Canto do Papão Lusitano
©Manuel Melo

Crítica

Canto do Papão Lusitano

3/5 estrelas
  • Teatro
  • Recomendado
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A Time Out diz

Meio século depois da estreia, uma peça anticolonial, dirigida em particular ao colonialismo português, um exemplo do que então representava um teatro de resistência, ressuscita, graças ao diálogo entre as comunidades académica e artística, para lembrar o que não deve ser esquecido. E ganha ainda um outro sentido na encenação de Carlos J. Pessoa.

Durante décadas fez-se o possível por não falar do passado colonial. O muro de silêncio abriu aqui e ali as suas brechas, mas só no início deste século é que investigadores, por um lado, e artistas, por outro, começaram a chegar-se ao tema sem traumas nem tabus. Pode-se dizer que a procissão ainda vai no adro. Porém, a colaboração entre o Teatro da Garagem e a Universidade Nova é mais um sinal de movimento. Movimento interpretado cenicamente nesta recuperação da peça de Peter Weiss (1916-1982) em que Pessoa assume, explorando a simbologia característica do seu teatro, os temas inscritos no original (ditadura, movimentos de libertação, guerra colonial, revolução), como uma espécie de verificação do regresso do autoritarismo e da xenofobia e do racismo, a limitação das liberdades, a permanência do terrorismo. Um aviso, principalmente, de que cada um de nós tem o seu papão interior, digamos, em modo de espera, contudo pronto a revelar-se. Um alerta de que os novos papões são diferentes dos antigos. Estão mais bem apetrechados, por isso mais capazes para tornar a resignação geral como justificação, motivo e razão para a sua acção.

É entre a memória e a possibilidade de um futuro incerto e instável que a encenação usa os espaços do Teatro Taborda, levando os espectadores através do desconhecido, pelos meandros do texto, a que Ana Palma, Beatriz Godinho, Nuno Nolasco e Nuno Pinheiro, com um grupo de alunos da UNL, dão corpo sob a iluminação cerrada de Nuno Samora.

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