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Quintas no Douro com programas especiais de vindimas

Chegou a época mais especial e aguardada no Douro, para a qual se trabalhou o ano inteiro. Conheça as quintas que abrem portas ao enoturismo com programas de vindimas, jantares vínicos, visitas, passeios e muito mais.

Mariana Morais Pinheiro
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De uma beleza que não passa de prazo, o Douro merece pelo menos uma visita por ano e a época das vindimas é a melhor altura para o fazer. A azáfama é grande no corte dos cachos, no encher das cestas com uvas e na pisa a pé nos grande lagares de granito, tudo isto enquanto o rio segue a sua vida lá em baixo e os socalcos preenchem a vista, numa paisagem que é Património Mundial da UNESCO.

No mês mais agitado do calendário para uma quinta vinhateira, há várias a abrir as portas a quem quiser ver e participar no trabalho das vindimas. Em jeito de incentivo para uma escapadinha, descubra os programas especiais desta época.

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Programas de vindimas no Douro

  • Viagens
  • Grande Porto

A Quinta da Pacheca celebra a época das vindimas com pompa e preparou não um, não dois, mas três programas que convidam a afiar as tesouras e a arregaçar as calças e as mangas das camisas. A partir de 7 de Setembro e durante um mês (mais coisa, menos coisa), os lagares graníticos da quinta enchem-se de uvas que darão origem a alguns dos melhores vinhos do Porto e do Douro. O programa mais completo começa às 10.00 com um mata-bicho, uma refeição que consiste num caldo de cebola, sardinhas assadas em fatia de pão de milho e vinhos da Quinta da Pacheca. Depois, devidamente equipados com chapéus de palha, lenços, tesouras de corte e baldes, os vindimadores seguem para as vinhas para o trabalho de colheita. No fim, e durante uma hora, é feita a pisa a pé, “ao som das concertinas que marcam o ritmo do esmagamento do fruto”. O custo da experiência, que inclui ainda visita guiada pela propriedade, almoço típico e prova de vinhos, é de 105€. Se optar por um programa mais curto, por 80€ poderá usufruir de tudo, excepto do mata-bicho e da ida à vinha; e por 40€ faz uma visita guiada pela vinha, pelos lagares, pela adega velha e pela garrafeira; uma prova de vinhos e ainda a muito aguardada pisa a pé. As reservas devem ser feitas através do 254 331 229 ou reservas@quintadapacheca.com.

Preços: 105€, 80€ e 40€/pessoa

  • Hotéis
  • Grande Porto

Também nesta quinta em Ervedosa do Douro, no coração do Alto Douro Vinhateiro, há dois programas preparados para Setembro. O de dia 7 está reservado exclusivamente para os hóspedes do hotel, mas o de dia 14 está aberto a todos os que se quiserem juntar para um dia diferente. As boas-vindas começam nos lagares da quinta, com a entrega do kit de vindima. Os participantes seguem, depois, a bordo de uma carrinha Bedford, para uma das parcelas de vinha da propriedade. A par da colheita, é lá que acontecerá o mata-bicho, a meio da manhã, composto por caldo de cebola e covilhetes de legumes e javali, acompanhados por vinho tinto da casta que será vindimada, além de um Quinta de Ventozelo Reserva Branco 2022 para refrescar as gargantas. Ainda antes do almoço na Cantina de Ventozelo – que contará com um menu de sabores regionais, com pratos como sardinha de São João em escabeche, salada de tomate coração de boi do Douro, rancho à moda de Viseu e queijo e rabanadas de vinho do Porto – haverá uma visita à Adega da Granvinhos, em Alijó, para uma prova de vinhos. 

Preços: 175€/adulto e 80€/criança (entre os 12 e os 17 anos).

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  • Hotéis
  • Grande Porto

As tesouras vão andar afiadas durante três dias na Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo. Nos dias 2, 9 e 16 de Setembro, o hotel membro da Relais & Châteaux desafia hóspedes e não hóspedes a “andarem pelas vinhas, fazerem o corte das uvas e a provarem os primeiros mostos”. A experiência não fica completa sem uma prova de vinhos de anos anteriores, um almoço no restaurante Terraçu’s e uma visita guiada ao Wine Museum Centre Fernanda Ramos Amorim, bem como à garrafeira histórica e à sala de barricas. 

Preço: 270€/pessoa

  • Atracções
  • Grande Porto

Além da “À Descoberta da Quinta da Roêda”, uma visita autoguiada que se desenrola ao longo de 11 paragens assinaladas por setas cor-de-rosa, que se vão espalhando pela quinta duriense, berço dos vinhos do Porto Croft, animação não falta por aqui, especialmente quando Setembro chega. Além do programa de lagarada, que pode ser requisitado mediante disponibilidade, e ao qual se pode juntar um belo piquenique (preços entre os 52€ e os 88€), esta quinta no coração do Pinhão assinala o início da época de vindimas com uma grande festa. A Harvest Party acontece no dia 6 de Setembro. O terraço do centro de visitas e o jardim dos lagares serão palco de showcookings, música e de uma degustação de vinhos de mesa e de vinhos do Porto da anfitriã Croft. A comida ficará a cargo de Milton Ferreira, chef do restaurante Rabelo, no The Vintage House, e do restaurante da Quinta do Portal. Arroz de pato; sanduíche de rabo de boi; mini hambúrguer com cebola caramelizada, bacon e queijo; tataki de atum com molho de gengibre; preguinhos de novilho maronês com redução de vinho do Porto; flatbread recheado com cogumelos e com queijo da Ilha ou leite-creme queimado no momento são algumas das propostas. As reservas devem ser feitas através do email visit@croft.pt.

Preço: 65€/Harvest Party

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  • Viagens
  • Grande Porto

A CP – Comboios de Portugal tem também uma iniciativa que desafia os passageiros a embarcar numa verdadeira experiência imersiva, com o objectivo de “descobrir as tradições, sabores e aromas únicos da região do Douro Vinhateiro”. Em modo de celebração da época das vindimas, nos domingos de 8 e 22 de Setembro convidam-no a ir à Festa das Vindimas do Douro, que acontece na Quinta da Avessada, em Favaios. O dia começa de manhã cedo na estação de Campanhã. A viagem até ao Pinhão será feita a bordo do Miradouro, o comboio com carruagens Schindler, fabricadas na década de 40, na Suíça, “com janelas panorâmicas, que permitem desfrutar da beleza natural da região do Alto Douro, paisagem classificada como Património Mundial da Unesco”. Uma vez na Quinta, a recepção é feita com petiscos e entrega de kit de vindimas. Depois da apanha das uvas, é tempo de recuperar energias com um almoço farto e típico, onde vai poder provar pataniscas de bacalhau, enchidos variados, pão de Favaios, sopa à lavrador, naco de vitela estufado em vinho tinto e variadas sobremesas regionais. Antes do regresso ao Porto, há ainda tempo para uma visita aos lagares e para a lagarada, onde a pisa a pé proporcionará bons momentos. Para fechar o dia, conte com uma prova documentada de vinho Moscatel no espaço da Enoteca.

Preços: 83,50€/adultos; 45€/crianças. O bilhetes podem ser adquiridos online.

  • Hotéis
  • Grande Porto

Assim que chegam à quinta, os convidados vestem-se a rigor com o “kit Douro” para colherem uvas com a equipa de viticultura de Churchill’s. O trabalho árduo pede um lanche a meio da manhã, ao qual se segue uma degustação dos vinhos do Porto da Churchill’s. A diversão atinge, por norma, o auge quando os convidados se juntam à equipa que vai pisar as uvas nos antigos lagares de granito, que datam de 1852. O programa termina com um merecido almoço, servido no instagramável Pátio das Laranjeiras. A refeição é composta por três pratos típicos da gastronomia portuguesa, acompanhada, claro, pelos elegantes e frescos vinhos do Douro da Churchill’s. 

Preço: 185€/pessoa. Mais informações através do email quintadagricha@churchills.pt.

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  • Viagens
  • Grande Porto

A região do Douro é sempre animada na época de vindimas e a Quinta do Portal participa nas festividades de 1 a 30 de Setembro. O programa especial para este ano começa às 08.30 com a recepção dos vindimadores, experientes ou amadores, na loja de vinhos. É lá que será feita uma breve apresentação, bem como serão distribuídos chapéus de palha, tesouras e baldes. Às 09.00, começa a apanha da uva nas vinhas da propriedade. A meio da manhã, depois de uma merecida pausa, os convidados seguem para uma visita guiada à adega desenhada por Álvaro Siza Vieira, que inclui prova do mosto. Depois, claro, será servido o muito esperado almoço “4 momentos 4 experiências” no restaurante Quinta do Portal, comandado pelo chef Milton Ferreira.

Preço: 100€/pessoa

Mais no Douro

Cabrito assado no forno a lenha, bochechas de porco bísaro, saladas de tomate coração de boi (quando é tempo dele), arroz de salpicão ou arroz de costela à lavrador, alheiras reinterpretadas à luz das novas tendências, tortas de laranja ou tartes de cereja de Resende. Do restaurante mais tradicional, onde se faz o mesmo prato da mesma forma há mais de 30 anos, ao espaço mais vanguardista, comandado por chefs com estrelas Michelin no currículo, a gastronomia duriense é rica e bem tratada. Andámos pela região vinhateira a meter a colher nos pratos dos melhores restaurantes, porque tão importante quanto os vinhos que aqui se fazem é a comida que os acompanha.

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  • Coisas para fazer

Se o mar não é a sua praia, o rio pode muito bem ser – e não faltam opções por estas bandas onde ir a banhos. As águas do Douro refrescam e tornam suportáveis os dias quentes de uma das mais belas regiões do mundo, considerada património mundial pela UNESCO, e são muitos os que optam por estender as toalhas e apanhar banhos de sol nas ruas margens. Com vistas de cortar a respiração para as vinhas em socalco e boas infra-estruturas de apoio, como guarda-sóis, casas de banho, bar, parque de merendas e de estacionamento, estas praias fluviais são óptimas escolhas na hora de refrescar o corpo e as ideias.

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  • Coisas para fazer
  • Caminhadas e passeios

O comboio

As carruagens são da década de 40 e foram restauradas para estas viagens. Não têm, por isso, ar condicionado, mas as janelas são amplas e à moda antiga, abrindo-se até meio, o que aumenta a interacção com a paisagem. A locomotiva é mais jovem, nasceu nos anos 60, e também tem um tom vintage.

A viagem

É uma das melhores e mais acessíveis formas de conhecer o Douro. Começa-se na Estação de São Bento às 9.25 e vai-se avançando calmamente até à Estação do Tua, onde se chega quatro horas depois. Nesse trajecto, o interesse aumenta à medida que se passa do quintal à quinta, altura em que o relevo ganha formas diferentes e os socalcos começam a aparecer. É um percurso de encontros e desencontros com o Douro, que se faz colado à janela, de preferência com algum calor à mistura. Há conversas entre passageiros de diversas nacionalidades, mas também com os barcos do rio – estas últimas começam com os apitos do comboio e são continuadas pelos acenos dos passageiros.

As paragens

A viagem tem várias pausas. A estação do Pinhão é uma delas, podendo-se admirar os painéis de azulejos com cenas da produção do vinho do Porto. Sendo a penúltima paragem do percurso Porto-Tua, pode-se sair ali e almoçar num dos restaurantes, com destaque para o Rabelo (no Vintage House Hotel). Já na Régua, há uma pausa de uma hora no regresso, que se pode aproveitar para um copo no Castas e Pratos. Quanto ao Tua, os passageiros têm quatro horas para almoçar no Calça Curta ou na Tua’Mercearia. Também podem visitar a estação, que é um pequeno museu dedicado aos caminhos de ferro.

O MiraDouro é um serviço diário com partida às 9.25 na Estação de São Bento e chegada às 12.28 ao Tua. Depois de uma pausa para almoço e contemplação do Douro, regressa às 16.34 e chega a São Bento às 20.55 (20.30 nos sábados, domingos e feriados). Custa 11,60€ em cada sentido e estará disponível até 30 de Setembro.

  • Coisas para fazer

Antes do vinho teve uma carreira militar, fez parte da primeira divisão de guardas da rainha de Inglaterra e esteve ao serviço das Nações Unidas no Chipre. Depois disso, uma passagem pela banca. O vinho surgiu por acaso?

Estive à volta do vinho toda a minha vida. Encontrei a minha esposa [Natasha Robertson] a 12 de Março de 1982, em Londres. Casámos em Setembro de 1989 e vim a Portugal em 1994. Entrei para a Taylor’s em Maio desse ano, mas só quatro anos mais tarde é que assumi responsabilidades dentro da empresa. O meu sogro queria que eu ficasse com a presidência para o milénio, por isso, em 2000, assumi oficialmente o cargo de director-geral. Mas, antes disso, a minha carreira militar chegara ao seu pico em Sandhurst [Real Academia Militar em Inglaterra], quando ganhei o prémio de melhor candidato do meu ano, o Sword of Honor. Por isso, depois do exército, fui para a banca. Queria divertir-me [risos].

Foi uma mudança drástica…

Uma das coisas que me define é que não descanso, quero fazer coisas. O sistema militar é mais programado e, para quem quer fazer coisas, não é tão acelerado, daí a passagem para a banca. Em seis anos fazes um grande caminho. Entras com mil euros por mês e passados dois anos podes estar com 100 mil. Mudar para Portugal não foi fácil. Era um país novo, um negócio novo, tudo era diferente. Mas a Taylor’s tem mais de 300 anos e uma empresa com esta idade vale muito. São poucas as que existem no mundo assim. É um negócio da família da minha esposa e eu quis aprender mais. Além de que as minhas experiências diferenciadas ajudaram-me muito. A nível militar, a disciplina, e a nível de investimento bancário, nas compras, na gestão de pessoas, quintas e balseiros.

Como é que estava o sector do vinho do Porto quando cá chegou, em meados dos anos 90, e o que é que aconteceu entretanto?

O vinho do Porto passa sempre por ciclos. Uns bons, outros menos bons. O final dos anos 80 não foi bom, por exemplo. A minha vinda para cá era com o intuito de adicionar valor à empresa. Havia a necessidade de diversificar o nosso peso em outros mercados. Os EUA e o Canadá eram mercados pequenos e agora são substanciais. Quando entrei tínhamos 30 ou 35 mercados e hoje estamos em 103. Há mais internacionalização e, apesar da tradição, temos uma história de inovação. Lançámos um vinho do Porto rosé, o Pink Croft, que faz precisamente hoje [14 de Fevereiro] 19 anos. Tive a ideia em 2005 mas demorou a ser posta em prática. Só em 2008 é que foi para o mercado e acabou por ter uma grande aceitação.

Esse rosé foi uma tentativa de aproximar as novas gerações do vinho do Porto?

Uma grande vantagem do vinho do Porto é que ele tem uma grande autenticidade e as novas gerações querem isso. Hoje, as pessoas até podem beber menos, mas quando bebem, bebem com mais qualidade e até estão dispostas a pagar mais por isso. Pagam a autenticidade, a qualidade, a história do negócio, o sabor… E toda a gente gosta do sabor do vinho do Porto, porque tem fruta, tem estrutura, é doce. Mas tivemos uma tendência muito grande a erguer barreiras perante o consumidor, isto é, em dizer-lhe que ‘com o vinho do Porto faz-se assim e serve-se assado’. Com o Croft Pink não. Não há regras. Com ele fazes o que quiseres, fazes cocktails, por exemplo. Há quem faça granizados.

Mas essa cultura não faz falta? Uma vez vi dois turistas na Avenida dos Aliados a beber vinho do Porto pelo gargalo da garrafa...

Pois…

O The Yeatman, o vosso hotel vínico de luxo, foi pensado para promover essa cultura?

Quando decidimos construir o The Yeatman comecei a viajar pelo mundo a promover o destino. Nós nunca promovemos o The Yeatman, promovemos o destino. O Porto é rico em história, tradições, cultura, arquitectura, comida e bebida e não tinha um hotel que lhe fizesse justiça. Temos cinco restaurantes com estrelas Michelin, um com duas estrelas que é o nosso, e mais 15 ou 20 que podem chegar à estrela. Temos novas lojas, temos coisas fantásticas que quando cá cheguei não existiam. Nessa altura senti que éramos o terceiro mundo da Europa. Hoje estamos na primeira linha e esta transformação, do meu ponto de vista, tem a ver com a alteração da confiança. Ninguém acreditava na nossa cidade. Mas [hoje] os portugueses exigem cada vez mais e melhor.

Investiram 32 milhões na sua construção. Em 2010, quando abriu as portas, as pessoas estavam preparadas para um hotel assim?

Eu analisei o mercado. 300 mil pessoas visitam, por ano, as caves de vinho do Porto. Se uma pessoa está interessada em vinho do Porto, então está interessada em vinhos e isso leva a que esteja interessada em boa comida também. [Portanto] construímos um hotel dedicado ao vinho. Não só ao vinho do Porto, mas sim aos vinhos portugueses, com comida de qualidade, no sentido de chegar à estrela Michelin, e com 82 quartos. Os preços por noite eram de 260€. As pessoas diziam: ‘ele está maluco’ ou ‘o seu hotel é lindíssimo mas é o dobro de um quarto no Sheraton’. Eu respondo que nós oferecemos mais, oferecemos vistas fantásticas, oferecemos individualidade. O nosso segmento é de luxo, de lazer. O Sheraton é de conveniência e de negócios.

Qual foi a vossa taxa de ocupação no ano passado?

Foi de 84%.

Ainda sobre a cultura do vinho e o turismo, o vosso projecto World of Wine tem data prevista de abertura no Verão de 2020. São 100 milhões euros, 30 mil metros quadrados...

Seis museus, dez restaurantes, wine bars, lojas, estacionamento, uma nova praça para a cidade. Há uma grande sinergia nisto. Para uma empresa de vinho do Porto, como é o nosso caso, onde temos consumidores interessados em aprender, quando eles vêm conhecer as nossas instalações, em duas horas temos uma grande oportunidade para lhes dar informação e também para estabelecer uma ligação emocional com o consumidor final. Isto ajuda o nosso core business. Ficam a entender mais sobre a nossa cidade e isto é muito positivo. Mas não promovemos apenas o vinho do Porto, mas sim todos os vinhos portugueses.

Tem, portanto, uma vertente pedagógica?

Sim. Esta cidade tem dois grandes desafios. Primeiro, temos uma época baixa longa e poucos museus, por isso, se queremos captar pessoas na época baixa, precisamos de actividades que eles possam fazer dentro de portas. O segundo desafio é passar a média de 2,6 noites [que os turistas permanecem na cidade] para 3. Temos de os captar. Eu vou promover vinhos do Porto e vinhos de mesa dos meus concorrentes, mas vale a pena porque é por um bem maior. Vamos ter um museu de vinhos portugueses de mesa porque não há nada sobre isso na nossa cidade e vai ser uma empresa que não está envolvida em vinho de mesa que vai construir este museu. Com este museu vamos explicar a metodologia, a região, o solo, o clima, o trabalho agrónomo, o envasilhamento, o processo de fábrica. Vamos chamar a atenção para as especificidades das várias regiões do nosso país. Depois, vamos pôr as pessoas a provar vinhos para descobrirem o seu estilo.

Mas além desse museu há outros.

Vamos ter um museu sobre a história da cidade, outro dedicado à cortiça, outro sobre os copos nos últimos oito mil anos, um dedicado à moda e design e ainda um museu para exposições temporárias, que poderá receber pintura, escultura, carros...

E agora a actualidade. O vosso volume de exportação para Inglaterra é de 35%. É substancial. Com o Brexit, como é que vai ser?

A Inglaterra é um mercado muito importante para nós e, obviamente, agora com o Brexit está tudo na mão de Deus. Não sei. Se Theresa May não sabe, eu não sei. Eu tenho uma opinião – é que ela é maluca em não alterar a sua estratégia quando a volta foi contra. É ridículo. O Brexit é ridículo do meu ponto de vista. Obviamente que há riscos para o nosso negócio porque somos muito dependentes do mercado. Se [o Reino Unido] sai sem acordo, o valor cambial vai cair, vai ter impacto no nosso negócio, vai ter impacto em tudo e all bets are off.

Ainda antes dessa possível saída da União Europeia aconteceu a Climate Change Leadership, de 5 a 7 de Março, onde várias personalidades, como Al Gore, estiveram presentes. De que forma a indústria de vinho pode mitigar os efeitos das alterações climáticas?

A base da produção de vinhos é agrícola, ou seja, somos lavradores. Usamos a palavra terroir, mas a implicação de usarmos essa palavra é sabermos exactamente de onde vêm os nossos vinhos. E por que é que é importante? Porque há algumas especificidades no vinho que outros produtos agrícolas não têm. Temos uma planta forte, muito resistente, que podes plantar em locais remotos, problemáticos, com temperaturas altas e com pouca água. Mas é também um fruto sujeito a doenças, infecções e isto é um problema para os agricultores. O nosso sector é importante. Somos o alimento socioeconómico daquela região, ou seja, se tiras a videira do vale do Douro não há nada lá. Nós somos responsáveis por zonas remotas. E podemos usar toda esta nossa informação. Muitos negócios pensam voltados para si próprios, mas a verdade é que as alterações climáticas atingem a tua quinta e a do vizinho. É o mesmo desafio. Eu preciso de dar o braço ao meu vizinho. Vamos concorrer em história, qualidade, blá, blá, blá, mas não podemos concorrer com alterações climáticas. A base é isto.

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