Não há outro realizador como Wes Anderson. O mestre do estilo, o defensor do irrisório, o apreciador de paletas de cor muito específicas… Independentemente do gosto pessoal, os seus filmes são sempre espantosos. Ilha dos Cães é o mais recente, e o segundo de animação, após O Fantástico Senhor Raposo. Uma adorável aventura canina que se passa numa ilha perto do Japão para onde todos os canídeos do país foram banidos depois de um surto de “gripe canina”. Tem toda a riqueza visual que se espera de um filme de Wes Anderson, bem como uma mensagem altamente positiva sobre a importância da tolerância. Ah, e Harvey Keitel a uivar.
É difícil imaginar uma coisa mais dura de fazer do que Prece ao Nascer do Dia, que estreia esta quinta-feira nas salas portuguesas. Filmado numa prisão de Banguecoque e baseado na história verdadeira do boxer toxicodependente Billy Moore, o filme realizado por Jean-Stéphane Sauvaire precisou de um actor principal preparado para ser ferido em combate em nome da arte. Esse actor é Joe Cole, o inglês de 29 anos que ficou conhecido com a personagem de John Shelby na série Peaky Blinders. Como Cole explica à Time Out Londres, não foi preciso pensar duas vezes para alinhar.
Porque decidiste avançar com uma loucura destas?
Andava sempre à procura de um papel assim. Aqueles filmes sobre homens na prisão, como o Fome (2008), para mim são os mais desafiantes e envolventes. Fiz um filme chamado Jovens Delinquentes em 2012, passado numa instituição de reabilitação, mas aqui é todo um outro nível: interpretar um homem real, toxicodependente, um gajo fascinante – com uma estrutura física e emocional que implicava pôr tudo em cima da mesa, usando o meu corpo como ferramenta. Pensei: “Isto vai ser tramado. Bora lá.”
Há cenas em que parece que te estás a magoar mesmo a sério.
Queríamos fazer uma coisa o mais autêntica possível, por isso foi preciso levar uns encontrões, murros e arranhões. O Jean [-Stéphane Sauvaire] filma cenas muito longas, por isso cada pêra e cada pontapé que se vê corresponde à realidade. A maquilhadora passou a maior parte do tempo a tentar tapar cortes e feridas monumentais.
E não foi intimidante trabalhar com boxers tailandeses e ex-reclusos?
Há uma cena onde eu vou a andar da prisão para o ringue – e à minha volta é só prisioneiros de verdade. Mas com o treino que fiz, senti-me fisicamente muito, muito forte nesse momento. Não que isso interesse para alguma coisa quando o gajo à tua esquerda matou três pessoas e esteve dez anos preso; e o do outro lado foi considerado um dos mais perigosos de toda a Tailândia. Por isso, fui a andar por aquele corredor fora sempre a pensar: “Ok, está tudo bem.”
Quando decidiste ser actor, alguma vez imaginaste que farias uma coisa assim?
Meu, eu nunca pensei que ia ser actor. Na terra de onde eu venho, Kingston, ninguém é actor. Foi só depois de falhar em muitas outras coisas, de me meter numa data de sarilhos, ser preso e dar cabo do juízo aos meus pais, que comecei a representar. Fi-lo quando já não tinha mais nada, mas com todas as minhas forças.
Depois de uma passagem pela série de adolescentes Skins, chegaste a Peaky Blinders. Isso foi uma reviravolta no jogo?
É sem dúvida o papel pelo qual as pessoas mais me reconhecem – esse e o de Black Mirror, claro. Mas sei lá. A verdadeira estrela de Peaky Blinders é o Cillian [Murphy]. Foi uma experiência fantástica, mas queria dar um passo à frente, fazer coisas como este filme. Já estava tipo: “Muito bem, mais alguma coisa? Não? Tudo bem, deixem-me ir então fazer outras coisas.”
E estás pronto para dar o passo para Hollywood?
Já dei. Fiz alguns filmes nos Estados Unidos, incluindo um com a Julia Roberts e o Chiwetel Ejiofor – O Segredo dos Seus Olhos (2015). Também participei no Green Room (2015) e em Marcas de Guerra (2017), um filme com Miles Teller sobre o transtorno de stress pós-traumático dos soldados americanos. Adoro trabalhar lá, mas também gosto muito de Londres. Gosto de jogar futebol e de fazer outras coisas que provavelmente na América não são tão comuns… (risos).