Cinco bons motivos para subir à Serra do Açor

Calce os ténis e siga a rota pela serra histórica do Centro do país

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Sempre que pensamos em ir de passeio para fora de Lisboa, parece haver uma força oculta que nos empurra automaticamente em direcção ao sul. Desta vez é diferente e vamos para cima, para o coração da Serra do Açor, o tesouro mais bem guardado de Arganil. Se for o caso de o leitor não se estar a conseguir localizar geograficamente, Arganil fica ali para os lados de Coimbra, a 40 minutos da cidade dos estudantes. A partir de Lisboa, a viagem de 260 km faz-se quase toda por autoestrada, com a parte final a obrigar a umas quantas curvas e contracurvas que podem desanimar os mais sensíveis ao enjoo. Mas não desista já de nós: traçámos o plano ambicioso de visitar o concelho em dois dias sem perder pitada das paisagens mais bonitas (e verdes) da zona Centro. Encontrámos uma aldeia presépio, praias fluviais de água cristalina, uma floresta virgem, cascatas escondidas e muito, mas mesmo muito boa comida. Eis cinco razões para ir e querer ficar.

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Aldeia Presépio

O Piódão, por si só, poderia eliminar as restantes quatro sugestões simplesmente por se tratar de uma das aldeias históricas mais bonitas do país, elevada a Maravilha e orgulhosa detentora do título de “a mais típica de Portugal”. Construída em escadinha numa encosta da Serra do Açor, ainda preserva as típicas casas de xisto com telhados de laje e caixilhos e portas azuis. É bonita de ver durante o dia mas sobretudo à noite, quando as luzes das casas se acendem e a aldeia ganha vários pontinhos amarelos que, ao longe, fazem lembrar um presépio. A aldeia é pequena e vê-se bem em duas horas, mas são duas horas a caminhar a sério e sempre a subir. O ideal é ir parando para recuperar o fôlego – a Igreja Matriz, o único edifício branco da aldeia, é óptimo pretexto para uma pausa. Na praça principal, vale a pena investir 1€ no bilhete do Museu do Piódão para ver a exposição fotográfica e a colecção de objectos agrícolas que mostram como é (e como foi) a vida numa aldeia remota que só muito recentemente se virou para o turismo.

Foz D'Égua, a aldeia Hobbit

Ao longo das ruas do Piódão vai encontrar várias placas a indicar o caminho para Foz D’Égua. Não ceda à tentação de ir buscar o carro: são 4 km que se fazem bem a pé e que, acredite, valem bem o esforço. Foz D’Égua parece um cenário fabricado, uma cena da saga Senhor dos Anéis com casinhas em pedra escavadas no verde da serra, uma ponte com arcos e uma piscina natural transformada em praia fluvial, à qual se acede por uns degraus de xisto. O tempo pode já não estar para banhos, mas depois de contemplar a paisagem e de se maravilhar com ela, deixa de haver muito mais para fazer senão voltar tudo para trás e descer a aldeia. Pare no restaurante Delícias do Piódão (96 355 7214) e atire-se, finalmente, a uma chanfana à antiga – não sem antes passar por umas fatias de bucho. Não sabe do que se trata? É o estômago do porco recheado com arroz e carne do animal: uma surpresa muitíssimo mais deliciosa do que anuncia.

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Os docinhos de Côja

Viagem não é viagem sem o momento “apetece-me um docinho” e nesse departamento é em Côja, nas margens do rio Alva, a 30 km do Piódão, que está a resposta. Na Boutique da Tuxa (Praça Dr. Alberto Vale. 23 572 8140), Fátima Quaresma vende as famosas cajadas do Piódão, que a própria produz agora em Côja tal e qual a receita original, com mel, castanhas e nozes. As telhas (uma bolacha finíssima de mel e frutos secos) e as broas de abóbora e batata são outras especialidades locais que vale a pena provar. Mas há mais: bolos caseiros, folares, tigelada e pão-de-ló, pelo que se quiser levar uns miminhos para casa, este é o sítio para se abastecer de tudo o que é bom. Passe, depois, pela fábrica de licores e compotas Donanna (Rua Francisco de Almeida Filipe. 23 572 9429) para acrescentar mais uns produtos ao carrinho de compras. Em caso de dúvida nos licores (há castanha, figo, frutos silvestres e ginja), peça uma prova. Em copo de chocolate, evidentemente.

Cascata paraíso

Quando regressar à Fraga da Pena, porque vai acabar por regressar, escolha o Verão para poder aproveitar as incríveis praias fluviais do concelho – mas sobretudo para poder curtir a cascata de 20 metros que abre caminho por uma encosta de xisto na Mata da Margaraça, no coração da Serra do Açor. O caminho para lá chegar não é complicado, mas implica alguma ginástica na descida. Se vier de Côja basta seguir em direcção ao Piódão e procurar pelas placas de madeira que levam à Fraga da Pena. A determinada altura, já longe do carro, vai ter de confiar na natureza e guiar-se pelo som da água até encontrar a cascata. Antes que lhe ocorra uma ideia da qual se vai arrepender nos primeiros dois segundos, deve saber que a água é gelada. Absurda e consistentemente gelada, mesmo em dias de muito calor, pelo que para já talvez seja melhor ficar por terra. Aproveite para registar o momento, partilhá-lo nas redes, e planear o regresso. Nessa altura, pode juntar-se a uma descida do rio em canoa ou aventurar-se num passeio de bicicleta ou numa aula de escalada.

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Comida de panela

Arganil, a sede de concelho, é a prova de que ainda há sítios onde toda a gente se conhece. Ser de Arganil não é “ser de perto de Coimbra”, é ser parte de uma grande família e tratar toda a gente por tu. Isso e conhecer os cantos à vila, como por exemplo o jardim romântico da Mata das Misericórdias (Rua Comendador Cruz Pereira. 23 520 0490), uma floresta de 22 hectares que esconde caminhos decorados com azulejos, uma sala de banquetes plantada numa clareira, anfiteatros ao ar livre, um centro ambiental de estudo e preservação das espécies autóctones e uma casinha de madeira que serve para hospedar investigadores e interessados pela biodiversidade da zona. Depois do passeio vai saber bem parar n’A Tasquinha (Rua Jornal de Arganil. 23 520 2650) para um bife com batatas fritas. Assim mesmo, sem mais nada. Não será o melhor bife que já comeu mas o molho que ensopa a carne e as batatas é capaz de se bater pelo título. Também há dobrada e os obrigatórios bucho e chanfana, cozido em dias especiais. Levou os miúdos na bagagem? Para eles há uma bela surpresa: muito bons panados de frango com arroz e batatas fritas. Fica no centro de Arganil e é um óptimo (e raro) representante da comida caseira sem manias, daquela que prefere não ligar à forma para dar tudo no conteúdo e que cumpre na perfeição. O preço por pessoa dificilmente ultrapassa muito os 10€

  • Hotéis
Onde ficar
Onde ficar

A 10 minutos do Piódão, na Foz da Égua, o InXisto Lodges é a melhor coisa que aconteceu à região em 2014. Foi nesse ano que nasceram duas casas ecológicas mergulhadas no verde da serra que combinam a tradição do xisto com uma arquitectura moderna. Dão para quatro pessoas (pais e filhos é o ideal), têm cozinha equipada, sala com lareira e terraço panorâmico no telhado. E o melhor de tudo: têm uma vista soberba.

Mais escapadinhas

  • Viagens

Com tanto que fazer por estas bandas é normal que lhe aconteça o mesmo que n’Os Maias de Eça de Queirós e se esqueça de trazer as famosas queijadas de Sintra para casa. Há praias deslumbrantes, restaurantes de peixe fresco e novidades ainda mais frescas para juntar ao roteiro turístico habitual. Damos-lhe sugestões para consolidar o bronze na serra e no mar. Um best of que inclui o roteiro turístico, os melhores sítios para comer e algumas dicas alternativas, como um pub medieval ou um bar num moinho.

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