A travessia desta semana pelo mundo das canções novas até começa pela reciclagem de um notável êxito r&b dos anos 1990, mas o futuro é negro. Proteja-se, que daí em diante não faltam sintetizadores frios, colagens sonoras ousadas e muitas vozes criativas no centro mas também na periferia da pop, incluindo Sara Serpa. Ao fundo do túnel, de novo a luz acalorada do funk. Boa viagem.
Ventriloquism, o novo álbum da cantautora e baixista americana Meshell Ndegeocello, chega esta semana e pega em 11 temas familiares q.b. do repertório funk, soul, pop e r&b do período 1982-1995, reiventando-os com cores mais intimistas e abundante criatividade. Ao lado de "Sometimes It Snow in April" de Prince, "Private Dancer" de Tina Turner e "Smooth Operator" de Sade encontra-se esta releitura ponderada e à flor da pele do clássico das TLC.
Regresso entusiasmante dos quatro de Liverpool (bem, dos outros quatro de Liverpool) com uma canção em forma de transe barroco. Culpa do som do órgão e de vozes que sugerem uns Stereolab condenados a vaguear para todo o sempre pelos corredores de uma mansão gótica. Um novo álbum, sucessor de Gravity the Seducer, de 2011, está prometido para a segunda metade deste ano.
Metástases digitais com uma moldura vintage, colagens de sons alheios que tropeçam e andam aos círculos numa conversa sem bússola mas animada por sons de sintetizadores que criam um cenário de filme dos anos 1970. King Vision Ultra é o nome sob o qual se encontra o artista nova-iorquino Geng, também responsável pela editora PTP. "Below" está no álbum Pain of Mind.
Desde a década passada que a cantora e compositora Veronica Maggio acumula sucesso e galardões essencialmente no seu país, a Suécia, e arredores. A geografia do seu reconhecimento pode (e deve) alargar-se com "20 Questions", o primeiro single que lança cantado em inglês. Pop com ritmo marcial no refrão, mais próxima das estruturas apelativas de Robyn e Margaret Berger do que dos jogos formais do eixo The Knife/ Sugar Ray.
É editado esta semana Close Up, onde Sara Serpa dá forma sonora a textos de diversos autores, a sua voz rodeada pelo violoncelo de Erik Friedlander e pelo saxofone tenor de Ingrid Laudbrock. "Woman" pega em palavras da filósofa francesa Luce Irigaray para uma caminhada por pedras quase invisíveis, abandonando alicerces mais familiares da canção, evocando uma Nico com temperatura corporal reconhecível. Com o novo álbum, lançado pela Clean Feed, Sara Serpa marca uma década de carreira em Nova Iorque.
Além de compositora, a colombiana Lucrecia Dalt tem experiência na engenharia geotécnica, o que pode levar o ouvinte a imaginar texturas com o seu quê de mineral em "Tar", que anuncia Anticlines, o álbum que a RVNG Intl. lançará a 4 de Maio. Dalt declama sobre uma estranha calmaria marcada por gotejar rítmico digital.
Uma canção a dois tempos de um veterano que pouco liga a fronteiras entre o rap e o registo vocal soul. A primeira parte é um pequeno prodígio de hip-hop em estado líquido, como se a estrada e o pôr-do-sol não tivessem de facto fim, com tempo para todos os balanços de vida (há boas razões pessoais para o álbum que traz este tema se chamar No News Is Good News). A segunda parte, que na verdade é mais uma coda, entrega uma roll call em ambiente funk mais vintage. Tudo aqui exala saber-fazer.
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