Dez filmes (mais um) para ver em Janeiro na Cinemateca

Farto de filmes de super-heróis e efeitos especiais? A solução é simples. Aproveitar as sessões da Cinemateca e, pelo menos, ficar com uma ideia da história do cinema através de filmes de todas as épocas e todos os géneros.

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Ir à Cinemateca é como ir a um cinema com selo de garantia. Um cinema onde a variedade é grande, os filmes, senão sempre bons, são sempre curiosos, invulgares, de alguma maneira dando a conhecer os mais ínfimos pormenores dessa história de encantar e reflectir inventada pelos irmãos Lumière. Dúvidas? Aí vão 11 filmes para ver em Janeiro na Cinemateca.  

Dez filmes (mais um) para ver em Janeiro na Cinemateca

A Semente do Diabo (1968)

A década de 1970, com o seu prolongamento pela seguinte, foi tempo de vulgarização do cinema de terror. E bem se pode dizer que quase tudo começou com este filme de Roman Polanski, com Mia Farrow, John Cassavetes, Ruth Gordon e Sidney Blackmer.

Foi, também, a primeira película do realizador polaco nos Estados Unidos, filmada em grande parte no edifício Dakota (residência de muito ricos nova-iorquinos, à porta do qual, anos depois, John Lennon foi assassinado), interpretada em estado de graça por Mia Farrow, a portadora da “semente do Diabo” vendida pelo marido em troca de êxito. O Óscar de Melhor Actriz Secundária atribuído a Ruth Gordon foi o bónus.

Sexta 12, 15.30.

Stars in My Crown (1950)

Às vezes é bom regressar ao passado, à infância mesmo, aos lugares que eram, ou a nossa ignorância os fazia, seguros. Improvável era essa viagem pela nostalgia nascer da iniciativa de Jacques Tourneur, realizador mais dado ao suspense e ao terror com a sua ponta de superstição. Mas é o que é. E aqui se encontra um dos melhores exemplos desse sub-sub-sub-género chamado “americana”, isto é, a evocação nostálgica do passado dos Estados Unidos. Com Joel McCrea, Ellen Drew, Dean Stockwell e Juano Hernandez, a história do filme é praticamente nenhuma, pois o realizador escolheu o curioso método da “colecção de vinhetas” para retratar a vida numa pequena cidade do interior, no século XIX, ilustrando sentimentos e emoções a partir do ponto de vista de uma criança.

Sábado 13, 15.00. Salão Foz. 

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Un Chien Andalou (1929)

Cinéfilo que se preze, cinéfilo de jantar de amigos, cinéfilo armado aos cucos, enfim, qualquer que seja o tipo de cinéfilo, não é bom (nem sequer médio ou mesmo pequeno) cinéfilo, daqueles dignos de crachá do clube, sem conhecer o filme de Luis Buñuel e do pintor Salvador Dali. E não vale a batota de ver o trailer e botar uma posta de pescada. É preciso ficar todos os 21 minutos e dar-se a um pequeno exercício de empatia histórica para ter uma ideia do impacto provocado por esta provocação surrealista em 1929.

Segunda 15, 21.30.

Nós Os Arroianos (2017)

Agora uma coisa completamente diferente, ou seja, a antestreia do filme que João Sanchez fez depois de, por assim dizer, montar câmara durante um ano na Escola António Arroio, em Lisboa. A este material voltou um par de anos depois para dirigir uma película que acompanha o ritmo das aulas e dos trabalhos e dos alunos e de todos os outros que ali trabalham, no que chamou: “Uma epopeia filmada como se de um arquivo familiar se tratasse. Um retrato nu e cru da Escola Artística António Arroio, sem embelezar aquilo que nunca quis ser embelezado.”

Quarta 17, 21.30.

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A Ilha do Amor (1969)

Passa-se no fim do século XIX, mas isso não interessa nada, pois o filme de Walerian Borowczyk, com Pierre Brasseur, Ligia Branice, Jean-Pierre Andreani e Ginette Leclerc, entra naquela categoria dos intemporais. Com acção situada no “único pedaço de terra sobrevivente, no antigo arquipélago de Goto, de um tremor de terra que o separou do resto do mundo,” o tirano, Goto III, impede o progresso fechando o território ao exterior. A coisa não lhe corria mal até Glossia, sua mulher, se apaixonar por um jovem e garboso, Gono, e ambos se preparem parta dar às de Vila Diogo deste universo concentracionário, nesta obra paródica e ligeiramente surrealista sobre os regimes ditatoriais no tempo da Guerra Fria.

Sexta 19, 21.30.

Dr. Estranhoamor (1964)/ M.A.S.H. (1970)

Juntar dois filmes que são duas das mais brilhantes sátiras à guerra e ao espírito militarista foi uma boa ideia do programador do ciclo Double Bill, que, com apenas 20 minutos de intervalo para recuperar o siso e preparar para outra série de gargalhadas, alinhou nesta sessão Dr. Estranhoamor, de Stanley Kubrick, com Peter Sellers, George C. Scott e Sterling Hayden, antes de M.A.S.H., de Robert Altman, interpretado por Donald Sutherland, Elliott Gould, Tom Skerritt, Sally Kellerman e Robert Duvall. Entre o antigo cientista nazi cooptado pelo governo americano para criar um programa nuclear, e as trapalhadas do corpo médico destacado na Guerra da Coreia, é difícil encontrar duas sátiras tão cruéis, divertidas e precisas a atingir os alvos escolhidos.

 

Sábado 20, 15.30.

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Le Chateau dês Singes (1999)

Foi um encontro com Paul Grimault, um dos históricos da animação francesa, que mudou a vida de Jean-François Laguionie, o qual, graças às aulas do mestre, dirige a sua primeira longa-metragem, La Demoiselle et le Violoncelliste, e vence o Grande Prémio em Annecy, em 1965. Depois são sete curtas em 13 anos, entre as quais La Traversée de l’Atlantique à la Rame, que recebe a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1978. E assim chegamos à terceira das suas longas-metragens, nenhuma delas estreada comercialmente em Portugal, este Le Chateau dês Singes, onde o realizador adapta um conto tradicional centrado nas aventuras de um macaco rebelde.

Terça 23, 18.30.

Bocage (1936)

A Severa e As Pupilas do Senhor Reitor foram dois grandes êxitos populares que permitiram a Leitão de Barros atirar-se ao seu muito ambicioso projecto Bocage. Com um elenco preenchido por Raul de Carvalho, Maria Castelar, Maria Helena Matos e Celita Bastos, este filme histórico foi pensado e construído para distribuição não só em Portugal, mas também no Brasil e em Espanha (que teve direito a versão própria e diferentes actores). O tempo, porém, não foi benigno a esta obra pois boa parte da imagem e do som desapareceram, e este Bocage é, assim, um “vestígio” da película filmada por Barros, “vestígio que, porém, uma vez feito o aviso” é importante “divulgar pensando em todos aqueles que queiram ter uma visão mais completa da história” do cinema em Portugal.

Quinta 25, 18.30.

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O Horrível Segredo do Dr. Hitchcock (1962)

Com este filme, e a espantosa lata de meter no título o nome de um dos mais brilhantes, e na época extraordinariamente popular realizador de cinema, Riccardo Freda apresenta um filme que “pode considerar-se como ‘premonitório’” do género “giallo”, oficialmente inaugurado um ano depois com La Ragazza Che Sapeva Troppo, de Mario Bava. Para os curiosos, o segredo do doutor Hitchcock tem a ver com necrofilia e o uso de “drogas na mulher para jogos funerários.”

Segunda 29, 21.30.

A Vítima do Medo (1960)

Um filme brilhante pode dar cabo da carreira de um cineasta e foi o que quase aconteceu ao genial Michael Powell (já após a separação artística de Emeric Pressburger, com quem escreveu, produziu e realizou alguns dos seus melhores trabalhos) com esta obra, escarnecida na época e reconhecida pelo tempo. Com Karlheinz Bohm, a inevitável Moira Shearer e Anna Massey, Powell apresenta um dos “mais intensos estudos sobre a paranóia e também sobre o cinema,” para tal recorrendo à história de um jovem cineasta amador “cuja obsessão pela morte o transforma num assassino” para melhor poder filmar “as reacções das vítimas.”

Terça 30, 18.30.

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