Entre conteúdos originais e reaproveitados (ou mesmo ressuscitados), a Netflix está sempre a testar a nossa resistência ao chamamento do binge watching. Títulos como Gambito de Dama, Ozark, Stranger Things ou The Crown são um espelho do melhor que a plataforma consegue produzir. Outros, como Breaking Bad e Arrested Development, são óptimos exemplos de como levar audiência ao seu moinho (o streaming) por meios comprovados. A apontar-lhe alguma coisa, será a oscilação de conteúdos: estamos sempre na vertigem de ver a nossa série favorita desaparecer do catálogo. Por isso, não perca tempo: prepare-se para uma maratona e siga estas sugestões das melhores séries para ver na Netflix.
★★☆☆☆
A série Glória fica para a história: é a primeira produção portuguesa original para a Netflix. Isso ninguém lhe tira, nem a audácia da aposta num formato que nos é alheio. Um enredo de espionagem sobre Portugal na Guerra Fria, passado nos anos 60, na RARET, o centro retransmissor da Rádio Europa Livre que funcionou em Glória do Ribatejo. A sua importância é aqui manifestamente exagerada. Era apenas uma instalação técnica de apoio ao aparelho de propaganda anticomunista dos EUA, e não um centro vital de informações. Tal como é empolada a actividade do KGB em Portugal na altura: a espionagem soviética só entrou cá em força após o 25 de Abril. Tudo isto poderia ser descontado, se a história não fosse tão implausivelmente rocambolesca. A começar na forma como o protagonista, João Vidal, filho-família do regime e agente do KGB, anda por toda a parte e faz o que lhe apetece sem ser nunca visto ou acordar suspeitas, e a acabar na colecção de clichés de série B do género que vai acumulando, mais alguma ganga (o subenredo de violência doméstica e os bordões sobre a guerra de África). Os aplausos vão para o grande esforço posto na recriação da época e para a vigorosa e ágil realização de Tiago Guedes. Glória ainda está longe do ideal, mas o caminho faz-se por aqui.