Inaugurado em 2006
Só tem 13 anos, está na pré-adolescência e isso topa-se assim que lá se entra. Há companheirismo, há grupos de comerciantes reunidos à conversa, há recomendações de umas bancas para as outras e preocupações com o que o futuro lhes reserva. É que apesar da tenra idade, o mercado já vem de uma confluência de vendedores antigos de outras zonas da Ajuda.
A Peixaria Yolanda
Encontrámos Yolanda e Sérgio, o casal responsável por uma das bancas de peixe mais antigas do mercado, que já vem dos tempos da venda ambulante, numa espécie de reunião de condóminos improvisada em que se discutiam os próximos tempos. “De há um ano para cá isto está a decair. Vendia mais ao balcão do que para fora. Agora não”, admite. Ainda assim, mantém o abastecimento a alguns restaurantes já anteriormente elogiados na Time Out, como o Sé da Guarda e O Caçador, além de também fazer entregas ao domicílio na Ajuda, Algés e Restelo (anote: 961 033 699). Compram peixe da Nazaré e Peniche, sobretudo, e apresentam um pouco de tudo: carapaus, chocos, pescada, robalo, rascasso. “Agora estão boas as ovas, o sável, o sargo e é altura do linguado barato, do nacional.” Fica a dica.
A Padaria Central
Maria de Jesus e o marido José estrearam, como muitos dos seus vizinhos comerciantes, as bancas deste mercado em 2006. Mas já levam mais do triplo do tempo à frente da Padaria Central, cujo lema “pão cozido em forno de lenha” não deixa ninguém indiferente (a nós muito menos). De um lado da vitrine estão pães de Mafra, em tamanho XS e XL, pão alentejano, pão saloio de mistura e broa amarela e branca cozida a lenha; do outro estão caixas com húngaros, queijadinhas, bolos de coco, queijadas de laranja, ésses, tudo, com origem em vários sítios do país, e grande parte na Fábrica de Pastelaria e Confeitaria Ideal Malveirense. É escolher.
A alegria da Frutaria da Preta
Chama-se Carla Dias, mas o mercado e os clientes conhecem-na por preta, um furacão alegre no Mercado da Ajuda. Veio para aqui com o marido há 11 anos, montou uma banca de frutas e hortícolas, dá uma perninha no comércio de feijões e, conta, na devida altura também tem frutos secos. Reconhece que não é das bancas mais baratas do mercado, mas defende, com razão, “que o que é bom custa dinheiro”. Por isso tem, por exemplo, dois tipos de maçãs bravo de esmolfe, “umas não têm nada a ver com as outras. São mais caras, mas são muito melhores”. Vende alface francesa, rábanos frescos, cebolinho, tomilho fresco, e por aí fora. “Tem de se marcar a diferença. Nos produtos e na arrumação. Vamos ao MARL todos os dias comprar fresco e temos cuidado a expor.” E até já faz algumas entregas ao domicílio na zona.
Este mercado precisa de uma mãozinha
Alice trabalha há mais de duas décadas nos mercados de Lisboa. O pai era pescador, a mãe vendia peixe “com uma canastra” e lembra-se de ser miúda e já andar atrás dela. “Agora, quando vou comprar o peixe, estou acordada por volta da uma, saio de lá são quatro, quatro e meia, e ainda vou a casa, porque moro perto. Quando são seis e meia, venho para cá.” Esses são dias duros, e Fernanda, a atender um cliente na banca do lado, concorda. “Quando se vai ao peixe praticamente não se dorme”. Mas já não vão todos os dias, como antigamente. “Depois não se vende.” Além das bancas de peixe, fruta e legumes, há charcutaria, padaria, mercearia, restauração e lojas com artigos para o lar, flores ou quinquilharias. Mas o movimento é cada vez menor. “Está aberto até às duas, mas não vale a pena. Ao meio dia já se começa a arrumar tudo.” O sentimento é partilhado pelos colegas. Aponta-se o aumento das rendas das casas, um bairro envelhecido, o desinteresse dos mais jovens, “a entrada [que] está mal feita” e sobretudo o aparecimento das grandes superfícies. Na mesma rua, numa esquina do outro lado da estrada, encontra-se o Supermercado da Boa Hora. Às nove de sábado, já está cheio, apesar de não ter a simpatia nem o peixe fresco da Alice e da Fernanda, as frutas e legumes da Maria Isabel e da Isabel Maria, as flores da Rosa ou o pão de Mafra de José.
Sabia que? A abertura do mercado em 2006 serviu para realojar os antigos comerciantes do Mercado da Boa Hora e integrar os vendedores de um mercado ambulante na Boa Hora.
Um segredo... Mercado que se preze tem uma charcutaria a aviar umas fatias de queijo e um chouriço para pôr no caldo verde. A Charcutaria Celeste é pequena de dimensão, mas rica naquela oferta que faz as vezes de refeição a qualquer pessoa esfomeada: um saco de azeitonas britadas, um queijo fresco da marca Licínia (de Pombalinho, Soure), um presunto, uma compota dos Sabores da Gardunha ou até uma lata de feijão frade.
Largo da Boa Hora/ Rua D. Vasco. Ter-Sáb 08.00-14.00