1. Windsurf Café
    Fotografia: Ana Luzia
  2. Windsurf Café
    Fotografia: Ana Luzia
  3. Windsurf Café
    Fotografia: Duarte DragoEsplanada do Windsurf Café
  4. Restaurante, Windsurf Café, Esplanada, Praia de Carcavelos
    ©Duarte DragoWindsurf Café
  5. Windsurf Café
    Fotografia: Duarte DragoWindsurf Café
  6. Windsurf Café
    Fotografia: Duarte DragoWindsurf Café
  7. Windsurf Café
    Fotografia: Duarte DragoWindsurf Café

Crítica

Windsurf Café

4/5 estrelas
  • Restaurantes | Português
  • preço 2 de 4
  • Cascais
  • Recomendado
Alfredo Lacerda
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A Time Out diz

Há uma tendência na 
vida para nivelar por baixo. Afrouxamos se o pelotão não pedala, distraímo-nos se a concorrência é fraca. Acontece assim em tudo na vida – e 
na restauração é igual. Um restaurante mau arrasta outros restaurantes maus.

Em Lisboa, existem algumas zonas gastronómicas niveladas por baixo. Vem logo à cabeça
 as Portas de Santo Antão, uma rua com mais armadilhas gastronómicas do que pedras na calçada – e logo a seguir o Bairro Alto, a Rua Augusta, a Rua dos Correeiros, as Docas.

Sucede que em todas estas lixeiras encontramos faróis cercados por náufragos, gente limpa no lamaçal, erva verde entre cinzas – casos extraordinários de superação, verdadeiras excepções ao nivelamento por baixo. É sobre uma dessas excepções que vos quero falar.

O Windsurf Café tinha 
tudo para ser mais um pré-fabricado com más batatas 
fritas e hambúrgueres de grossista. Instalado no paredão de Carcavelos, está cercado de barracas com fast food, por vezes travestida de comida tradicional. Já comi em algumas, já vi comer noutras. É quase tudo entre o intragável e o mais ou menos, mas nada disto desmobiliza quem quer que seja. Cada um daqueles restaurantes anda sempre compostinho ou cheio ou com filas.

A razão do fenómeno é fácil de perceber. Ter um restaurante na praia vale ouro. Não apenas por causa do privilégio paisagístico, mas porque uma pessoa sai da praia e está disposta a comer cortiça. Há uns meses, depois de chapinhar nas ondas, fui a um destes sítios à beira-mar. Serviram-me uma dose de choco frito
 com maionese que engoli com imperiais e fiquei muito feliz. Uma semana depois, mas num almoço sem apetite, pedi o mesmo e já me pareceu pota frita encharcada em óleo de palma com batatas encharcadas em óleo de pota frita. Fiquei muito triste.

Até que descobri este lugar. O Windsurf Café começa por ser logo arrumadinho e bonitinho, com madeiras e pedra, como uma casa campestre. Depois tem uma cozinha a sério, aberta, com cozinheiros a sério, que podemos ver a trabalhar. Tenho-lhes a agradecer várias coisas que lá comi em dois almoços na semana passada.
 A mais valiosa delas foi o polvo à lagareiro (14€), um dos meus pratos favoritos do receituário nacional, raramente cozinhado a preceito. Aqui, veio num prato com batatas a murro esmurradas na medida certa para que o azeite se infiltre, abraçadas por vários tentáculos de polvo pequeno, numa composição belíssima (os polvos dão as melhores composições). Em redor, uma poça de azeite com alho e salsa
 e um pico bom de malagueta. A textura do bicho estava perfeita, nem borrachoso nem esfacelado, com um toque leve de grelha – e ficou ainda melhor com umas pedras de sal grosso por cima e um golpe de vinagre. Um bom lagareiro é raro, um bom lagareiro em cima do areal é um achado ao nível daquele prédio de 350 mil euros em Alfama.

O meu amigo foi na carne e foi bem. Bife do lombo com cogumelos portobelo frescos, envolto num clássico molho de natas abundante e cremoso (14€). Por um prato deste nível num restaurante de chef no Chiado pagam-se 18€ e não se tem direito à maresia nem ao desfile de fatos de banho, esse acessório cada vez mais acessório.

Continuando. A ementa também tem os clássicos de praia, das tostas às saladas e não faltam os hambúrgueres – tudo bem feitinho. E depois arrisca-
se nos petiscos, saborosos e apresentados com cuidado e bom gosto. Provaram-se a salada de polvo (7€), o camarão picante (7€) e o pica-pau do lombo (8€), que suscitaram comentários de “bom” e “bem bom” e “esta salada tem falta de vinagre” e “estes camarões estariam perfeitos
 se menos secos”. Veio vinagre a pedido e era o tinto do Esporão, o que por si vale uma salva de palmas e os dois euros a mais
 que se paga no final das contas comparativamente com a factura média na concorrência.

Serviço difícil, sempre
 muito atarefado. Calhou-me
 nas duas visitas uma rapariga liceal, educada e esforçada. Não percebia nada do que ali se comia, mas teve presença de espírito para actuar bem numa situação difícil: o pica-pau da vazia veio demasiado passado e a mesa fez-lhe notar isso; ela ficou tensa, teve três segundos estática para decidir e decidiu bem: agarrou
 na frigideira, levou-a para trás
 e trouxe outra com a carne mal passada.

O Windsurf Café é uma brisa agradável numa costa cheia de tormentas gastronómicas. Tem bom gosto, vontade de fazer
bem e essa fibra de que são feitas as pessoas que lutam contra a mediocridade.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Detalhes

Endereço
Praia de Carcavelos
Carcavelos
2775-604
Preço
15€ a 20€
Horário
Dom-Qui 10.00-02.00, Sex-Sáb 10.00-03.00,
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