Amadora BD
Amadora BD/ Câmara Municipal da Amadora
Amadora BD/ Câmara Municipal da Amadora

Amadora BD: seis exposições a não perder

A nova edição do Amadora BD vai soprar as velas de algumas das mais emblemáticas personagens das histórias aos quadradinhos.

Raquel Dias da Silva
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A Amadora é “a cidade da BD”. Estas palavras lêem-se na parede de um túnel a caminho do Fórum Luís de Camões, que foi durante muitos anos o principal pólo do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora. O que começou por ser apenas mais um salão de banda desenhada é hoje a maior festa de tiras e vinhetas do país, mas entretanto o núcleo duro mudou-se para o antigo Ski Skate Amadora. É lá que se realiza, pelo terceiro consecutivo, a edição deste ano, que arranca a 19 de Outubro e se prolonga até dia 29.

“O I Salão de Banda Desenhada realizou-se em 1990, no edifício da Câmara Municipal, com as principais exposições na actual Galeria Artur Bual. Lembro-me que conheci na altura um Manel Cruz [dos Ornatos Violeta] muito novo, vencedor de um dos prémios do concurso de banda desenhada”, recorda Ricardo Blanco, ilustrador e realizador de cinema de animação. Antes, ele próprio apresentara uma proposta à autarquia para um festival. A ideia era expôr jovens talentos e homenagear O Mosquito, o mítico jornal de banda desenhada portuguesa, fundado em 1936 pelo amadorense António Cardoso Lopes, mais conhecido por TioTónio. Mas já havia um projecto em fase adiantada de concretização. Era precisamente esse primeiro salão, que não era suposto repetir-se e onde o editor Rui Brito, da Polvo, também esteve presente.

“Participo desde o início com uma banca de fanzines. No segundo ou no terceiro ano, comecei a montar exposições. Lembro-me que numa das edições, já na Fábrica da Cultura, organizámos uma de um autor brasileiro, o Arthur Garcia. Estivemos 36 horas, sem parar, a pintar e a mobilar tudo para a inauguração”, conta o responsável pela editora de banda desenhada Polvo, que regressa com um stand na área comercial, bem como lançamentos e apresentações de autores portugueses e brasileiros (dia 21, às 18.00; dia 28, às 14.00, às 14.20 e às 18.00; e dia 29, às 14.20).

O Amadora BD, como é carinhosamente apelidado, é também, desde sempre, um evento para visitar em família. “O meu filho começou por ir de carrinho de bebé, depois começou a fazer o percurso pela minha mão e mais tarde a correr os stands, a desenhar nas salas de animação para crianças, a fugir para fora do recinto e a meter conversa com os seguranças que lhe davam rebuçados”, lembra o professor de economia Rui Cartaxo, fã de quadriculados e quadradinhos, que se tornou habitué desde a primeira vez que visitou o festival, em 1993. “Estava-se ainda no tempo da mítica Fábrica da Cultura [o actual Parque da Mónica], cujo pé direito permitia soluções arquitectónicas e cenográficas de grande arrojo”, acrescenta Mário Freitas, que estará presente este ano com o lançamento de Vinil Rubro, com argumento do próprio e desenho de Alice Prestes (sessões de autógrafos nos dias 22, das 17.00 às 19.00, e 29, das 17.00 às 18.00), e A Fórmula da Felicidade – Edição Integral, com argumento de Nuno Duarte, desenho de Osvaldo Medina e cores de Catarina Oliveira, Ana Freitas, Patrícia Furtado e outros (sessões de autógrafos nos dias 21, das 18.00 às 19.00; 22 e 29, das 15.00 às 16.00).

Já o actual poiso do festival apresenta as suas limitações, mas há três anos que se tem transformado para receber dezenas de exposições, sessões de autógrafos, visitas guiadas, debates e oficinas para todas as idades. Nesta edição, destaca-se a retrospectiva comissariada pelo director do Museu do Cartoon e BD de São Francisco, Andrew Farago, que celebra “85 anos do Super-Homem”. Mas esta não é a única exposição a soprar as velas de algumas das mais emblemáticas personagens das histórias aos quadradinhos.

Ao todo, estão previstas 13 exposições – dez no antigo Ski Skate Park, duas na Galeria Municipal Artur Bual e uma na Bedeteca da Amadora –, incluindo uma dedicada aos 60 anos da Turma da Mónica, que trará a Portugal o autor brasileiro Maurício de Sousa. Entre os convidados, encontram-se ainda Bob McLeod, Mick Gray, Marco Ghion, Chloé Cruchaudet, João Fazenda, Derradé, Filipe Andrade, Jorge Joelho e Joana Afonso, entre muitos outros. A inauguração, marcada para esta quinta-feira, 19, é grátis. Nos restantes dias, o bilhete custa entre 2€ e 5€, mas recomendamos o livre-trânsito a 15€.

Amadora BD. 19-29 Out, Seg-Qui 10.00-20.00, Sex-Dom 10.00-21.00

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Seis exposições a não perder

85 anos do Super-Homem

Nasceu da imaginação de Jerry Siegel e Joe Shuster, levantou voo pela primeira vez há 85 anos e tornou-se em menos de uma década num herói global, reconhecido por fãs em todo o mundo. Comissariada pelo director do Museu do Cartoon e BD de São Francisco, Andrew Farago, esta exposição comemorativa traz a Portugal desde inúmeras obras de arte originais até reconhecidos ilustradores internacionais, como Jon Bogdanove, Bob McLeod e Mick Gray, bem como Lawrence Klein, director do Museu do Cartoon de Nova Iorque, e o desenhador Miguel Mendonça, que estará presente em representação da chancela portuguesa.

Mônica – Sempre fui Forte

A mais importante personagem da história da banda desenhada do Brasil não tem falta de fãs em Portugal. Na Amadora, até há um parque em sua homenagem: o Parque da BD – Turma da Mónica/ Maurício de Sousa, erigido no espaço onde se situava a Fábrica da Cultura, local onde durante vários anos se realizou o Amadora BD. Agora que se comemoram os 60 anos da Turma da Mónica, “Mônica 60 anos: Sempre fui forte” reúne tiras originais, painéis instagramáveis e uma TV com algumas temporadas de animação da versão Mónica Toy. O autor Maurício Sousa também vai marcar presença.

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45 anos de Garfield

Quem é que não conhece o gato comilão que adora lasanha e detesta segundas-feiras? Publicado pela primeira vez a 16 de Junho de 1978, o Garfield é hoje um dos mais conhecidos – e populares – personagens de banda desenhada. O ponto alto desta mostra são os originais de Jim Davis, em formato de tiras simples, quando se destinavam à publicação diária, ou tiras duplas, para as publicações aos fins-de-semana, que fazem parte da colecção da Galerie du 9ème Art, em Paris, e vão estar patentes em Portugal pela primeira vez.

75 anos de Tex

A exposição comemorativa do 75.º aniversário do Tex, um dos personagens de western mais reconhecidos internacionalmente, vai estar patente na Bedeteca da Amadora e traz a Portugal um dos maiores desenhadores de Tex Willer, o italiano Marco Ghion. “Com detalhes incríveis da cultura dos índios e dos hábitos da época, o leitor é transportado para o ambiente em que se passavam as aventuras”, promete a organização.

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As muitas mortes de Laila Starr

A nomeação para um Eisner Award em 2022 confirmou aquilo que muitos já sabiam: Filipe Andrade é um dos ilustradores mais talentosos do panorama da BD mundial. Este ano regressa ao núcleo central do Amadora BD com uma exposição dedicada ao universo de As muitas mortes de Laila Starr, que tem argumento de Ram V e foi recentemente publicado em Portugal pela G. Floy. Promete-se uma experiência imersiva, entre a mitologia hindu e as questões universais da vida e da morte.

Apesar do autor ser estrangeiro, o livro ter sido originalmente publicado lá fora e haver, nos prémios Amadora BD, uma categoria que premeia a Melhor Obra Estrangeira de BD editada em Portugal, As muitas mortes de Laila Starr está nomeado para a categoria de Melhor Obra de Banda Desenhada de Autor Português – o autor português será o português Filipe Andrade, que assina o desenho.

O Grande Gatsby

Jorge Coelho já tem um extenso currículo na tão disputada indústria dos comics americanos. Agora, temos a oportunidade de descobrir, de uma outra forma, a adaptação que fez, em conjunto com o argumentista Ted Adams, do romance de F. Scott Fitzgerald, prestes a ser publicado em Portugal com a chancela de A Seita. 

Três perguntas a Miguel Mendonça

Licenciado em design gráfico, Miguel Mendonça acabou por se tornar o primeiro português a desenhar volumes da saga Detective Comics, uma das mais antigas da DC.

Como começou a fazer banda desenhada?
Eu sabia que queria tirar um curso relacionado com arte, mas não sabia muito bem o quê. Não pensava em banda desenhada, porque não via ninguém à minha volta a fazer. Pensar que, quando crescesse queria trabalhar no Batman, era mais ao menos como dizer “gostava de ganhar um Óscar”. Fui parar ao design gráfico, mas sempre que fazia pausas aproveitava para me dedicar às minhas bandas desenhadas. Depois decidi experimentar, naquela de “e se”, e as coisas começaram a acontecer. Trabalhei mais ao menos dois anos com a Zenescope, antes de receber um convite da DC.

Como é que é trabalhar para a DC?
Receber uma primeira proposta para trabalhar na Wonder Woman foi um sonho alcançado. Fiquei muito contente, mas foi um bocadinho surreal ao mesmo tempo. Depois é aprender a lidar com o peso da responsabilidade. No meu caso, já tinha experiência por ter trabalhado numa editora mais pequena, que me ajudou a saber lidar com a pressão. Como freelancer, é preciso muita disciplina, rigor e organização. Tento trabalhar durante o dia e descansar à noite, o que muitos freelancers não conseguem. Para conseguir cumprir prazos, convêm fazer uma página por dia, o que são pelo menos umas doze horas de trabalho.

Tem tempo para ler banda desenhada?
Quando acabo um trabalho, não é propriamente a primeira coisa que me apetece fazer. Mas tenho como influência autores portugueses, que trabalham para a Marvel, como o Filipe Andrade, o Jorge Coelho e o Nuno Plati. Já agora o Ricardo Tércio [que morreu em 2019, aos 43 anos] também, que foi um dos primeiros a colaborar com a Marvel. Eles foram muito importantes para me fazer perceber que o sonho era possível.

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