Arte, Pintura, Turistas ingleses de visita à Campânia (Itália), Carl Spitzweg
©J.P.AndersTuristas ingleses de visita à Campânia (Itália) por Carl Spitzweg
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Livros para viajar pelo mundo sem sair do lugar

A pandemia pode manter o nosso corpo fechado em casa, mas não impede a nossa mente de deambular. Propomos vários destinos, tendo por guias conceituados escritores de viagens.

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Tal como o viajante informado e atento convive com massas ignaras e indiferentes à cultura e história das regiões por onde passam em tropel apressado, enquanto fazem selfies frente a todos os monumentos e paisagens que integram o cânone turístico mundial, também os livros de viagens, que proporcionam uma visão reveladora do mundo e de nós mesmos, disputam hoje o espaço nas livrarias. Convivem com uma massa anódina de livros de prosa titubeante e infestada de lugares comuns e que, amiúde, mais não são do que uma soporífera compilação de episódios comezinhos sucedidos ao seu narcísico autor durante uma viagem (tantas vezes veloz e superficial) por paragens exóticas, polvilhada por meditações de filosofia de ervanária. Os seis títulos que se seguem fazem parte da primeira categoria e, na sua maioria, fogem ao padrão do livro de viagens.

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Livros para viajar pelo mundo sem sair do lugar

1. Constantinopla

Constantinopla, de Edmondo De Amicis

É verdade, a cidade que se divide entre as margens europeia e asiática do Bósforo há muito que viu o nome Constantinopla ser definitivamente substituído por Istambul, mas os livros de viagens não servem apenas para nos movermos no espaço, permitem também viajar no tempo. O italiano Edmondo De Amicis (1846-1908) visitou Constantinopla em 1874 e o livro que escreveu sobre ela não nos dá testemunho apenas do muito que mudou na cidade: faz-nos ter consciência do que era a experiência da viagem numa era em que não existiam companhias aéreas low cost, Airbnb, selfie sticks, Instagram e Google Street View, que são convenientes e úteis mas arruínam muito do prazer e excitação da descoberta.

Tinta-da-China, 20,61€.

2. Tânger e Ceilão

Viagens, de Paul Bowles

Não é um livro de viagens na acepção estrita do termo, pois a maior parte do livro é preenchida com impressões de Tânger e da ilha de Ceilão (hoje Sri Lanka), onde Paul Bowles (1910-1999) residiu durante longos anos. São, no entanto, relatos – vivos, perspicazes e irónicos – de paragens exóticas aos olhos ocidentais e proporcionam proveitosa leitura. As deambulações de Bowles incluem a Madeira e a Costa do Sol – na visita de 1965, a segunda, Bowles constata, horrorizado, as mudanças ocorridas desde a primeira estadia, em 1934, o que o leva a lançar avisos sobre os efeitos devastadores do turismo de massas (que, claro, caíram em ouvidos moucos).

Quetzal, 13,93€.

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3. Veneza

Marca de Água, de Joseph Brodsky

O poeta Joseph Brodsky (1940-1996) nasceu na URSS, de onde foi expulso em 1972, fixando residência nos EUA. Foi pouco depois de ter sido relegado ao exílio que ganhou o hábito de passar algumas semanas de Dezembro em Veneza, justificando assim a opção: “suporto muito mal o calor; e pior ainda as implacáveis emanações de hidrocarbonetos e sovacos”. Marca de água assenta numa experiência de 17 Invernos e também não é um típico livro de viagem, é antes uma sequência de meditações sobre arquitectura, pintura, música, beleza e a passagem do tempo, suscitadas pela cidade do Adriático.

Relógio D’Água, 13,05€.

4. Austrália

Terra nullius: Viagem aos antípodas, de Sven Lindqvist

Se dos livros de viagens espera apenas considerações amáveis sobre a natureza hospitaleira dos indígenas, a doçura do clima, a sapidez da gastronomia local e a beleza do crepúsculo sobre o mar, Terra nullius poderá ser um choque. Sven Lindqvist (1932-2019) andou pelo interior da Austrália – cruzando-se, por vezes, com o trajecto narrado por outro grande viajante, Bruce Chatwin, em O Canto Nómada – mas o seu foco está menos nos costumes pitorescos e nas paisagens de fazer perder o fôlego, do que na exposição ao mundo do triste destino a que os aborígenes australianos foram condenados pelo homem branco.

Tinta-da-China, 17,90€.

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5. Londres-Japão-Londres

O Grande Bazar Ferroviário, de Paul Theroux

Foi o primeiro livro de viagens do americano Paul Theroux (n.1941), que, ao longo das décadas seguintes iria tornar-se numa figura maior deste género literário, com uma vintena de obras publicadas (a que se soma uma trintena de romances). O livro narra uma viagem (maioritariamente ferroviária) realizada em 1975 e que parte de Londres no Expresso do Oriente, atravessa a Europa, a Turquia, o Irão, o Afeganistão, a Índia, o Sudoeste Asiático e o Japão, e regressa a Londres via Trans-Siberiano. Tem como principal virtude um olhar perscrutador e cáustico, que poderia ser, nos dias de hoje, acusado de racismo e incorrecção política se Theroux não fosse tão implacável com os seus compatriotas como é com indianos, singapurenses ou jugoslavos.

Quetzal, 15,50€.

6. Grã-Bretanha

Crónicas de Uma Pequena Ilha, de Bill Bryson

Bryson nasceu no Iowa em 1951 e viveu na Grã-Bretanha entre 1973 e 1995, ano em que, antes de regressar aos EUA, empreendeu uma viagem de sete semanas pela pátria adoptiva, em jeito de despedida e de balanço das mudanças registadas nos 22 anos decorridos desde a sua chegada. Bryson viajou de comboio, autocarro e a pé, e, com o seu olhar penetrante e a sua pena, por vezes vitriólica, vai casando descrições de cidades e paisagens e encontros com gente bizarra, com reflexões sobre a natureza do povo britânico. Está longe de ser um daqueles livros que descobre aspectos encantadores em todos os lugares por onde passa: por exemplo, diz de Bradford (West Yorkshire), que a sua “característica mais importante é fazer com que todos os outros lugares do mundo pareçam melhores em comparação”.

Bertrand, 18,80€.

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Duas obras são de ficção, é certo, e catapultaram os seus autores rumo ao estrelato na cena literária mundial (cada um recebeu o Prémio Nobel da Literatura); mas uma delas é um retrato fiel do último surto de peste negra em Inglaterra, durante o século XVII. Aqui tem três livros sobre outras pandemias, que não a Covid-19, para ler durante esta quarentena. De tão trágicas, pode ser que estas publicações o ajudem a pôr as coisas em perspectiva e a perceber que, afinal, não estamos assim tão mal e que podia ser bem pior. Fique em casa a ler. Proteja-se. A si e aos outros.  Recomendado: O que ler durante a quarentena?
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Agora que a propagação da Covid-19 exige que as pessoas evitem sair à rua e a grande maioria dos eventos estão cancelados, há que pensar em programas dentro de portas. Se gosta de temas que envolvam o meio ambiente, aproveite esta lista, onde damos a conhecer seis livros sobre sustentabilidade que podem ser encomendados online. De resto, saiba que já há livrarias da cidade a oferecer os portes de envio para promover a leitura por estes dias.   Recomendado: Sete séries a não perder este mês
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Luis Sepúlveda morreu esta quinta-feira, aos 70 anos, no Hospital Universitário Central de Asturias, em Oviedo, Espanha. Com quase toda a sua obra publicada em Portugal pela Porto Editora, o escritor chileno era presença assídua nos festivais literários nacionais. Há dois meses participara no Correntes d’Escrita, na Póvoa de Varzim, antes de ser diagnosticado com Covid-19. Da sua vasta obra, destacam-se O velho que lia romances de amor e a História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar. Mas desde o primeiro livro, o premiado Crónicas de Pedro Nadie, que conquistou a admiração dos leitores. Além de romancista, foi realizador, argumentista, jornalista e activista político. Detentor de vários prémios literários, Luis Sepúlveda é também conhecido pela sua veia dissidente – foi expulso da Universidade Lomonosov de Moscovo, por “atentado à moral proletária”, e pouco tempo mais tarde da Juventude Comunista do Chile. Para o recordar, seleccionámos cinco das suas obras, incluindo o seu último livro, O Fim da História. Recomendado: O que ler durante a quarentena?
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