Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen
Imagem restaurada por João Pena Fonseca para o Museu da Guarda
Imagem restaurada por João Pena Fonseca para o Museu da Guarda

Cinco mulheres marcantes da história de Lisboa

Escolhemos cinco mulheres que marcaram a cidade de Lisboa, cada uma à sua maneira.

Renata Lima Lobo
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São cinco, mas podiam ser muitas mais. Especialmente se tivermos em conta que muitas mulheres viveram na sombra dos acontecimentos históricos, pelo menos na informação que chega aos dias de hoje, relegadas para segundo plano nos destaques da imprensa, na biografia literária ou nos documentos históricos que recheiam arquivos de todo o mundo. Mesmo assim, contra todas as probabiliddes, muitas mulheres conseguiram romper convenções, lutaram pelos seus direitos ou correram por um sonho. Conheça melhor estas grandes mulheres portuguesas que se destacaram na sua área, da pintura à música ou medicina.

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Lisboa

A Severa

Não é a única fadista que Lisboa viu crescer até às luzes da ribalta. Mas foi a primeira, embora as luzes que lhe deram palco em ricos palácios não chegaram para a salvar de uma morte muito precoce. A história de vida da fadista Severa está envolta em sombras e mitos, mas o Museu do Fado, por exemplo, dá algumas pistas sobre a sua memória. Maria Severa Onofriana nasceu em 1820 na Madragoa e morreu com apenas 26 anos, mas foi a primeira fadista de que há memória e permanece como um dos grandes ícones da canção de Lisboa. Severa cantou não só para o povo, mas também para a elite da altura, fruto da sua relação amorosa com o Conde do Vimioso. Mas o mérito foi todo  de Severa, “uma fadista interessantíssima como nunca a Mouraria tornará a ter”, como a descreveu o seu conterrâneo e poeta Bulhão Pato. “Não será fácil aparecer outra Severa altiva e impetuosa, tão generosa como pronta a partir a cara a qualquer que lhe fizesse uma tratantada!”, lê-se no seu testemunho. Mais tarde foi descrita como a "meretriz cantadeira", por Eduardo Sucena, ou a "meio-soprano dos conservatórios do vício", por Pinto de Carvalho. Fez apresentações no Palácio do Conde do Vimioso ou no Palácio do Conde, mas também nas tabernas do Cegueta, do Manhoso ou da Rosária dos Óculos, os seus palcos principais. Hoje, no Largo da Severa (Mouraria) encontra a Casa da Severa, onde a fadista viveu, reabilitada em 2013 para acolher um espaço cultural dedicado ao fado, em articulação com o Museu do Fado.

Natália Correia

Poetisa (como gostava de ser chamada, não poeta), escritora, dramaturga, opositora (e desafiadora) do Estado Novo, deputada na Assembleia da República. Nascida nos Açores, Natália Correia foi uma figura marcante na cultura portuguesa, em particular em Lisboa para onde se mudou com 11 anos e onde, mais tarde, liderou as famosas Tertúlias do Britânia, antes de fundar o Botequim da Graça. Em 1950, Natália casou-se com Alfredo Machado, proprietário do então Hotel do Império (depois Hotel Britânia), onde a poetisa e a sua trupe intelectual passaram a ser presença assídua, tornando-o num centro de tertúlia literária. Pelo menos até 1953, altura em que o casal passou a residir no 52 da mesma rua, a Rodrigues Sampaio, junto à Avenida da Liberdade. A partir daí as ceias dessas tertúlias, que incluíam champanhe e lagostas, eram encomendadas ao hotel que acabou por falir. A abertura do Botequim da Graça, ainda hoje em funcionamento, deve-se em parte ao desejo de Natália de ajudar o grande amor da sua vida a superar o desgosto da venda do hotel. Foi no Império que escreveu O Encoberto (1969), obra censurada por “por inconveniência política e ser pornográfica”, entre outras obras suas que foram censuradas pelo antigo regime. Três anos antes tinha publicado Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica (1966) que lhe valeu 90 dias de prisão com pena suspensa por três anos por ser considerada ofensiva. Foi ainda processada por ter sido responsável pela publicação das Novas Cartas Portuguesas, de Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta, o famoso processo das Três Marias. Natália Correia defendia que a intervenção política era uma “obrigação dos poetas” e chegou a ser deputada na Assembleia da República, primeiro pelas listas do PPD (1979-83) e depois pelo PDR, como independente (1987-91). Em 1999, a Assembleia da República encomendou um busto de Natália a João Cutileiro, que está no antigo claustro do mosteiro, hoje sede do Parlamento.

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Rainha Dona Estefânia

Era uma vez uma princesa chamada Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen, que nasceu num castelo em Sigmaringen, um ducado da Germânia. Chegou a Lisboa em 1858 para se casar com o rei português D. Pedro V, na Igreja de São Domingos, mas morreu 14 meses depois vítima de difteria, com apenas 22 anos. Não sem antes deixar um importante legado a Lisboa. Nesta altura, Lisboa vivia um período de epidemias de cólera e febre amarela e o casal real tinha por hábito visitar os hospitais da cidade. Foi no Hospital de São José que a rainha consorte ficou impressionada com as condições da enfermaria, onde eram tratados adultos e crianças no mesmo espaço, oferecendo o seu dote de casamento para que ali fosse criada uma enfermaria pediátrica. Não satisfeita, manifestou ainda o desejo de construir um hospital para crianças em Lisboa, um sonho que não viu realizado, mas logo após a sua morte Dom Pedro V iniciou a construção do Hospital da Bemposta, uma obra terminada pelo seu irmão D. Luís que lhe sucedeu. Foi o povo que rebaptizou o hospital com o nome da rainha. Foi um dos primeiros hospitais pediátricos da Europa e hoje o Hospital Dona Estefânia é uma referência nacional em Pediatria.

Carolina Beatriz Ângelo

Foi em Arroios que pela primeira vez na história de Portugal uma mulher exerceu o seu direito de voto. Carolina Beatriz Ângelo, nascida na Guarda em 1878, veio estudar Medicina para Lisboa, curso que concluiu em 1902 e que lhe permitiu tornar-se a primeira cirurgiã portuguesa e a primeira mulher a operar no Hospital de São José, onde exerceu a sua profissão. Chegou ainda a trabalhar no Hospital Psiquiátrico de Rilhafoles e num consultório particular na Rua Nova do Almada. Às conquistas profissionais, esta médica feminista, sufragista, maçon e republicana, juntou uma grande conquista que abriu caminho para os direitos das mulheres. Quando aconteceu a revolução de 5 de Outubro de 1910, que instaurou a República em Portugal, a médica já era viúva, uma infelicidade que acabou por fazer com que Beatriz Ângelo fizesse história em Portugal. Nas primeiras eleições em 1911 para a Assembleia Nacional Constituinte, a lei eleitoral definiu que podiam votar todos os cidadãos portugueses com mais de 21 anos, que soubessem ler e escrever e fossem chefes de família. Ora, a médica sufragista reunia todas estas condições para exercer o seu direito de voto, até então vedado às mulheres. Primeiro, tanto a Comissão de Recenseamento como o Ministério do Interior rejeitaram as suas pretensões de aparecer nos cadernos eleitorais, mas Carolina Beatriz Ângelo viu os seus argumentos atendidos após um recurso em tribunal, graças ao juiz João Baptista de Castro (pai de Ana de Castro Osório, sua amiga e também feminista). O momento histórico aconteceu em Arroios, no Club Estefânia (na Rua D. Estefânia, 62), a 28 de Maio de 1911. Mas ainda foi um longo caminho até serem abolidas todas as restrições ao voto feminino em Portugal, o que só aconteceu após o 25 de Abril de 1974.

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Celeste dos Cravos

A Revolução de 25 de Abril de 1974 é também conhecida como Revolução dos Cravos, graças a um acaso que envolveu Celeste Martins Caeiro, trabalhadora de um inovador restaurante self service que existia no edifício Franjinhas, conhecido por SIR. Esse restaurante foi inaugurado a 25 de Abril de 1973 e no dia da revolução planeava uma festa que comemoraria o primeiro ano de vida do negócio. Foram, por isso, encomendados muitos cravos, vermelhos e brancos, que iriam ser distribuídos pelos clientes. Mas a iniciativa acabou por ser cancelada. Afinal, estava em marcha a revolução, cujo nome ficaria para sempre ligado a Celeste. A trabalhadora do restaurante, ao ver tantas flores a caminho de serem desperdiçadas, decidiu pegar num ramalhão de cravos vermelhos (podiam ter sido os brancos!), dirigiu-se para o Rossio e depois para o Largo do Carmo, o coração da revolução. Em entrevista à revista Tempo Livre (edição de Abril de 1999), Celeste contava: “Os militares pareciam simpáticos. Sorriam para a gente. Um deles pediu-me um cigarro. Eu não tinha cigarros… Dei-lhe um cravo e ele meteu-o no cano da espingarda. Fiquei tão contente…”. Símbolo da liberdade, a Celeste dos Cravos, como ficou conhecida, tem hoje 87 anos e mora no coração de Lisboa com uma modesta pensão.

Viagens pela história

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Quem no dia 10 de Julho de 1910 passou pela Ponte Nova, à Rua da Fábrica da Pólvora, assistiu a um espectáculo memorável. A corrida de automóveis e motos da Rampa da Ponte Nova à Cruz das Oliveiras, num total de 1,5 km, uma das primeiras do género a ter lugar em Lisboa. Foi uma organização do Real Automóvel Club, incluída no Mês Desportivo da capital, que teve a dirigi-la, e também como membro do júri e concorrente, o Infante D. Afonso. O irmão do rei D. Carlos era um grande aficionado de corridas de automóveis, sendo popularmente conhecido como “O Arreda!”, palavra que gritava a quem quer que se metesse à frente do seu carro.

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Desde a inauguração, nos últimos anos do século XIX, até ao fecho, em 1978, o Francfort Hotel do Rossio gozou sempre de uma aura de respeitabilidade, embora não tenha sido um estabelecimento de primeira classe desde o início. Primeiro, pela localização central, e depois por sempre se ter apresentado como um hotel familiar. Frases como “Especialmente recomendado para famílias” apareciam nas suas publicidades. Ou ainda “O preferido pelos africanistas”, para atrair a clientela do antigo Ultramar português, quando vinha a Lisboa de férias ou a negócios. Uma estratégia também usada pelo seu “irmão”, o Hotel Francfort, localizado na Rua de Santa Justa. Os dois hotéis foram, durante vários anos, propriedade dos irmãos Arthur e João Narciso da Silva.

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Prédios acabados de construir, alguns já com moradores e outros ainda em final de construção; árvores plantadas há pouco tempo, pouca gente nos passeios e poucos carros a circular. Ao fundo, uma praça com um grande espaço vazio, que em breve viria a ser ocupado por uma igreja. Esta foto de uma Avenida da Igreja novinha em folha data dos primeiros anos da década de 50, e pode ser que ainda lá more quem se lembre dela assim.

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