Fallout
Jojo Whilden

‘Fallout’, um pós-apocalipse alternativo

A série da Prime Video é um cruzamento entre a ficção científica, o western e a sátira sócio-política disfarçada de especulação futurista.

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★★★☆☆

Perante o sucesso, no cinema, de filmes como Super Mario Bros: O Filme, e no streaming, de séries como The Last of Us e agora de Fallout (Prime Video), há quem ande a profetizar, em Hollywood como na imprensa especializada, que as adaptações de jogos de vídeo se preparam para substituir os filmes de super-heróis (que têm estado a perder gás e receitas nas bilheteiras) nas preferências do público. Ainda é muito cedo para fazer previsões destas, embora possamos estar a assistir ao início de uma nova tendência na produção. Sem esquecer que já há algum tempo, de forma irregular e com resultados comerciais nem sempre satisfatórios, que os jogos de vídeo alimentam a indústria cinematográfica americana.

Fallout glosa um dos temas favoritos da ficção científica, o mundo que poderá seguir-se a um conflito nuclear que devaste o planeta e arrase a humanidade quase por completo, e tal como The Last of Us, foi concebida para poder ser visto e apreciado quer por quem conhece e joga o jogo em que se baseia, quer por quem não é gamer e nunca ouviu falar dele. Ou seja, para manter o público original ao mesmo tempo que se conquista um novo. A história começa num retrofuturo alternativo que se assemelha aos EUA dos anos 50, embora com tecnologia mais avançada, e passa depois para 200 anos após o holocausto atómico que atingiu o planeta e deu origem a duas sociedades. Uma subterrânea, a dos sobreviventes que tinham abrigos atómicos, ordeira, nostálgica e idealista, e outra dos que ficaram na superfície e se safaram, caótica, implacável e mortífera, onde pontifica a Irmandade do Aço, uma organização tecno-militar que usa terminologia e uma estrutura de inspiração medieval.

Fallout situa-se num cruzamento entre a ficção científica pós-holocausto nuclear, o western pós-apocalíptico e a sátira sócio-política disfarçada de especulação futurista, tudo temperado com bastante humor negro e uma violência com forte propensão para o gore, que no entanto é tão obviamente exagerado que se torna cartoonesco. As personagens principais, do Ghoul (Walton Googins), a estrela de filmes de cowboys do mundo pré-apocalipse que se transformou num pistoleiro mutante, à jovem Lucy MacLean (Ella Purnell), uma moradora subterrânea que procura o pai, Hank (Kyle MacLachlan), raptado por bandidos da superfície, passando por Maximus (Aaron Moten), o escudeiro da Irmandade do Aço que fica com a armadura do seu cavaleiro morto por um urso e se faz passar por um destes, evoluem por um mundo arrasado e povoado por perigos vários. Uns com forma humana, outros produto das alterações provocadas pela radioactividade (desde baratas matulonas que comem de tudo a um monstro aquático com dedos em vez de dentes na bocarra). Mas há também coisas a passarem-se debaixo de terra, e aí, Norman (Moisés Arias), o irmão de Lucy, vai ter um papel muito importante.

Os autores (entre os quais encontramos Jonathan Nolan, irmão de Christopher Nolan) fizeram com que a série tenha personalidade e arcabouço narrativo, ao invés de se parecer com a mera transcrição visual de uma demanda de jogo de vídeo e funcionar segundo a lógica destes (tirando uma ou outra facilidade e inverosimilhança aqui e ali), e as personagens são consistentes e plausíveis, e não bonecos primários e estereotipados na caracterização e no comportamento. E os meios investidos em Fallout fazem com que não tenha aquele aspecto de série B remediada e presa por fios que compromete muitos dos filmes deste género feitos até agora. Não é por ter sido devastado que o mundo pós-apocalipse nuclear tem que ser pindérico.

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