Setúbal sempre foi igual a luta. Sempre foi lugar de resistência, de bater o pé, de ousar ter aquilo a que se tem direito. Talvez por isso, quando o antigo Festival de Setúbal acabou, no início da década de 80, brotou um vazio que convinha (pelo menos assim pensou o Teatro Estúdio Fontenova) preencher. A estrutura que viria a fundar a Festa do Teatro em 1995, aí já com dez anos de existência, tem sido o grande percursor do teatro no concelho. E é a mesma que carregou esta festa às costas, às cavalitas, em modo carrinho de mão, até à XIX edição. É essa que arranca esta sexta-feira, em vários pontos de Setúbal, por onde fica até dia 27 com espectáculos nacionais e internacionais e um lote digno de actividades complementares.
Bom, tratemos de esclarecer as contas. É que pode bem dar-se o caso de ser rápido a fazer contas de cabeça e de já se ter apercebido que se o festival começou em 1995 não pode apenas ter dezanove edições. “Sim, já houve alguns interregnos, sobretudo por falta de financiamento. A Festa fez-se de 1995 a 1998, onde parou. Voltou em 2001 e parou novamente. Mas desde 2004 que temos feito sempre”, refere José Maria Dias, director artístico do festival e do Teatro Estúdio Fontenova desde a sua génese. Homem que viu a cidade mudar, moldando-se a esta proposta cultural, que é hoje um dos maiores acontecimentos culturais de Setúbal. “As pessoas iam a Lisboa ver teatro e achámos que Setúbal precisava de algo assim. Hoje há pessoas em Setúbal que vêm de fora para passar estes dias na cidade, que marcam férias nestes dias para estarem disponíveis para o Festival. O público tem sido a razão da sua continuidade”, explica.
E que continua a todo o gás. Este ano, entre espectáculos, concertos, tertúlias, circo, há mais de trinta sessões para setubalense (e todo o interessado cultural que quiser aparecer) ver. Paralelismos à Festa do Teatro, que transborda dos palcos para as ruas, que transfigura a paisagem da cidade nestes dias: “O Festival não se restringe só ao teatro, é bom que se entenda isto. Temos curtas-metragens, exposições, concertos, dança, temos várias disciplinas que trazem agitação a Setúbal. É claro que continua a não ser fácil programar algo deste género com os fundos que temos, mas cá nos vamos aguentando, com muita resistência das pessoas que o erguem”, conta.
Para 2017, há dez espectáculos a concurso na Secção Oficial da Festa do Teatro. São seis produções portuguesas, duas espanholas, uma italiana e uma brasileira.