Música, World Music, Mayra Andrade
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Entrevista a Mayra Andrade: “É importante defender a minha liberdade artística”

Mayra Andrade vai dar um concerto no Coliseu do Porto esta sexta-feira. Falámos com ela.

Luís Filipe Rodrigues
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É sempre problemático falar em “músicas do mundo”, no entanto é difícil evitar a expressão quando se escreve sobre Mayra Andrade. Afinal, ela é cabo-verdiana, nasceu em Cuba e viveu em vários continentes antes de começar a cantar e a ser conhecida em França. Hoje encontra-se radicada em Lisboa, mas continua a cantar e a viajar pelo mundo. Ou melhor, continuava. Em Março, foi forçada a cancelar uma digressão que, além do Porto e Lisboa, ia passar por cidades como Berlim, Hamburgo, Varsóvia, Londres ou Paris, e só agora é que começa a voltar aos concertos. Esta sexta-feira, dia 11 de Setembro, actua no Coliseu Porto Ageas, e no sábado vai dar dois concertos no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. O público fica em lugares sentados e relativamente distanciados, para garantir a segurança.

Nasceste em Cuba, mas cresceste entre África e a Europa. Viveste em diferentes países e ouviste muitas línguas. Isso influenciou a tua maneira de ver o mundo?
Completamente. Hoje olho para trás e penso que isso me preparou para a vida que me esperava. Desenvolvi uma capacidade de adaptação e também uma abertura de espírito que influenciou imenso a forma como vivo e a música que faço. É claro que nem sempre foi fácil, principalmente quando era uma criança, perder os laços que criava e tudo isso, mas pronto. Foi como foi e só tenho de estar grata.

Onde é que te sentes em casa?
Neste momento sinto-me em casa em Lisboa. Mas também me sinto em casa em Cabo Verde.

E em França?
Em França vivi muito tempo, tive muitas oportunidades, construí uma carreira muito bonita, mas acho que nunca consegui sentir-me em casa.

Estás a viver em Lisboa há quantos anos?
Vim para cá há cinco anos. Tinha necessidade de um estilo de vida mais calmo, mais próximo de algo que consideraria uma casa. Nunca tinha vivido cá, mas vinha a Lisboa desde que nasci. O meu avô era português e passei muitas férias em Portugal.

Actuaste na final da Eurovisão em Portugal, há dois anos, com a Sara Tavares, o Branko, o Dino D’Santiago e o Plutónio. Já havia uma relação entre vocês todos?
O único que não conhecia muito bem antes era o Plutónio. Mas conheço a Sara há muitos anos, e o Dino e o Branko também. Foi uma experiência muito enriquecedora, porque temos todos os nossos projectos a solo e raramente temos uma oportunidade de estar juntos. Ainda por cima num acontecimento tão importante e com tanta exposição. Sou muito grata ao Branko por aquele convite para representar esta Lisboa de hoje.

Sentes-te parte da “nova Lisboa” de que o Dino D’Santiago fala?
Completamente. Porque o feedback que tenho, tanto dos meus amigos artistas como do público, é que sou de Lisboa, que isto é casa. E que é casa em toda a sua diversidade e beleza. Portanto, como não me sentir lisboeta? Como não defender essa nova Lisboa, quando somos parte dela?

Se não me engano o Manga é o teu primeiro disco sem uma única canção em francês. Porquê?
Não fazia sentido. Parecia-me forçado, porque estava num momento muito mais lusófono da minha vida e tinha uma visão para o disco que havia de se sustentar independentemente de gravar em francês ou não.

Como reagiu a tua editora, que é francesa, quando disseste que não ias cantar em francês?
Passaram um ano a tentar que gravasse uma música em francês. Disse que se me enviassem uma música linda de morrer, a que não conseguisse resistir, a gravava, mas não ia procurar nada. E foi o que aconteceu. Mandaram-me duas ou três, não gostei de nenhuma e portanto não gravei. E não fiz de propósito para não gostar. Não gostei mesmo.

Compreendo.
Acho que às vezes é preciso pôr um bocado os pés no chão e esquecer um bocadinho o marketing. É verdade que há coisas que são importantes e que temos de fazer para ajudar a promoção do disco, mas também é importante defender a minha liberdade artística e a coesão do projecto.

Como é que olhas para esse disco agora, mais de um ano depois da sua edição?
Continuo a olhar com muita satisfação. Foi um disco que demorou dois anos a nascer, porque inaugurou uma etapa nova na minha música. Ao início, muita gente não entendia o que queria fazer e demorei a encontrar os parceiros certos para concretizar este sonho. Entretanto, as músicas já evoluíram imenso em palco, e sinto que podia ter ido mais longe aqui e ali, mas mesmo assim é um disco que me orgulho muito de ter feito. Tenho muito amor por ele. Gosto de dizer que cada disco é um retrato de quem sou naquele momento, mas talvez o Manga seja o disco mais fiel à essência de quem sou realmente. Porque, como diz o Miles Davis, é preciso tempo para nos tornarmos aquilo que realmente somos.

Coliseu do Porto. Sexta 11, 21.30. 25-30€

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