O vinho de talha do Alentejo é, sem dúvida, uma das tradições vínicas mais fascinantes de Portugal – arrisco dizer: do mundo. Além de sua conexão com a ancestralidade romana, esta prática artesanal chegou a Portugal há mais de dois mil anos e permanece quase inalterada em diversas vilas alentejanas, onde a tradição foi passada de geração em geração.
As talhas de barro são estruturas imponentes, gordas e lindas. Quando as vemos nas adegas alentejanas, a sensação que dá é que viajamos no tempo. Uma lufada de ar fresco, principalmente para quem vive na agitação da capital, como esta que vos escreve.
Todo o processo de vinificação ocorre dentro da talha, e talvez por este motivo, como me contou uma vez uma pessoa de Vila de Frades, as ânforas na antiguidade eram chamadas de “a mãe”. O vinho sai das talhas pronto para ser consumido, sem a necessidade de intervenções adicionais, preservando sua pureza artesanal e expressando directamente este mágico terroir. Muitos vinhos brancos de talha têm estrutura semelhante à de tintos, enquanto alguns tintos, ou palhetes, possuem corpo similar aos vinhos brancos. O resultado é um vinho delicioso, rústico e autêntico, que harmoniza perfeitamente com os pratos poderosos e intensos da região.
Tradicionalmente, a 11 de Novembro, dia de São Martinho, ocorre um grande evento em que as adegas abrem algumas das suas talhas, oferecendo os vinhos novos que acabaram de fermentar há poucas semanas. Como este ano calha numa segunda-feira, algumas adegas abrem no fim-de-semana seguinte para quem quiser provar. As minhas vilas favoritas para este passeio são Vila de Frades e Vila Alva. Antes de se meter a caminho, experimente estes quatro vinhos de talha engarrafados, que faço acompanhar de dicas de harmonização alentejana.
* Bónus, uma óptima ideia é provar estes vinhos engarrafados e, no dia da abertura das talhas, perceber as diferentes nuances entre o vinho directo da talha e os que foram estagiados em garrafa na mesma adega.
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