Intérprete de filmes como Fargo, Zodiac ou O Fundador, e de séries como American Horror Story, John Carroll Lynch é um dos mais conhecidos actores de composição americanos. E coube-lhe trabalhar com Harry Dean Stanton no seu primeiro filme atrás das câmaras, o derradeiro do seu grande e falecido colega.
Joe Wright é conhecido sobretudo por filmes retintamente britânicos, como Orgulho e Preconceito, de 2005, ou Expiação, de 2007. Depois do fracasso de Pan – Viagem à Terra do Nunca, de 2015, regressou agora à sua terra de origem com A Hora Mais Negra, uma exploração intimista da decisão de Winston Churchill enfrentar Hitler, com um Gary Oldman em plena forma, que desaparece no papel do primeiro-ministro britânico.
Qual era a tua relação com Churchill antes deste filme?
Não posso dizer que fosse um dos meus heróis. Sabia o que maior parte das pessoas aprende sobre ele na escola no Reino Unido. Até que recebi este argumento, e fiquei chocado por me identificar com ele.
Em que sentido?
É um homem que teve de cometer muitos erros, e deu por si numa posição de extrema responsabilidade. Teve uma grande crise de confiança e foi capaz de transformar essas dúvidas em algo positivo e seguir em frente.
Leste o argumento na sequência do fracasso de Pan – Viagem à Terra do Nunca?
Sim. Em parte, foi isso. Mas também teve a ver com responsabilidade de ser pai e de ser homem. Churchill neste filme é quase um arquétipo de uma parte de mim que lida com essa responsabilidade. Investi muito de mim no argumento.
Como é que lidas com as restrições impostas por uma história baseada em acontecimentos reais?
Muitas vezes essas limitações são libertadoras. Depois é só uma questão de encontrar pequenos detalhes que vão ao encontro da minha interpretação dos eventos. Às vezes ouvia uma história qualquer e isso ajudava-me a perceber o que ele estava a passar na altura.
Sabias que o Christopher Nolan estava a trabalhar no Dunkirk quando aceitaste o projecto?
Não. Só soubemos do filme do Nolan durante a pré-produção. Fiquei um pouco alarmado, mas quando soube que não havia um Churchill no filme do Nolan fiquei mais descansado.
Como é que foi o processo de maquilhagem do Gary Oldman?
Passámos seis meses a trabalhar nisso. Ao princípio exagerámos. Parecia que tinha uma galinha morta na cara. A seguir já era de menos. Por fim tentámos, e espero que tenhamos conseguido, encontrar um equilíbrio entre ele parecer-se fisicamente com o Churchill e o público conseguir apreciar a riqueza da sua interpretação.
Acreditaste sempre que a maquilhagem ia funcionar?
Sim. Lembras-te de O Avô Descarado? Aquele filme com o Johnny Knoxville? Achei que a maquilhagem era muito boa, e pensei: “Se conseguirmos fazer algo tão bom como o Johnny Knoxville em O Avô Descarado vamos sair-nos bem”.
Essa referência é surpreendente.
É um bom filme, eu gosto dele. É muito engraçado.
O arco narrativo de Chamberlain no filme é quase tão interessante como o de Churchill. Quiseste fazer certas coisas com ele para surpreender o público?
Tinha de fazer um filme cativante a partir de um argumento que se resumia, no geral, a velhos brancos a falarem uns com os outros em salas. Então tive esta ideia de fazer algo próximo de um thriller político. Pelo menos na segunda parte. Uma das formas de consegui-lo era garantindo que os argumentos de Chamberlain e Halifax eram tão válidos como os de Churchill. De tal forma que, caso as pessoas saíssem do conforto do presente, esquecessem aquilo que sabem e se imaginassem naquela altura, dessem por elas a pensar sobre quem tinha razão. Porque Chamberlain não era má pessoa. A história provou que ele estava errado, mas ele acreditava genuinamente que estava a fazer o mais correcto.
Eu saí do filme a simpatizar com ele.
Sim. E há outras guerras, mais recentes, como por exemplo a invasão do Iraque, em que eu estaria do lado de Chamberlain e de Halifax.
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