Num mundo saturado de imagens, a fotografia acaba por ser banalizada, mas não é por isso que deixa de ser uma boa forma de entender o que nos rodeia. Estes livros de fotografia dão uma ajuda.
Ao início, os planos para o futuro passavam apenas por aliar o design à arte, através de projectos interactivos. Teresa Freitas, fotógrafa de 29 anos, ainda não sabia que a fotografia lhe tomaria conta da vida e que passaria a viver exclusivamente dela. “Durante os meus anos na universidade comecei a fotografar com o telemóvel”, conta à Time Out. Fotografava o que lhe saltava à vista na rua. Ao mesmo tempo, as aplicações de tratamento de imagem generalizavam-se e, de forma intuitiva, permitiam fazer colagens, criar camadas e brincar com as cores. A sua abordagem tornou-se então mais “criativa”.
Daí até surgirem os primeiros convites para trabalhar com marcas internacionais não demorou muito. “Comecei a desenvolver trabalho comercial, mas nunca pensei que fosse ser algo a tempo inteiro, que me permitisse ter um rendimento para viver”. O processo foi gradual. Na universidade, recorria sempre à fotografia para desenvolver os projectos do curso de Artes e Multimédia. Mas a sua identidade visual começou a delinear-se quando quis aprofundar conhecimentos sobre como retirar o máximo partido de programas dedicados ao tratamento de imagem, como o Lightroom ou Photoshop. “Percebi o seu potencial e o que podia fazer com as imagens”.
“Queria perceber o que podia fazer para alterar a estética e a percepção da fotografia”, explica. E encontrou a resposta na cor. “É através dela que consigo subverter o que vemos”. Ao longo dos anos, foi deambulando pelas ruas das cidades que visitava e assim surgiu a série fotográfica “Cinematic”. Este é não mais do que um conjunto de fotografias que pretende remeter quem as olha para uma atmosfera cinematográfica, quase como se se tratassem de um plano de um filme. “Não quero retratar algo tal e qual é no mundo real”. Afinal de contas, é isso que acontece com a arte.
“Estas alterações não mexem com a essência da imagem. É só um lado mais criativo a ser posto em prática”, atira. Marcas como a Chloé, Dior ou Netflix, por sua vez, procuram-na com outros objectivos. Recorrem a Teresa pelo seu lado criativo, mas também pela identidade visual pela qual se tornou conhecida. A par de tudo isso, apresenta-lhes um projecto que se adequa à mensagem que a marca quer passar. A produção é relativamente simples e feita em casa – a maior parte das campanhas foram mesmo fotografadas no jardim dos pais. “Enquanto que algumas marcas procuram pessoas que dão a cara pelo produto, eu estou lá para criar algo”.
Apesar da paragem que a pandemia provocou em muitos sectores, os trabalhos continuam a aparecer. De momento, a série fotográfica é um projecto em curso “sem data para estar terminada”, diz. As viagens, por agora, pararam, mas isso não implica deixar de criar. Nestes tempos de confinamento, a Subject Matter, galeria online londrina que representa a artista, lançou as Lockdown Commissions, um projecto que consiste na criação de obras únicas de raiz. “Os clientes preenchem um breve inquérito sobre o que gostam no trabalho do artista” e depois é desenvolvida uma criação do zero. Até agora, já enviou fotografias para clientes no Japão, Reino Unido e Índia.
Mas o que Teresa pretende é conseguir fotografar o que existe em seu redor com uma palete de cores pastel que nos transporta para uma dimensão em que o mundo é mais leve e alegre.
+ Portefólio: O mosaico iraniano de José Fernandes