Frankenstein
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Cinema: Frankenstein aos 200 anos

Foi há 200 anos, mas parece que foi ontem que Mary Shelley (1797-1851) escreveu Frankenstein. E parece que foi ontem porque o cinema, desde que foi inventado, nunca mais o largou e ainda foi pródigo na liberdade das suas adaptações.

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O conselho é: quem quer saber o que Mary Shelley escreveu (e que agora tem edição em português) leia o livro. Pois o cinema virou e revirou, torceu e distorceu, acrescentou, e, uma vez ou outra, foi mais ou menos fiel ao original. No entanto, por razões diversas, há oito filmes de Frankenstein a não perder.

Cinema: Frankenstein aos 200 anos

Frankenstein, o Homem que Criou o Monstro (1931)

Foi do realizador James Whale o primeiro filme sobre o famoso mostrengo da literatura. O que permite já um esclarecimento fundamental. O doutor Henry Frankenstein (aqui interpretado por Colin Clive) não é o monstro nem se transforma em nenhum monstro. É, sim, o criador do monstro (Boris Karloff) propriamente dito. Posto isto, o realizador, que voltou a Frankenstein inúmeras vezes, fartou-se de aparar e tomar liberdades demasiadas em relação ao romance de Mary Shelley, mas manteve aquele ambiente gótico industrial acrescentando um tom, diria, fim dos tempos, que só a ciência podia evitar, mesmo quando efectivamente ficava fora de controlo – o que pode ser visto como uma metáfora dos excessos da industrialização e dos eventuais efeitos nocivos do início da comunicação de massas, ideias muito populares entre alguns intelectuais da época – e que até têm uma certa relação com a actualidade.

O Filho de Frankenstein (1939)

Embora as sequelas sejam geralmente apenas uma maneira de fazer render o peixe, o filme de Rowland V. Lee (dirigido depois do eterno Frankenstein, o Homem que Criou o Monstro e da sua sequela de 1935, A Noiva de Frankenstein, ambas películas com realização de Whale) conseguiu no entanto criar uma imagem do Monstro (outra vez Boris Karloff), do untuoso Igor (Bela Lugosi) e do descendente, o Barão Wolf von Frankenstein (Basil Rathbone), esforçadamente tentando inverter o mal provocado pelo pai, que perdurava no tempo e necessitava correcção.

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Frankenstein Júnior (1974)

A ordem cronológica vem mesmo a propósito, já que Mel Brooks nesta sua paródia ao romance e à farta herança cinematográfica, procurou inspiração no filme de Rowland V. Lee, e, na sua falta, roubou descaradamente cenas aqui e ali para depois as caricaturar. Tem Gene Wilder no papel de Frederick Frankenstein, herdeiro do castelo do seu famoso avô, na Transilvânia, decidido a retomar os esforços do parente na criação de um novo ser com partes de variadas proveniências, todas elas cadáveres. Acrescentado por um criado com uma marreca irrequieta, uma assistente (como dizer isto nos tempos que correm?) com maior desenvolvimento torácico do que uma soprano, e uma governante que inspira medo aos cavalos, o filme corresponde ao estilo de comédia anárquica de Brooks, permanecendo, quatro décadas depois, como uma excelente e descabelada sátira.

Festival Rocky de Terror (1975)

Era inevitável. Mais tarde ou mais cedo havia de surgir uma versão musical. E houve, primeiro como teatro, no West End londrino e na nova-iorquina Broadway. Depois como filme, dirigido pelo mesmo Jim Sharman, que adaptou, com Richard O'Brien, o original ao roteiro da película engalanada pelas prestações de Tim Curry, Susan Sarandon e Barry Bostwick, mas com os restantes papéis da responsabilidade dos intérpretes originais. As diferenças em relação ao romance são muitas, pois os criadores aproveitaram o ambiente de abertura dos costumes da década de 1970 para fazer desta sátira à série B uma espécie de mostruário da cultura camp de então, fazendo do protagonista (o Dr. Frank-N-Furter) um expatriado do planeta Transsexual Transylvania, rodeado por excêntricas personagens transpirando sexo, e obcecado na criação de um matulão com tudo no sítio, enquanto desvia os corpos virgens de Sarandon e Bostwick para prazeres desconhecidos, no entanto muito apreciados pelas “vítimas”.

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Frankenstein de Mary Shelley (1994)

A adaptação de e com Kenneth Branagh, mais Robert De Niro no papel de criatura e Helena Bonham Carter no da ingénua, é a que mais faz por se aproximar do original (daí o título da autora no título). Contudo, a liberdade criativa levou o realizador a um sério desvio (prontamente apontado pelos puristas): depois da criatura matar a noiva de Frankenstein, esta é ressuscitada, com a cabeça cosida a outro corpo, o que deixa a rapariga horrorizada e prontinha para o suicídio. O filme mantém o espírito do original mais perto do que qualquer outro.

Gothic – Poetas e Fantasmas (1986)

Um fim-de-semana que pode muito bem ter acontecido, onde se reuniram o poeta Percy Bysshe Shelley (Julian Sands), a sua mulher Mary (Natasha Richardson) e George Gordon Byron (Gabriel Byrne). Alegadamente, conforme as fontes, foi ponto de partida ou ponto de chegada para a romancista iniciar ou concluir Frankenstein (razão que faz o filme entrar neste elenco da cinematografia frankensteiniana). Este fim-de-semana que pode muito bem ter acontecido serviu a Ken Russell para criar uma fantasia tão delirante que uma pessoa tem de perguntar que raio andava ele a tomar na altura. Obra que pretende mostrar como Mary Shelley chegou ao seu mais famoso romance e um exemplar raro para os adeptos do cinema psicadélico.

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Frankenweenie (2012)

Outra paródia, ou homenagem a Frankenstein, o Homem que Criou o Monstro, agora em formato de animação com a mão criativa de Tim Burton por detrás, Frankenweenie, é uma muito boa mistura de drama e humor, e, por estranho que pareça, uma bastante adequada entrada no universo frankensteiniano. Mantendo-se ancorado na essência do romance, porém salvaguardando as suas distâncias, Burton começa por matar Sparky, o cão do jovem Victor Frankenstein, em acidente de viação, o que obriga o rapaz a reconstruir o seu animal de estimação da única maneira que conhece. Cria um monstro. Todavia, com o tempo, apesar do terror causado pelo novo aspecto do bicho, consegue convencer família e vizinhança que Sparky é o animal terno que sempre foi.

Victor Frankenstein (2015)

A originalidade do filme dirigido por Paul McGuigan é a importância de Igor, o deformado criado de Frankenstein, aqui, interpretado por Daniel Radcliffe. Ele ganha estatuto de assistente do médico (James McAvoy) louco ou visionário, que a distância é muitas vezes curta. A história começa por estabelecer as origens de Igor e as circunstâncias do encontro com Frankenstein, e é agora narrada na perspectiva do “assistente”. De resto, mantém bastante fidelidade ao romance de Mary Shelley.

Clássicos de cinema para totós: especial Terror

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Lição 1: 1900-1950
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Custou um bocadinho a pegar, mas quando pegou o cinema de terror nunca mais arredou pé. Teve os seus momentos, bons e maus, mas década a década persistiu tanto como o desejo do espectador em ser assustado. A primeira metade do século XX parece, agora, inocente ou ingénua. Mas há muito escondido nas trevas.

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Lição 2: 1951-2000
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A segunda metade do século trouxe a definitiva massificação do cinema de Hollywood, a queda sucessiva de tabus e praticamente o fim da censura. O que muito beneficiou o cinema de terror, que se tornou cada vez mais chocante e radical. O tempo da inocência acabou. 

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Lição 3: 2001-2014
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Com a entrada do século o que era explícito tornou-se ainda mais explícito. Mais sangue, mais tripas ao léu, mais tortura psicológica e sobretudo física. E, também, algum regresso ao classicismo gótico, boa dose de contaminação entre géneros, e muita imaginação – o que vai mantendo o género vivo e assustador. 

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