Uma tela em branco é pouco para Branca Cuvier. É-lhe inevitável ir além da bidimensionalidade e encarar a moda como um solo fértil para fazer germinar novas empreitadas criativas. No início do ano, juntou-se à portuguesa Hyena para criar três peças, onde os traços orgânicos dos seus desenhos e pinturas ganharam uma nova fluidez. “Há sempre em mim um certo amor pela moda, um lado meu que olha para o que o corpo usa e que vê algo extremamente bem pensado. Lá está, no meu trabalho é sempre o corpo – a expressão e a extensão”, partilha.
Propôs-se a regressar à mesma selva que definiu a Baguera, marca de acessórios que criou em 2012. “Quando a inspiração é a natureza, o resultado nunca pode ser perfeitinho ou geométrico. Tem sempre de haver erro.” Fascinada pelas camuflagens naturais, trabalhou-as agora com o propósito contrário – em vez de se confundirem com o meio, estes vestidos e macacão sobressaem na paisagem. Revolucionou a paleta e adoptou tons tão adocicados quanto o rosa pastilha elástica ou o verde menta.
Expressar uma ideia numa peça de vestuário trouxe uma nova exigência. Por momentos, abandonou a visão das belas-artes e assumiu a lente do design. “Inicialmente, as referências que tinha eram as coisas que via à venda nas lojas dos museus e percebi logo que não podia ser um mero desenho estampado. Abordo a moda enquanto criativa, não como a artista que intervém na obra.”
Os desafios interdisciplinares são tão vitais como dar continuidade ao seu trabalho como pintora. Às três peças, que ainda se encontram à venda, seguiram-se dois chapéus reversíveis, fora as ideias que pairam no atelier. Perfumaria? Comida? Joalharia? Ou uma nova incursão pelo Que bela obra de arte. Tem o meu tamanho? mundo da moda? Só uma coisa pode ser dada como certa: Branca Cuvier gosta de sair da sua bolha de artista e vai fazê-lo sempre que quiser.
Um pouco por todo o mundo, a começar por casas como a Louis Vuitton, a Gucci e a Christian Dior, o traço de artistas plásticos é usado para sublimar peças de roupa e acessórios. Jeff Koons, Yuko Higuchi e Peter Doig estão entre os que trocaram as habituais paredes brancas da galeria pelo colorido destas montras de luxo.
Por cá, os nomes podem ser menos sonantes, mas o encontro entre arte e moda também dá frutos. Que o diga Ricardo Esteves Corga, que há mais de um ano aceitou ilustrar para a BYOU by Patrícia Gouveia. O resultado ficou à vista nesse mesmo Verão: um vestido que até hoje é o mais vendido da marca portuguesa.
“A Patrícia já tinha um conceito para a colecção, mas não queria um padrão repetido. Fiz muitos desenhos e cheguei ao tigre, que acabou por ficar camuflado na própria ondulação do tecido”, explica o ilustrador. A relação perdurou no tempo e o Rima Studio (o projecto a dois de Ricardo e Marta Oliveira) já está a dar os últimos retoques para a colecção do Outono.
Mas poucas uniões são tão coloridas como a de Teresa Rego com a marca Flausinas. Desde os tempos de estudante, em Londres, que Teresa explora o potencial de utilitários como lenços, individuais, abajours e pequenas bolsas. O convite, feito este ano, só veio elevar a fasquia. Como? Com a criação de um vestido a partir da ilustração Chilli Rose. “Gosto de explorar o meu trabalho de diferentes maneiras e desde o início que ele é muito associado a padrões, pelas cores e pelas formas orgânicas em contraste com geometrias mais rígidas”, refere a artista.