★☆☆☆☆
Aconselho quem vá ver Anatomia de um Escândalo (Netflix) a tomar um comprimido anti-enjoo antes. É que as piruetas da câmara, as cabriolas da realização, a insistência na câmara lenta e o efeitismo gratuito são tão constantes, e de tal forma insistentes, que metem no chinelo o mais frenético filme de acção de Hollywood. Dois exemplos: quando a polícia comunica à personagem de Rupert Friend, um popular e destacado ministro do governo de Sua Majestade, que há uma queixa de violação contra ele, a forma de o realizador mostrar o impacto que a notícia tem é atirá-lo para trás violentamente em câmara lenta, como se tivesse sido pontapeado por um fantasma invisível daqueles que aparecem nos filmes de terror de Hong Kong. E noutra altura, a personagem de Sienna Miller, que faz a mulher daquele, dá uma queda (em câmara lenta, de novo) de um elevador para a sala de um tribunal. E assim por diante. Esta fixação em tais cambalhotas visuais “simbólicas” não prejudica a série, porque ela é já de si fracota. Mais uma história molengona e estereotipada (o veterano argumentista David E. Kelley está mesmo a perder qualidades) sobre a arrogância dos políticos com origens privilegiadas e convencidos de que podem ficar impunes, façam o que fizerem. É passar à frente, sem pinotes.