Rua da Graça - a mais resistente
Depois de mais de um ano de caos a enfurecer comerciantes, uma nova Graça surgiu do pó das obras. O Largo da Graça ganhou outro aspecto, os passeios ficaram mais largos e até um coreto nasceu mesmo a tempo dos Santos Populares. Na Rua da Graça turistas e moradores convivem pacificamente e aos negócios históricos juntaram-se cafés com crepes e brunches vegetarianos. Comidas à parte, este continua a ser o bairro com as melhores vistas.
Há coisas com graça, ou não estivéssemos na Graça. Veja-se o caso de Luís Dias, proprietário da Saga, a pastelaria mais concorrida da rua, que abriu portas em 2016 no espaço de uma antiga loja de roupa da família, mas que parece estar ali desde sempre. Luís queixava-se de não haver sítio na rua para comprar bolos e agora vende pastéis de nata (95 cêntimos cada) dignos das listas dos melhores da cidade. É esperar pelos próximos concursos.
Os gulosos ganharam vários poisos na rua nos últimos tempos, mas há que treinar o sotaque com os muitos turistas que ali passam em direcção ao Miradouro da Graça, que em breve ganhará um funicular. Principalmente se quiser pedir um crepe doce ou salgado no Le Bar à Crêpes, gerido por um casal francês, onde um Louboutin, uma Coco Chanel ou uma Marion Cotillard fazem parte da ementa. Claro que se for almoçar uma das doses generosas do Pitéu da Graça (experimente o bacalhau à Pitéu, a 13€) não terá fome para comer em mais lado nenhum. Nem no vegetariano Graça 77, a funcionar há um ano com um brunch ao domingo com panquecas vegan (8,5€ ou 16€, dependendo da quantidade), nem no clássico Satélite, nem na Tasca do Jaime, onde a bem dizer o fado vadio aos domingos e feriados é o verdadeiro pretexto para lá entrarmos.
Por estas bandas todos querem dar um ar da sua graça e nem Shepard Fairey, o autor dos cartazes da campanha Hope, de Obama, escapou (na foto). Em Setembro de 2017, deu uma nova paisagem à rua com um mural de uma mulher com um cravo na espingarda num prédio na Rua Natália Correia, agora a servir de cartão de visita para a zona. E por falar em Natália Correia, antiga moradora da Graça, altura para beber um café com cheirinho no Botequim, inaugurado pela poetisa em 1968.
Outro dos lugares históricos da rua é a alfaiataria San Giorgio, um dos melhores sítios da cidade para fazer fatos por medida (para homem) e com fichas de clientes de várias partes do mundo.