Na melhor parte do dia, só se ouvem os pássaros. Quando se calarem os pássaros, hão-de ficar as cigarras. E se acaso também elas se calarem, o mais certo é que comece a ouvir o som da própria barba a crescer. Na Herdade da Matinha há uma promessa de sossego que nos recebe à chegada e se cumpre à medida que o vagar se instala em nós. Estamos um pouco além do Cercal do Alentejo, três quilómetros de terra batida campo adentro, num refúgio acoitado entre montes. Só se chega aqui de propósito, só se sai daqui contrariado.
A Herdade da Matinha é um turismo rural aconchegado por uns cem hectares de sobro, oliveiras e um pinhal de 14 mil árvores que foram sendo plantadas à medida que se foi erguendo a casa principal e foram multiplicando os 22 quartos que hoje ocupam o lugar da velha casa do lavrador, da vacaria e do celeiro que aqui existiam. Em breve, talvez lá mais para o fim do ano, serão 34. Sobre as estruturas originais, Alfredo e Mónica começaram a desenhar tudo isto em 1994. Explique-se que isto de tratar os proprietários pelos nomes próprios – ao Alfredo Moreira da Silva, que sabemos ser artista plástico de formação e chef por vocação, e à Mónica Beleza, de quem sabemos vagamente que já trazia alguma experiência do turismo – não é excesso de intimidade: com ele não falámos mais de dois minutos, ela nem tivemos ainda o prazer de a conhecer. Mas é assim que tudo acontece aqui, pelo mais simples e informal.