Variações (2019)
©DRVariações de João Maia é um dos filmes da programação
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Entrevista a João Maia: "“Fascinou-me o ‘antes’ da fama do Variações"

Conversámos com João Maia, realizador de "Variações", o filme sobre o barbeiro que se tornou cantor pop e ícone do Portugal dos anos 80.

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João Maia esteve quase 20 anos até conseguir filmar a vida de António Variações, aliás, António Joaquim Rodrigues Ribeiro, barbeiro de profissão, que passou como um meteoro pela música portuguesa entre finais dos anos 70 e começo da década de 80, deixando nela uma voz, uma figura e um estilo únicos e indeléveis. O realizador (estreante) de Variações falou à Time Out.

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Entrevista a João Maia, realizador de "Variações"

1. 

Qual é a sua história deste Variações, um projecto que vem de muito longe?

Eu concorri a um apoio à escrita em 2003, mas comecei a recolher material em 2001, 2002. Quando era adolescente, vinha muito a Lisboa ver concertos das bandas que apareceram nos anos 80. Conhecia mais ou menos o repertório do António Variações, mas houve canções que ou não tinha ouvido devidamente na altura, ou me tinham passado ao lado. Ele tinha um repertório de observação dos portugueses, de homem que viveu fora do país. E depois, tinha canções íntimas sobre dúvidas de ser artista, sobre a existência dele. Curiosamente, quase não tem canções de amor. Tem uma que dedica à mãe, outra à Amália, e depois não há mais. Ora esse é o repertório típico de quem faz canções pop. E fui ver porquê. O António tinha dificuldade no amor. O amor era uma caixinha que ele estava sempre a abrir aos bocadinhos, e talvez só mais perto do final da vida é que tenha reflectido sobre isso.

2. 

Qual foi o maior entrave que teve?

Só ganhei o subsídio à oitava vez que concorri. Esse foi o maior entrave. Apesar de o filme ter, aparentemente, um grande potencial comercial, tentei fazê-lo fora do ICA (Instituto do Cinema e do Audiovisual) durante anos e não consegui. Fui sempre irredutível em relação a uma coisa: o actor tem que cantar. Vi biopics de cantores que usam o playback em sistema de baixo orçamento, de filme independente, e sempre os achei não credíveis. Sempre defendi que o actor tinha que cantar, que os músicos tinham que tocar, que tínhamos que fazer a banda sonora toda. O termos pouco dinheiro foi um óbice. Não podíamos fazer um filme destes sem o apoio do Estado, infelizmente.

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3. 

O seu interesse pelo Variações vem mais pelo lado da música, ou pelo da figura e do que ele representou no Portugal de então?

Ambos. O que mais surpreendeu no início foi ele ter gravado o primeiro disco com 37 anos. Pensava que era muito mais jovem. Ele morre com 39 anos, no ano em que faria 40. E à época, os músicos rock andavam na casa dos 20. Ele tocou com o Pedro Ayres, o Vítor Rua, etc., e era muito mais velho. A minha intuição foi: gostava de fazer um filme sobre um barbeiro que queria ser cantor. Era a frase que o resumia desde o início. Por que é que este barbeiro queria ser cantor?

4. 

Variações não é um biopic convencional. Mostra o “antes” da fama e o bocadinho depois de ele ser famoso. Omite como é que chegou à notoriedade, que é a rotina deste género de fitas.

Fiquei fascinado com essa coisa do “antes” e também tive acesso a alguns elementos que facilitaram o meu trabalho, as cassetes de que toda a gente falava. Ele estava sempre a dar cassetes às pessoas. Até a estranhos, “Leve lá.” E depois, ainda numa fase inicial do guião, imaginei este lado circular da história, de alguém que nasce na aldeia e faz uma última digressão à terra com uma pessoa que lhe é especial, vai mostrar quem é nos últimos tempos de vida. Só indo onde ele nasceu é que podia mostrar quem era. E ainda bem que fiz assim.

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5. 

Como é que o Sérgio Praia chegou ao papel? Foi por ter já interpretado o Variações na peça de Vicente Alves do Ó, Variações, de António?

Este filme esteve para entrar em produção em 2008 e eu conheci o Sérgio antes. Ele foi a primeira pessoa que veio ao casting, e muito antes desse monólogo que fez. Achei logo que ele tinha qualquer coisa de inexplicável. Todos os actores que fizeram o casting, e alguns deles grandes, não chegavam perto dele. Ele parecia ser o António, tinha qualquer coisa dele. Mas o filme demorou tanto tempo a fazer, que o Sérgio ligou-me – eu estava então a viver nos EUA porque apanhei aqui um período profissional difícil – a dizer que ia interpretar a peça. Fiquei triste de não o ter conseguido rodar antes. Mas compreendi-o e hoje, vendo as coisas à distância, com o desempenho que ele tem no filme, não posso dizer que isso não o tenha ajudado. A peça é muito diferente, o meu Variações fala pouco, mas provavelmente foi importante para o Sérgio.

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