Vinhos fortificados
Time Out Lisboa
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Que doçura: as maravilhas dos vinhos fortificados portugueses

E não estamos só a falar de Porto e Madeira. Descubra mais sobre estas preciosidades da enologia, juntamente com as nossas sugestões imperdíveis.

Liana Saldanha
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Não há como começar este artigo sem explicar o que são os vinhos fortificados doces: são vinhos que têm a sua fermentação alcoólica interrompida pela adição de aguardente, o que faz com que parte do açúcar natural da uva, que normalmente se transformaria em álcool, permaneça no vinho. Estes vinhos geralmente têm entre 15% e 22% de álcool por volume, tornando-os mais fortes e potentes do que a grande maioria dos vinhos tranquilos (aqueles que consumimos com mais frequência).

A técnica de fortificação foi originalmente criada para preservar os vinhos durante as longas navegações marítimas que aconteceram entre os séculos XV e início do XVII. Naquela época, os vinhos fortificados eram secos; já os fortificados doces, segundo a minha pesquisa, surgiram no século XVIII. Outros nomes utilizados para vinhos fortificados são licoroso ou generoso (uma fofura este último).

Agora que o leitor já sabe como são produzidos e uma fatia da sua história, está preparadíssimo para as dicas de fortificados doces que aí vem. 

Vinhos fortificados portugueses

Carcavelos

Villa Oeiras Superior (37,5cl) 
Castas: Arinto, Galego Dourado e Ratinho

O ano era 2017. Durante um almoço no Restaurante Alma (onde meu marido foi sommelier) tive a primeira experiência de wine pairing. A harmonização do Villa Oeiras Superior com o prato de foie gras fez-me derramar algumas lágrimas. Foi naquele momento que decidi que ia começar a estudar a magia da enogastronomia. O contraste do doce do vinho com o salgado do prato foi incrível, a acidez do vinho diminuiu a sensação de gordura do foie, mas a cereja no topo do bolo foi o belíssimo encontro dos aromas e sabores da espuma de café e avelãs no prato com estes mesmos sabores no próprio vinho. Carcavelos vai muito bem também com queijos curados e tarte de amêndoa.

Produzido entre Oeiras e Cascais, quase foi extinto no final dos anos 80. Temos todos de agradecer à Villa Oeiras, pela iniciativa de recuperar este património único para o país. Viva!

22,50€

Moscatel de Setúbal

DSF Coleção Privada 2006 (75cl)
Casta: Moscatel Roxo

Não dá para escrever sobre o Moscatel de Setúbal sem citar José Maria da Fonseca, o mais antigo produtor de Moscatel de Setúbal em Portugal. Este Moscatel Roxo DSF 2006 vem da coleção privada de Domingos Soares Franco, enólogo que soma mais de 40 vindimas na casa e que é a maior referência em Moscatel de Setúbal do país.

A Moscatel Roxo é uma uva bastante rara que chegou a correr riscos de extinção. A casta, em conjunto com as técnicas de fortificação e muita dedicação da equipa de viticultura e enologia, deu a este vinho aromas intensos e complexos, como flor de laranjeira, figos secos, especiarias doces e amêndoas torradas. No paladar, é super delicado, equilibrado e com uma acidez vibrante que dá frescura e equilibra a doçura. Com pastel de nata fica uma maravilha!

26,50€

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Madeira

Justino’s Fanal Rainwater 10 anos (50cl) 
Castas: Verdelho e Terrantez

O vinho Madeira é um queridinho entre sommeliers de todo o mundo. Já vi muitos indicarem Madeira com tábua de queijos, com pratos salgados com picante, e, claro, com sobremesas. Bolo de mel acompanhado por um copo de Malvasia é um clássico na ilha.

Quando provei este Rainwater da Justino’s fiquei impressionada com a leveza e o frescor. Com um perfil médio seco, pareceu-me ideal tanto para ser apreciado sozinho quanto em combinações gastronómicas mais ousadas, como carnes levemente temperadas e queijos envelhecidos. Um vinho que revela camadas de frutos secos, especiarias, além de notas subtis
de caramelo e leve toque mineral salino, que traz uma profundidade típica do terroir vulcânico da ilha.

22,50€

Porto

Porto Ruby Seco - Ameztoy & Almeida (75cl) 
Castas: Vinhas Velhas (15 brancas e 15 tintas)

O Porto é o mais popular entre os quatro fortificados portugueses, foi o motivo da primeira demarcação de vinhos da história, e é produzido no Douro, a região de vinhos mais linda do mundo, segundo eu mesma. Foi por este motivo que nesta lista ficou para último. E com uma indicação surpreendente, ao estilo plot twist, porque provavelmente, muitas pessoas nunca provaram um Porto Ruby Seco. Ué, mas não estamos a escrever sobre fortificados doces? Estamos pois, mas resolvemos surpreender no final.

A primeira vez que provei este vinho, fiquei incrédula. Aromas de frutas pretas, violeta, ginja, folhas secas. Na boca não é 100% seco, mas é pouco doce, super equilibrado e mais fácil de beber do que um Porto Ruby tradicional. Vai bem com aperitivos como frutos secos torrados, queijos duros, e queijada - pois não é tão doce.

Outros copos

Modéstia à parte, se há coisa que a Time Out faz bem é descobrir as melhores novidades e partilhá-las com os seus estimados leitores. Entre feiras de vinho, visitas a bares e encontros com produtores, a nossa entendida na matéria reuniu os 10 vinhos até 15€ que mais a emocionaram este ano. Junte os amigos, encha o copo e prepare-se para brindar a esta grande lista. 

Vinhas plantadas a 50 metros do mar? Temos! Vinhos produzidos em grandes potes de barro como os romanos faziam há 2 mil anos? Também temos! Portugal é pequeno em extensão territorial, porém grandioso em relação à diversidade de terroirs que contribuem para a riqueza e variedade de seus vinhos. 

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