Por muita vontade que exista, não, não pode ir ao teatro. Mas não é por isso que tem deixar de ver teatro. Deixamos-lhe as peças de teatro para ver esta semana no conforto do seu sofá.
Nesta sexta-feira, é (animem-se) Dia Mundial do Teatro. Foi a pensar nisso que a Teatro Nacional 21 – estrutura teatral fundada por Cláudia Lucas Chéu e Albano Jerónimo em 2011 – criou uma mini-programação propositadamente para celebrar a ocasião, para combater a impossibilidade de brindarmos, de estarmos juntos a falar de teatro. A partir das 10.30, vários actores que já se cruzaram com a companhia (Bruno Nogueira, Rita Blanco, Luísa Cruz, Isabel Abreu) vão ler vários textos da dramaturgia nacional e internacional, alguns dos quais fazem parte do percurso da Teatro Nacional 21. Às 21.00 é hora de Veneno, um texto de Cláudia Lucas Chéu, com direcção e interpretação de Albano Jerónimo. No fundo, é um monólogo que levanta os temas sempre urgentes da homofobia, misoginia, racismo.
A ideia de criarem uma programação online surge depois de vos cancelarem espectáculos, certo?
Não, não foi porque tivemos espetáculos cancelados, obviamente isso também contribuiu, mas foi sobretudo por uma necessidade de dar às pessoas que estão em casa, nestes tempos novos e de incertezas, uma oferta cultural. Não quisemos privar as pessoas.
Vão disponibilizar o espectáculo Veneno, certo? De quando a quando? Vão centrar tudo no Dia Mundial do Teatro ou a ideia é expandir por mais datas?
Para já quisemos focar-nos no Dia Mundial do Teatro, um dia da maior importância para para a nossa actividade, e foi logo um desejo comum de querermos desenhar uma programação para este dia 27 de Março. Se vão existir réplicas deste movimento da Teatro Nacional 21 ainda não sabemos, baseamo-nos, uma vez mais, nesta permanente inquietação.
E por que acham que Veneno, texto da Cláudia Lucas Chéu, é um espectáculo que se adequa a estes tempos adversos?
É um espetáculo que fala de homofobia, xenofobia, racismo, e de certa forma de violência doméstica, e vem assim, a traço largo, demonstrar o pensamento de tantas cabeças que ainda habitam a nossa democracia, em pleno século XXI. A TN21 como tal desenhou este espectáculo em que decidimos expor tudo isto de uma forma grotesca ou monstruosa, expor estas problemáticas através da cabeça de um pai que se fecha em casa com os seus filhos, um pai desempregado, à beira do abismo. Portanto, Veneno tem infelizmente toda a pertinência, e é algo com que as pessoas se podem relacionar e esperamos se possam reinventar de várias formas.
No fundo, estamos perante um acto solidário de querer dar arte às pessoas que estão em quarentena e não podem ir aos teatros. Mas, a longo prazo, isso seria um problema, na vossa opinião?
Os processos artísticos e criativos são sempre amplos, e neste sentido se é possível criarmos um objecto exclusivamente online, sim, por que não fazê-lo? Agora acredito que o teatro será sempre o teatro. Eu gosto muito, e nós gostamos muito de ver e conceber objectos para palco e para cena, e, obviamente, estou a incluir directamente a participação do público que está presente nessa mesma sala e assim partilha esta mesma concepção.