“Não faz muito sentido uma Câmara Municipal produzir vinho”, diz Alexandre Lisboa. O arquitecto paisagista de formação é, desde 2006, o responsável pela Adega do Casal da Manteiga, em Oeiras – é nos 13 hectares de vinha que circundam a adega, inseridos na Quinta do Marquês de Pombal, que se colhem as uvas com que se produz o Villa Oeiras, vinho da região demarcada de Carcavelos. Foi a pensar que este vinho deveria ter “representação no mercado” que a autarquia assumiu, em 2006, toda a responsabilidade pela produção. Desde então muito tem sido feito.
“É um vinho atlântico. Sente o vento que vem de noroeste?”, pergunta, virando-se para trás e apontando para a Serra de Sintra, que se vislumbra ao longe, enevoada. Mais à frente, o Forte de São Lourenço do Bugio, nas águas do Atlântico, completa o corredor que confere a este vinho a salinidade que lhe chega do mar. Os solos calcários virados a sudoeste e a brisa marítima que polvilha os terrenos durante a noite, num processo de precipitação oculta – explica com um claro entusiasmo na voz – conferem-lhe características minerais complexas.
As castas, claro, são outro dos factores determinantes na singularidade deste vinho, cuja história remonta ao reinado de D. José I e que muito deveu a Sebastião de José Carvalho e Melo, o marquês de Pombal. O Carcavelos, tal como o Porto, o Moscatel e o Madeira, é um dos poucos vinhos generosos no país. São quatro no total e o objectivo do município é conferir ao Carcavelos o prestígio e reconhecimento nacional dos outros generosos.
E se à primeira vista se aproxima dos restantes generosos, o que o distingue dos demais são mesmo as castas. A sua constituição é relativamente simples: são três as castas essenciais (brancas). O Arinto, que predomina no país, o Galego Dourado, a casta mais representativa deste vinho, presente em Carcavelos e também na zona de Setúbal e na zona de Colares, e o Ratinho, casta autóctone, que permite ao produto “envelhecer bem”. No tinto, é a combinação das castas Castelão, Amostrinha e Trincadeira que lhe dá origem. A famosa aguardente da Lourinhã, note-se, é utilizada para fortificar o vinho, conferindo-lhe uma cor de mel.
A produção ainda não é biológica, “mas caminha-se para isso e para a redução de utilização de produtos de síntese”, aponta o responsável pela adega do século XVIII recuperada pela Câmara oeirense. É lá que hoje se produzem cerca de 46 mil litros – no ano passado a produção do Villa Oeiras branco chegou mesmo aos 52 mil litros. Por norma, em Agosto testa-se a maturação das uvas e em Setembro vindima-se. Depois da vindima feita, é obrigatório o estágio em barrica de madeira durante pelo menos dois anos, seguindo-se, no mínimo, outros seis meses em garrafa.
Actualmente, a Câmara Municipal de Oeiras dispõe de dois lotes, um com sete e outro com 15 anos. Uma vez produzidos, parte é transportada para a adega do Palácio Marquês de Pombal, onde envelhecem rodeados de história secular. Em 2021 foram plantados mais de seis hectares de vinha. O objectivo, sublinha Alexandre, é “recuperar o património” e democratizar o conhecimento sobre este generoso. O Villa Oeiras aqui produzido é vendido em três categorias: o Carcavelos Villa Oeiras, que estagia sete anos em madeira (20€), o Villa Oeiras Superior, que fica em barrica 15 anos (32€) e o Villa Oeiras Colheita (64€). Qualquer um deles é uma excelente opção para acompanhar com queijos curados, com frutos secos ou mesmo com sobremesas intensas de ovos. Para um digestivo depois do café, aposte no Villa Oeiras Superior.
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