Alvalade já foi um idílio agrícola. Desse tempo, restam ainda belos quintais nas traseiras das casas, onde alguns moradores fazem crescer hortas e outros fazem crescer o apetite.
O Tasco Force integra-se, sobretudo, nesta última categoria. Fica mesmo junto ao bulício comercial da Avenida da Igreja, mas mal lá entramos é como se estivéssemos no campo, um jardim de encantar com mesas de madeira, relva, passarinhos e limoeiros, muitos limoeiros.
Nesta altura, as árvores estão carregadas de limões rugosos e grandes como melões, que podem cair bem perto de nós ou mesmo em cima de nós. Cheirar um limão acabado de cair no chão (ou na cabeça) é algo que todos devem fazer várias vezes na vida. Se não tiver essa sorte, pode sempre pedir uma limonada.
O quintal do Tasco Force não é o único a ter limoeiros. Nas imediações, muitas traseiras dos edifícios em banda ornamentam-se com citrinos. Há dias, fui ao The Therapist, nas proximidades – que também tem um óptimo quintal (e a melhor tosta de ovo e abacate da cidade) –, e eis mais limoeiros carregados de fruta, quais ambientadores naturais.
Se eu fosse a Junta de Freguesia, criava esses emblemas marketeiros que as terras exibem, e afirmava Alvalade como Capital dos Limões ou Grande Limoeiro de Lisboa. E fazia um Festival Anual do Limão. Nos meses do calor, os moradores seriam convidados a montar banca na rua ou a abrir os quintais e a vender bebidas – e não só – com os seus frutos: do vodka limão à soda, da limonada ao sorbet. No final, haveria prémios: Maior Limão do Ano, Limonada Mais Doce (sem açúcar, com açúcar), Melhor Cocktail, Melhor Ceviche de Limão, etc., etc.
(De nada, Junta de Freguesia de Alvalade.)
Deve ser dito que o Tasco Force comunica mal as suas árvores, como aliás quase tudo. Em parte, pode ser um problema circunstancial: recentemente, tiveram uma crise de empregados – quem não, por estes dias? – e nota-se que as contratações, ainda que simpáticas, são de aprendizes ou temporários.
Por causa disto, ficam coisas boas para vender às pessoas, para além dos limões. É o caso do polvo frito, aromático e tenro sem estar esbardalhado, servido em pequenos troços de dois, três centímetros, com polme fino e estaladiço – o prato obrigatório da casa. Também boas as bochechas de coentrada, servidas imersas em molhanga. E não se devem desdenhar os ovos: com espargos, com farinheira de porco preto, ou em versão ovos rotos – a javardice do costume servida com os ditos por cima, em modo estrelado e com a clara no ponto perfeito para molhar a batata frita, que me pareceu da congelada boa.
A carta tem vários outros clichés da cozinha de petisco de tasca, do pica-pau do lombo ao bitoque, das tábuas de queijo ao cheesecake de maçã (óptimo, por sinal). É um menu defensivo, no sentido em que tem pouco produto de risco, como peixe ou vegetais de época, ainda que ao almoço possamos encontrar um ou outro prato do dia interessante, coisa que não acontece ao jantar.
Sucede que, à noite, o sítio também tem encanto. Lâmpadas sumidas agarradas por um fio cruzam o quintal, conferindo uma iluminação de arraial sem cantor pimba, boa para casais românticos e campestres, mas também para famílias numerosas e expansivas (oxalá não coincidam).
Em síntese. O Tasco Force merece a visita, sobretudo para os dias de sol e calor que se avizinham. São bons os petiscos, com matéria-prima acima da média e cozinheiro com mão nos fogões, ainda que se deva estar atento ao óleo da fritura de peixinhos da horta e afins. Carta de cervejas e vinhos pouco ambiciosa para um espaço que se presta à bebida e que promove uma happy hour, entre as 17.00 e as 19.00. Preço justo.
Que a força esteja com o Tasco.