“Olhar para trás, ver o que éramos e o que somos, como aqui chegámos, o que perdemos e o que ganhámos, é um exercício geralmente… Bem, se não doloroso, pelo menos frustrante. Agora imagine-se uma família inteira, daquelas do século XIX, na qual cada um guardou para si a mágoa e o rancor pelo que não foi para ser o que é durante anos, subitamente obrigada ao confronto. Mais uma vez do desejo com a realidade. Alguém há-de sair mal. Quando não todos”, escrevi na crítica publicada na Time Out.
É o que acontece nesta produção Primeiros Sintomas, encenada como uma delicada filigrana por Bruno Bravo, tornando a peça de Anton Tchékhov um vórtice criado pela chegada à quinta do professor Serebriakov (Luís Miguel Cintra, na sua segunda incursão no palco após o fim da Cornucópia), intelectual reformado e em mudança para o campo por não poder acompanhar o custo de vida na cidade. A sua chegada, e principalmente a imposição da sua vontade, reflectem-se mais pesadamente sobre Vânia e a sobrinha (interpretados com rigor e intensidade por Paulo Pinto e Carolina Salles), que sempre sustentaram o académico bem administrando o lugar que ele agora quer vender.