Rui Guerreiro, a estampar t-shirts a partir de uma salinha do edifício da Junta de Santo António, mesmo ao lado do jardim do Torel, já recebeu um mail de Morrisey e outro de Marina Abramovic. Segure o entusiasmo: eram para pedir contas do que andava a fazer com as citações destes dois artistas sem pedir autorização. A IRONIC Lisbon ficou grande a este ponto. Com as ilustrações e citações provocadoras de personalidades que Rui segue, tem loja online desde 2011 e exporta para países como a Austrália ou os Estados Unidos. A partir do início de Setembro dá mais um passo, com a abertura de uma loja física que vai ser muito mais do que um sítio para comprar roupa.
“Por que não ter um sítio onde as pessoas vão para ver ilustração, para beber um copo, para comer uma fantástica refeição e para comprar as nossas coisas? É criar um ponto de encontro entre pessoal que se interessa por isto”, resume Rui no meio do pequeno número 2 do Largo de Santo Antoninho, na Bica, que em breve vai ter o nome de IRONIC Lisbon. Isto enquanto Hugo Makarov finaliza o retrato de Almada Negreiros numa das paredes. Em menos de três horas despachou o assunto com traço firme e no fim escreveu a citação que casa bem com o espírito da marca: “A alegria é a coisa mais séria da vida.” “O Almada é nosso brother”, simplifica Rui.
Depois desta primeira ilustração virá outra dele ou de outros ilustradores – “a ideia é que isto também funcione como uma espécie de galeria”, diz Micas de trás do balcão. Tinha o espaço e juntou-se a Rui para abrir este local híbrido, aberto até às 02.00 – “Vamos safar muitas prendas de última hora”, antecipa Rui.
Na próxima coleção da IRONIC, na loja a partir de Setembro, entram novos ilustradores, como Makarov, e a estética promete tornar-se mais diversificada – anteriormente todos os desenhos estavam a cargo de Mariana Cáceres. Os materiais melhoraram e as peças de roupa e os seus modelos também vão aparecer num maior leque. O espírito mantém-se nas indispensáveis ilustração e citação. “Vamos continuar com a nossa linguagem de influencia literária e usamos estas referências porque gostamos genuinamente delas. Não é para armar, não é porque o que está a dar é ser arty. Usamos artistas [nas ilustrações] que são duplamente cativantes: pela obra, mas também porque são pessoas cativantes”, diz Rui debaixo do tecto coberto a caixas tetrapack num origami que nos deixa a pensar no tempo que aquilo não há-de ter demorado a fazer.
Com paredes a crescer em arte, vitrines de roupa irreverente e um bar cheio de espirituosas, comer não é secundário e isso fica claro quando se olham para as linhas do menu e se lê, por exemplo, búzios com banana pão ou falafel com coco.
No final da carta, apresentada num caderno de folhas brancas para desenhos, há um desafio: “Faça o seu desenho. Se o adorarmos, autoriza-nos a usá-lo nos nossos produtos?”. Pense bem se quer seguir o exemplo de Morrisey e de Abramovic.