A primeira coisa que impressiona, no restaurante do Saldanha, é a dimensão. Já não é aquele vegetarianozinho cozy, em que o cozinheiro colhe as couves, vem à mesa entregar o prato e pelo meio ainda explica ao cliente como fazer o vinagrete de coco. Não, não. O The Green Affair é uma sala grande, com mais de 100 lugares, e empregados que não sabem os nomes uns dos outros.
Estamos na Duque de Ávila e vemos muito tailleur e poucas rastas. É terreno de executivo e de executiva e uma avaliação instantânea da sala comprova que ser vegetariano já não é ser hippie chic e abastado. Há de tudo, incluindo rapaziada do Técnico, ali ao lado.
Uma das originalidades do restaurante é precisamente a democratização dos vegetais. O projecto assenta em ter vários restaurantes na cidade (Parque das Nações, Chiado, Cascais, Saldanha) e uma escala que permita preços competitivos. Parece uma receita banal, mas a verdade é que não é fácil comer-se num vegetariano por 12€, sem ser num centro comercial e sem montanhas de cenoura ripada.
Isso é possível no The Green Affair, ainda que seja avisado mantermos as expectativas controladas.
Almocei lá recentemente, duas pessoas, hora de ponta e sem reserva, serviço confuso. Começou por não ser fácil chegar à fala com os empregados, que delegavam sempre noutros empregados a dura missão de escolher uma das mesas vazias onde nos sentar. Depois, veio uma entrada que não tínhamos pedido. E os pratos principais demoraram 40 minutos a chegar. A rematar, os cafés anteciparam-se às sobremesas.
Ou seja, serviço feito essencialmente por pessoas esforçadas, entre uma vida e outra.
Quanto à comida, de entrada vieram gyozas de legumes sem encantar, massa borrachosa e uma “maionese de miso” que não sabia a miso (pasta japonesa fermentada, à base de soja); e uma sopa de legumes, mais puré que creme, agradável, polvilhada de sementes de abóbora e sésamo.
Nos principais, o burrito bowl era uma tigela de arroz soltinho e saboroso (integral), tinha feijão preto, cogumelos shitake, guacamole e um molhinho daquelas alfaces de pacote, sem tempero. As “Seitan ribs”, por sua vez, eram um prato de coleslaw de couve roxa e aipo, palitos de batata frita e outros de seitan.
Só uma pessoa afogada em ayahuasca, todavia, poderá chamar a esses palitos de “Seitan ribs”. A minha companhia diz ter sentido notas a tamarindo e soja. A mim soube-me a uma mistura de tofu, cogumelos e escovas de pára-brisas. Ribs, jamais.
De resto, o director criativo do restaurante usou a imaginação noutros nomes, como o “Sem espinhas à lagareiro”, com o tofu a substituir o bacalhau, ou o “caril katsu”, com panado de abóbora em vez de carne.
É um caminho errado e demodé, diria, porque para se ir buscar umami usando-se apenas vegetais tem de se criar uma culinária de raiz, assente noutras técnicas e combinações. A simples substituição da proteína raramente resulta.
Nas sobremesas, o bolo de cacau com farinha de trigo e pistáchio falhava em pistáchio e em cremosidade, parecendo a massa crua e enfadonha. Já o pudim de chia e morango estava bem, ainda que com notas a morango passado.
Em síntese. É útil termos restaurantes vegetarianos simples, bonitos, democráticos. Mas era bom também que este The Green Affair nos desse mais coisas novas, mais cuidadas.