A Severa
Não é a única fadista que Lisboa viu crescer até às luzes da ribalta. Mas foi a primeira, embora as luzes que lhe deram palco em ricos palácios não chegaram para a salvar de uma morte muito precoce. A história de vida da fadista Severa está envolta em sombras e mitos, mas o Museu do Fado, por exemplo, dá algumas pistas sobre a sua memória. Maria Severa Onofriana nasceu em 1820 na Madragoa e morreu com apenas 26 anos, mas foi a primeira fadista de que há memória e permanece como um dos grandes ícones da canção de Lisboa. Severa cantou não só para o povo, mas também para a elite da altura, fruto da sua relação amorosa com o Conde do Vimioso. Mas o mérito foi todo de Severa, “uma fadista interessantíssima como nunca a Mouraria tornará a ter”, como a descreveu o seu conterrâneo e poeta Bulhão Pato. “Não será fácil aparecer outra Severa altiva e impetuosa, tão generosa como pronta a partir a cara a qualquer que lhe fizesse uma tratantada!”, lê-se no seu testemunho. Mais tarde foi descrita como a "meretriz cantadeira", por Eduardo Sucena, ou a "meio-soprano dos conservatórios do vício", por Pinto de Carvalho. Fez apresentações no Palácio do Conde do Vimioso ou no Palácio do Conde, mas também nas tabernas do Cegueta, do Manhoso ou da Rosária dos Óculos, os seus palcos principais. Hoje, no Largo da Severa (Mouraria) encontra a Casa da Severa, onde a fadista viveu, reabilitada em 2013 para acolher um espaço cultural dedicado ao fado, em articulação com o Museu do Fado.