‘Corpo Vegetal’ e mais sete novidades literárias

No novo romance de Julieta Monginho, a dicotomia consentimento versus abuso sexual ganha protagonismo à medida que se conta a história de Mimi, que se debate com as consequências devastadoras que uma agressão desta natureza tem na vida de quem a sofre. Tudo acontece depois de conhecer Samson X, o célebre escritor americano cujo livro estava a traduzir, e a questão que se impõe é se, mesmo no meio da dor e do trauma, é possível encontrar um novo fôlego.

Corpo Vegetal, de Julieta Monginho. Porto Editora. 176 pp. 16,65€ (lançamento a 9 Set)

Inyensi, uma barata, foi a designação dada aos tútsis do Ruanda durante décadas e foi com o argumento de que aquele povo mais não era que do um insecto desprezível que a violência ganhou rédea solta até 1994, quando em cerca de cem dias perto de um milhão de pessoas foram brutalmente assassinadas. Entre elas, quase toda a família de Scholastique Mukasonga, que anos mais tarde, em França, se vê rodeada de fantasmas que a impelem a escrever.

Inyenzi ou as Baratas, de Scholastique Mukasonga. Livros do Brasil. 176 pp. 16,65€ (lançamento a 19 Set)

Mais reconhecida pelo seu papel como a terapeuta Jean Milburn em Sex Education, Gillian Anderson desafiou mulheres de todo o mundo a partilharem os seus desejos e as suas fantasias sexuais mais ousadas. O resultado é este livro, que junta centenas de cartas anónimas, incluindo a da própria autora, sobre os seus sentimentos mais profundos e íntimos, desde a vontade de ter prazer com alguém proibido a imaginar cenas com múltiplos parceiros.

Desejo, de Gillian Anderson. Albatroz. 396 pp. 21,10€ (lançamento a 19 Set)

Como nos tornamos quem somos a partir da escrita e da memória? É a pergunta a que Eliane Brum se propõe responder, e fá-lo através de um relato-itinerário despudorado acerca de uma menina que parecia estar sempre a piscar o olho à morte. Essa menina, ela própria, revela neste livro como foi resgatada por lugares e personagens fantasmáticos, desde a irmã morta, que é afinal a mais viva entre todos, até à avó, comedida em tudo menos na imaginação.

Meus desacontecimentos, de Eliane Brum. Companhia das Letras. 128 pp. 14,95€ (lançamento a 23 Set)

Quantas mulheres artistas conhece? Do assombroso trabalho das artistas latino-americanas do pós-guerra às mulheres que estão a definir o conceito de arte na actualidade, Katy Hessel conta a história que faltava contar, desafiando o status quo com a inclusão de novas formas de arte até aqui ignoradas ou menosprezadas. A ideia surgiu em 2015, quando entrou numa feira de arte e percebeu que, entre milhares de obras, nenhuma era de uma mulher.

A História da Arte Sem Homens, de Katy Hessel. Objectiva. 528 pp. 34,95€ (lançamento a 23 Set)

No novo romance de José Eduardo Agualusa, discutem-se questões de identidade e de pertença, subvertendo estereótipos e ideias feitas, ao mesmo tempo que se expõem algumas das muitas contradições, umas trágicas, outras irónicas, do processo colonial português. A protagonista é Leila Pinto, que conta a história de amor entre os seus avós, Jan e Lucrécia, e ao fazê-lo nos dá a ver uma história possível (ou impossível) do Reino do Bailundo e da Angola contemporânea.

Mestre dos Batuques, de José Eduardo Agualusa. Quetzal. 272 pp. 18,80€ (lançamento a 26 Set)

Ao passear-se por um museu parisiense, Wiener cruzou-se com uma colecção doada no século XIX por um antepassado astríaco e acabou a descobrir um rasto de violência e pilhagem, e um filho bastardo que deu origem à sua linhagem peruana. Com ternura e um humor irreverente, decidiu então resgatar do arquivo familiar uma história íntima sobre filiação e amor, e as relações de parentesco nas quais colonizadores e colonizados se fundem.

Retrato Huaco, de Gabriela Wiener. Antígona. 166 pp. Preço por anunciar (lançamento a 7 Out)

Al Pacino é uma figura incontornável para várias gerações. Agora, pela primeira vez, conta-nos a sua história, que é, ela mesma, a história de várias décadas de cinema e de cultura. Desde o seu primeiro papel em 1971, em Pânico em Needle Park, até aos dias de hoje, Sonny Boy revelam-se um relato completo de todos os grandes papéis que desempenhou e das relações que marcaram a sua vida pública e privada, mas também da sempre difícil relação de equilíbrio entre dinheiro e criatividade

Sonny Boy, de Al Pacino. Presença. 320 pp. 21,90€ (lançamento a 20 Nov)