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Fomos falar com Flix, um discreto artista venezuelano que agora chama casa a Lisboa, e descobrimos um currículo surpreendente, que passa pela Fundação Cartier e a Bienal de Veneza.
Em 2009, Flix ganhou o primeiro prémio do Salón de Jóvenes da FIA, na Venezuela, quando não passava de um outsider, um artista de rua. Seis anos mais tarde, em 2015, também como artista emergente, representou a Venezuela na Bienal de Veneza, e em 2018 foi convidado para uma grande exposição da Fundação Cartier dedicada à geometria na América Latina, a “Southern Geometries, from Mexico to Patagonia”. Mas só a pouco e pouco nos contou tudo isto.
Em Lisboa, a história de Flix começou em 2017: “Fui convidado pela Câmara Municipal para participar no festival Muro. Era para fazer só uma intervenção de duas semanas, mas como costumo trabalhar com a comunidade, acharam que era melhor fazer uma residência artística e então fiquei dois meses a trabalhar com o bairro das Salgadas, em Marvila. Daí saíram mais projectos e mais coisas, até que decidi ficar. Depois nasceu a minha filha, em Lisboa... Fiquei.”
Ficou, e a trabalhar com as comunidades dos bairros lisboetas. “A ligação com a comunidade é uma das coisas mais importantes do meu trabalho. Porque não estás só a fazer uma coisa decorativa, estás a envolver a comunidade, o que faz com que eles sejam os co-criadores. Eles transformam a sua realidade e a maneira de sentir e olhar o seu espaço. Estando envolvidos, o mural não é só uma coisa 'gira', é uma coisa mais importante, desenvolve um sentido de pertença, de orgulho”, explica Flix. Num dos murais do bairro das Salgadas, Flix elege, nas suas habituais formas geométricas, as aves emblemáticas dos dois países – o turpial da Venezuela e o Galo de Barcelos de Portugal – como forma de representação de uma ligação entre os dois países.
Depois, em 2018, foi escolhido pela Associação de Moradores do Bairro das Amendoeiras para pintar os respiradouros de Metro da estação de Chelas. Regressou ao Muro em 2019, uma edição que teve como mote a música e como lugar o Lumiar. Neste bairro pintou 24 dos seus emblemáticos totens-robot em caixas de electricidade, uma intervenção também ligada aos moradores do bairro: “Nas caixas aparecem os nomes de géneros musicais de nacionalidades residentes, como flamenco, quizomba, tarantela, kuduro, salsa...” Em 2021 foi convidado pela Hoopers para apresentar o desenho para dois campos de basquetebol, um em Penafiel, outro em Lisboa.
Ainda o campo de basket cheirava a pintado de fresco e já Flix preparava as obras para a Art Miami, a segunda maior feira internacional de arte moderna e contemporânea. Vai expô-las no stand da Ranivilu Art Gallery, especializada em abstracção geométrica e arte cinética e uma das 270 galerias participantes. Flix expõe na Ranivilu todos os anos desde 2016, tendo já apresentado aqui duas individuais: “Kaleidoscope” (2017) e “Change” (2019).
A abstracção geométrica é a linha dominante do actual trabalho de Flix, a par de uma outra que se centra nos desenhos e nos padrões geométricos dos tecidos das culturas ancestrais dos povos indígenas. Na verdade, uma e outra não se excluem; como nos explica, uma resultou da outra. Essa evolução pode ser vista nos totens-robots, “um híbrido de passado e futuro”, peças que já desenvolve há alguns anos e a que vai voltando regularmente. Inicialmente estes totens partiam dos desenhos geométricos indígenas, a que foi “começando a subtrair coisas, tornando-os cada vez mais abstractos, e foi isso que levou à actual linha de abstraccionismo geométrico”.
Dois destaques e uma curiosidade
São mais de 30 as participações de Flix em festivais e exposições que apresenta no seu CV abreviado. Era obrigatório falar também na instalação “Portal of Consciousness”, no Moore Building, Miami, e em “Espaço Habitable 2”, no Museu de Arte Contemporânea de Zulia, Venezuela, mas ficam os dois maiores destaques e uma curiosidade.
Bienal de Veneza
Em 2015, Argelia Bravo e Flix foram os convidados a representar o seu país no Pavilhão da Venezuela na Bienal de Veneza. A obra de Flix centra-se nas culturas ancestrais do território, usando graficamente nas paredes um poema de Gustavo Pereira que fala das palavras das línguas indígenas. “Ma-jokaraisa”, o nome da sua instalação, é uma delas. Na língua dos iWarao, comunidade palafita habitante do delta do rio Orinoco, a palavra significa literalmente “o meu outro coração” e é a usada para dizer “amigo”.
Fundação Cartier para a Arte Contemporânea
Em 2018 a Fundação Cartier fez uma grande exposição sobre a arte geométrica na América Latina, “Southern Geometries, from Mexico to Patagonia”, com obras desde o período pré-colombiano até ao presente, de áreas tão distintas como a arquitectura, a escultura, a arte moderna abstracta, a cerâmica e a tecelagem. Flix foi um dos 70 participantes e foi convidado pelo seu percurso na arte urbana geométrica. Criou uma instalação que começa no exterior com um totem-robot e um mural com cores e motivos geométricos marcadamente latino-americanos (“a ideia era fazer um percurso e que as pessoas que estivessem do lado de fora já estivessem a experimentar as coisas”) e conduz o visitante ao interior do edifício, onde a tónica já é o abstraccionismo geométrico.
Também há um Flix figurativo
Às vezes, Flix usa o figurativo para “intervenções de crítica”. Foi o caso desta intervenção numa grande área devoluta de Caracas para onde foi anunciada a construção de um empreendimento imobiliário. A imagem teve repercussão na comunicação social e deu visibilidade ao caso. “Até agora ainda não construíram os prédios”, diz com um sorriso.
Independentemente da linguagem escolhida, e quer seja a chamar a atenção para um elemento da paisagem urbana ou para construções “de pessoas sem conhecimentos, mas tão interessantes” em zonas rurais, o objectivo é sempre o mesmo: "desinquietar as pessoas, romper com a monotonia".
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Quem é Flix?
Mariana Valle Lima
Flix?
Flix é o aka deste arquitecto, nascido em Caracas, que prefere continuar anónimo e se define como um “artista do espaço público”. O pai é um fotógrafo venezuelano conhecido pelo seu trabalho de documentação fotográfica da vida quotidiana das pessoas de Falcón, um ambiente rural. “Em pequeno ia com ele quando ele ia fotografar e aprendi um pouco de fotografia (...) Tive a sorte de crescer numa casa em contacto com a arte, porque o meu pai e a minha mãe são arquitectos, mas a minha mãe, como hobby também pinta – e canta”, conta.
E porquê a máscara?
“Por esta dinâmica da arte urbana e do graffiti, que geralmente está na ilegalidade, muitas vezes as pessoas preferem manter-se anónimas e é por isso que uso a máscara para as fotos e entrevistas. Mas também é como um alter ego, e desde miúdo esta coisa das máscaras sempre me atraiu, porque podes mudar de identidade, isso sempre me chamou a atenção.”
Onde podemos ver obras de Flix?
Berlin, Dresden, Scheibbs (Áustria), Londres, Madrid, Vigo, Oia (Galiza), Miami e Atlanta, Caracas e Bogotá são algumas das cidades. Mas Lisboa também não está nada mal servida. Entretanto pode ir vendo aqui: @flixrobotico | flickr | Facebook
É designer, é graffiter e é também detentor de um recorde do Guinness. Conhecido pelo seu projecto Original Extinction Art Project, que alerta para as espécies em vias de extinção, Edis One já pintou um pouco por todo o mundo, de Amesterdão ao Bali.
É fim do dia e vamos ao cais de Santos falar com Justin Amrhein, o artista plástico californiano que concebeu e está a executar a instalação 3D Blueprint AzulTejo network.
Vhils, Bordalo II, Aka Corleone, Smile, ±MaisMenos±, Tamara Alves ou Mário Belém são alguns dos nomes mais sonantes neste roteiro de arte urbana em Lisboa.
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