiasmar, não se percebe a presença permanente na carta. A terrina sim, mesmo que não seja uma terrina clássica, as batatas laminadas e apertadas em quadrados, ensopadas em molho de queijo de cabra, creme de beterraba e pistáchio – estavam uma delícia, perfeita de crocância e untuosidade (e manteiga). O prato começou por custar 4€, numa versão simples, agora, mais sofisticado, vale 9€ – ainda assim, menos do que o magret de pato (15€), mais cru do que rosado no interior, selado na robata, o pequeno e fofo grelhador japonês que gostava que me oferecessem no Natal.  

Provou-se ainda a ostra com rábano, maçã, funcho e vodka, de belíssima cultura e calibre de estrela Michelin, pequeno e gordo (3€ cada) – a mostrar atenção ao produto. O mesmo se passou no tomate com queijo de São Jorge laminado, já com o fruto quase no pico de forma, maduro e aromático, e com o queijo de boa cura. E houve ainda um croquete de cavala, limpo e bem feito, que pareceu aproveitar sobras – o que é louvável. Quanto à sobremesa, anunciada como panacota com compota (6€), foi falhada em tudo, um creme deslaçado. Não devia ter sido servida. 

Nota muito positiva para o serviço. Bom ritmo dos pratos a chegar, explicações competentes de pessoas que sabem o que estão a fazer, simpatia e descontracção q.b. A Tasca Pete podia poupar em cozinheiros e pessoal em geral, mas investe nisso, com três pessoas atrás do balcão e mais duas na sala – bastante para a lotação.

Em síntese. O restaurante, liderado por uma dupla de ingleses, arranjou um formato minimalista que funciona, é muito acolhedor e quase sempre saboroso. Tem cuidado na cozinha, no produto e no serviço, e a rotação da carta garante surpresa. Não é todavia uma tasca, já se vê. A pretensão inaugural de dar comida sofisticada ao povo, com preços de povo (português, bem entendido), desapareceu com a mesma rapidez com que os lugares foram esgotando. 

É o mercado, hipsters. É o mercado hipster. E não é pouco.

Detalhes

Endereço
R. Angelina Vidal 24A
Lisboa
1170-113
Preço
30€-40€
Horário
Qua-Sáb 19.00-00.00
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