Fomos falar com Flix, um discreto artista venezuelano que agora chama casa a Lisboa, e descobrimos um currículo surpreendente, que passa pela Fundação Cartier e a Bienal de Veneza.
No início da Rua Maria Pia e no largo da Triste-Feia, há um mural e esculturas, e na Praça da Armada e Beco dos Contrabandistas, pelas fachadas e telhados vêem-se outras tantas personagens, de ar ora aventureiro, ora sonhador.
O autor é Fulvietl, nome com que o arquitecto, ilustrador e escultor italiano Fulvio Capurso assina as suas obras. Fulvio é co-fundador do colectivo multidisciplinar BooksOnWall, sediado no Uruguai, que cria narrativas imersivas através da arte e da tecnologia em percursos urbanos, utilizando "realidade aumentada, que permite misturar digital e real".
O BooksOnWall inclui tanto programadores (que desenvolveram uma app em software livre, para que o código possa ser usado por outros colectivos) como artistas e técnicos de várias áreas e fez a sua primeira experiência no Uruguai. Agora querem criar um novo conto num percurso urbano em Lisboa – as esculturas e mural de Fulvio são só o primeiro passo.
No app que criaram há um mapa que geolocaliza os pontos onde estão as esculturas e os murais onde vemos as animações quando apontamos a câmara do telemóvel; entre os pontos, para não se perder o fio narrativo do conto, existe um áudio que a pessoa pode ouvir até encontrar outro objecto. "Neste momento a equipa no Uruguai está a melhorar a aplicação, para conseguir detectar a aproximação das pessoas a um determinado ponto e interagir com som, tipo: 'Pssst, olha aqui para cima!'", explica Fulvio.
“Em Montevideu trabalhámos com músicos locais, a história fala da música do lugar – um lugar onde nasceu o candombe [património imaterial da humanidade]–, tem escritores do bairro, as vozes são de meninos do bairro, houve uma integração do projecto e da comunidade que fez uma coisa revolucionária”, descreve Fulvio.
Em Lisboa, com algumas personagens no terreno e o conto já em processo de criação, Fulvio está de malas feitas para uma curta estadia no Uruguai. No regresso, vai dar início àquela outra parte do processo: procurar financiamento junto de instituições portuguesas a quem este projecto inovador de arte e tecnologia possa suscitar interesse.