Há coisas que eu, enquanto pessoa que vive em Lisboa, pouco repito, só pelo prazer de lamentar não o fazer mais vezes. Uma delas é pegar numa caixa cheia de doces, caminhar expectante até um jardim e sentar-me em boa companhia de piquenique improvisado, desconstruindo a prova.
Os doces da Teresa Pyrrait, em Campo de Ourique, eram, desde há muito, uns óbvios candidatos a preconizar este certame de estio. Para a estreia, trouxe quatro variedades de pequenos doces, numa selecção que teve de recorrer ao instinto, uma vez que o racional de pouco nos vale perante uma montra tão vastamente sedutora.
Não sou como as crianças – diria que as crianças também não são como as crianças – começo pela melhor parte: uma tarte merengada de limão, um dos meus doces favoritos, de onde se destacou, de imediato, a homogeneidade perfeita do creme de limão e o ponto nuvem do merengue. E tudo surpreendentemente equilibrado nos açúcares, um grande desafio neste doce. Para o meu gosto, faltou apenas um ligeiro tostado na base de bolacha e o meu adorado salzinho.
A tarte de caramelo, outra das escolhidas, revelou-se simplesmente uma belíssima base crocante, muito bem feita e de sabor bem amanteigado, recheada em abundância por um caramelo delicioso.
E depois, aquela máxima de vida: acabar sempre por sucumbir aos mandamentos de Álvaro de Campos, e comer chocolates: um brownie denso coberto por um suave brigadeiro e uma “delícia de chocolate”, ou seja, um bolinho coberto por uma avalanche de ganache de chocolate.
Teresa Pyrrait traz-nos doces que não surpreendem pela presença de contrastes complexos ou inusitados, mas cujos elementos são muito bem executados (aquele caramelo...!). São perfeitos para quem busca o conforto imediato de um sabor doce, sem atalhos e de qualidade (de produtos e execução).
Não posso deixar de referir como surpreende o preço, muito em conta para a qualidade dos ingredientes usados (entre 1,70€ e 2,80€ a unidade).